Zumbis

Crítica – Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Novo Snyder produzido pela Netflix mira retorno à velha forma, mas não consegue instigar como já fez no passado

Ame-o ou odeio-o.

Talvez, seja esta a frase que mais se ouve quando falamos de um dos cineastas mais populares na Hollywood atual: Zack Snyder.

Não dá para negar que o diretor americano de 55 anos de idade, tenha ao longo da carreira criado uma legião de fãs com seus trabalhos, em especial, no quesito visual onde mostrou-se alguém diferenciado quando surgiu ainda na primeira década deste século.

Todavia, Snyder nunca mais conseguiu repetir seus melhores trabalhos para o cinema, como o fez no começo de sua trajetória dentro da indústria. Isso o coloca dentro do grupo de cineastas que sofrem da ‘síndrome dos novatos’, constituído de diretores renomados que possuem filmografia irregular, mas que nunca conseguiram reprisar seus melhores projetos que aconteceram bem no comecinho de suas carreiras profissionais.

A lista é boa: Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho; Cisne Negro), M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido; Corpo Fechado) e Tim Burton (Os Fantasmas Se Divertem; Edward Mãos de Tesoura).

(Observação: Vale lembrar que Shyamalan tem apresentado incrível recuperação com dois acertos em cheio, Fragmentado e Vidro)

Agora, junta-se a lista Zack Snyder, que continua não conseguindo reviver seus melhores dias. Nem mesmo retornando às raízes na nova aventura de ação zumbi Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, produção original da plataforma Netflix.

O longa de Snyder nos transporta para Las Vegas, que sofreu uma insurreição zumbi. Lá, uma gangue de mercenários liderada por Scott Ward (Dave Bautista), se une na tentativa de recuperar uma fortuna de um mandachuva.

Quem é Zack Snyder?

Antes de embarcar no cinema, o cineasta teve uma carreira como diretor de publicidade (o que explica alguns de seus projetos posteriores). Mas, quando entramos em terreno fílmico, é inegável que seus três primeiros longas-metragens, que são Madrugada dos Mortos (2004), 300 (2007) e Watchmen (2009), sejam considerados o melhor que Snyder já fez até hoje.

Mais curioso ainda, é que estes três definem o que Army of the Dead: Invasão em Las Vegas gostaria de ter sido, e não foi capaz.

Resumindo:

O remake do clássico de 1978 dirigido pela lenda George A. Romero representa o comentário social sobre o consumismo americano, com os sobreviventes curtindo a vida adoidados dentro de um shopping, enquanto uma horda de mortos-vivos espera do lado de fora para entrar e consumir tudo o que aparecer nos corredores das lojas. Bem parecido com a ‘Black Friday’, não acham?

Enquanto, 300 foi a produção que fez o diretor começar a mostrar seu estilo autoral visual. Como esquecer a cena do Rei Leônidas esquartejando seus inimigos com um bom uso de câmera-lenta, alternando com um aumento de velocidade, evitando cortes e deixando a cena mais limpa para percebermos os movimentos coreografados e cada uma das mortes pela espada e lança do personagem.

Já, Watchmen visa ser a mistura dos dois anteriores. Metade comentário social ou denúncia, metade estilo. E, o fez em notas altas!

A cidade do pecado

Chegando em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas da Netflix, observamos que o cineasta almeja estabelecer um subtexto sociopolítico no enredo, que inclui: uma crítica à maneira como o americano tenta “solucionar” seus problemas com forasteiros (leia-se, imigrantes); a boa e velha ambição bélica do homem no mundo; o recrutamento em cultos religiosos; além do repeteco sobre consumismo (capitalismo), com um chão repleto de mortos e sangue, enquanto chovem dólares pelo ar.

No entanto, de todos os temas pinçados, o mais desperdiçado foi do homem de família que faz de tudo para proteger sua instituição. Nesse momento, Snyder criou um paralelo entre o personagem interpretado por Dave Bautista e o líder dos zumbis alfa, que tem a capacidade de pensar, e acima de tudo, sentir.

Agora, por que todo esse arsenal de conteúdo não consegue passar do fator de reconhecimento em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas?

Motivos: uma narrativa que se preocupa demais em ser um marombado filme de ação (teremos luta coreografada, do tipo corpo a corpo, entre homem e zumbi); mas principalmente, pela superficialidade emocional ao dispor tal material.

Mesmo como forma de entretenimento, esta produção original Netflix não passa do ordinário. Uma vez que, estando na gloriosa Las Vegas, o playground da América, poderiam ter explorado mais do que apenas três cenários!

Antes, não tivesse usado tanto tempo (50 minutos) para fazer a introdução e apresentação das personagens, além de outros problemas no roteiro, como um helicóptero que parte antes do ponto de partida, e consegue chegar em seu destino, depois de alguém que estava montado a cavalo. Um show de horrores (zumbis à parte)!

Brucutu sentimental

Se há algum destaque positivo em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas, este vem pelo astro Dave Bautista, que tem se mostrado muito mais do que apenas músculos e testosterona.

O ex-fisiculturista e lutador profissional da WWE (praticamente, uma escola de atuação) está caminhando, passo a passo, para entrar no hall dos grandes atores brucutus do cinema, como: Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Mel Gibson, Bruce Willis, Jason Statham, Dwayne Johnson, e tantos outros…

O que todos estes homens citados têm em comum?

São atores que vão além do estereótipo do macho alfa quebra-tudo. Alguns destes se destacam, inclusive, como ases da comédia. O próprio Bautista é um ótimo exemplo disso, no papel de Drax o Destruidor na franquia da Marvel Guardiões da Galáxia, em especial, o segundo longa onde rouba a cena.

E, como não lembrar dos primeiros minutos de Blade Runner 2049 (2017) de Denis Villeneuve, quando ele ofusca o galã Ryan Gosling em cena.

Nesta produção Netflix, Dave Bautista precisou de apenas uma cena com a atriz Ella Purnell, que faz o papel de sua filha, para demonstrar, vejam só, delicadeza debaixo de muito pesar e solidão. Uma tocante exceção no meio de tanto caos.

Conclusão

No fim, Army of the Dead: Invasão em Las Vegas ainda não figura como o projeto de recuperação do icônico Zack Snyder, que depois de sua tríade inicial, passou por uma fase videogame com A Lenda dos Guardiões (2010) e Sucker Punch – Mundo Surreal (2011), sem atrapalhar ou acrescentar nada.

Depois surfou nas ondas da DC Comics com resultados muito questionáveis, como: o correto, porém insosso O Homem de Aço (2013); a hecatombe Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), que vai além das Marthas desse mundo; e duas versões de Liga da Justiça, a primeira (2017), que são divididos os créditos com o diretor Joss Whedon, é um retalho mal costurado (porém, compreensível diante questões pessoais), e a mais recente, batizada como “Snyder Cut” (2021) é menos uma obra fílmica, e mais um exercício caça-níquel de pura vaidade.

Não levem a mal! Esta produção original da Netflix é, provavelmente, o melhor Zack Snyder em mais de uma década! Mas, convenhamos, ele desceu demais a ladeira, tanto que qualquer subida é progresso.

Para os que apreciam Snyder, independente do valor do material, fica o cheirinho de franquia no ar!

Como diria Bart Simpson – “Ay, caramba!”

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