Ação Feminina

Crítica – As Agentes 355

Produção de espionagem protagonizada por elenco feminino estelar, perde oportunidade progressista pela história e direção burocráticas

Temos uma palavra que define muito bem qual é o pensamento que fica na cabeça, logo após o término da sessão de As Agentes 355, que chega aos cinemas em todo o país: desperdício!

Não do seu tempo, uma vez que encontrará algumas qualidades no longa-metragem estrelado por um quinteto barra-pesada composto pelas atrizes Jessica Chastain, Penélope Cruz, Fan Bingbing, Diane Kruger e Lupita Nyong’o. Agora, o real desaproveito acontece pela proposta de criar um novo material original, ou seja, algo que não foi baseado em quadrinhos, séries de televisão ou qualquer outra coisa, onde teremos as mulheres à frente em uma obra do gênero ação, bem mais familiarizadas pelos seus heróis masculinos.

Quer ver um desperdício ainda maior?

A produção em questão teve financiamento que saiu diretamente do bolso das cinco atrizes destacadas, que tiveram em Jessica Chastain, uma mentora e líder, que também atuou como produtora do filme dirigido por Simon Kinberg.

Pronto! Já chegamos no maior problema de As Agentes 355: o roteirista e diretor Simon Kinberg!

O profissional de Hollywood costuma receber uns presentões da indústria cinematográfica de dar inveja, em vista que já assumiu o controle criativo de algumas marcas extremamente populares, como Sherlock Holmes e X-Men, por exemplo. Porém, é triste e muito prático afirmar que Kinberg, até o momento, mostrou-se alguém incapacitado de elaborar uma história de modo realmente empolgante ou visceral.

Seus únicos acertos na carreira são: Sr. e Sra. Smith (2005) e X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014). Só isso! Mais nada!

Recentemente, resolveu arriscar dirigir algumas produções. Começou com X-Men: Fênix Negra (2019), que tinha uma linha narrativa clara e interessante, entretanto pecava na entrega de um conteúdo sem apetite ou qualquer vibração emocional de valor. Agora, ele volta à cadeirinha do diretor com mais um roteiro de sua autoria (desta vez em parceria com Theresa Rebeck) em As Agentes 355.

Quando uma arma ultra secreta cai nas mãos de um mercenário, a agente curinga da CIA Mason “Mace” Brown (Jessica Chastain) precisará unir forças com a agente alemã Marie (Diane Kruger), a aliada do MI6 e especialista em computação Khadijah (Lupita Nyong’o), além da habilidosa psicóloga colombiana Graciela (Penélope Cruz) em uma missão letal e vertiginosa para recuperá-la. À medida que a ação se espalha pelo mundo, dos cafés em Paris aos mercados de Marrocos, chegando nas opulentas casas de leilões de Xangai: vemos que o quarteto de espiãs forjou uma lealdade tênue que pode salvar o mundo – ou acabar matando cada uma delas.

Progressista no papel, antiquado na prática

Só de ler a sinopse acima, já deu para perceber que em matéria de conteúdo não teremos nada de novo aqui!

Essa ideia de arma ultra secreta roubada pelo vilão que quer causar uma suposta Terceira Guerra Mundial já foi vista, revista, reciclada, remodelada, re-reciclada novamente incontáveis vezes, especialmente dos anos 1980 até os dias atuais.

Era mais do mesmo nos filmes estrelados por machões brucutus e continua mais do mesmo nas produções protagonizadas pela mulherada boa de briga!

Pior que isso foi além do texto, de modo que a direção de Simon Kinberg se mostrou ainda mais burocrática do que vimos em X-Men: Fênix Negra. Ali havia uma intenção lúcida de tentar tornar o material um tanto mais dramático, menos ‘hahaha’ e mais denso, porém acabamos recebendo um material sem qualquer traço de nuance, portanto carregado, compacto, mas acima de tudo, frio demais para o espectador se relacionar com o enredo em questão.

Aqui em As Agentes 355 não temos uma narrativa tão cerrada, mesmo porque temos uma tentativa de humor que acerta e erra o alvo alternadamente, porém, algo se repetiu da produção anterior: a frieza na amarração dos fatos e sequências vividos pelas agentes talentosas.

O que salva As Agentes 355 de ser um completo desastre são as atrizes classe A no centro da história. Todas apresentam predicados aqui e acolá em determinados momentos da narrativa, mas apenas Diane Kruger e Penélope Cruz realmente brilharam intensamente.

A atriz de 45 anos de idade nascida na Alemanha não precisou de mais de dois minutos de projeção para mostrar que ela é uma agente nata; enquanto a talentosíssima atriz espanhola representou (surpreendentemente) um lado mais cômico.

Agora, quando precisou de um pouco mais de drama, logo após o segundo ponto de virada do roteiro: todas (!) elas mandaram bem!

Sem exceções!

Uma pena que esta produção de ideal progressista onde temos algumas mulheres de grande inteligência e competência, atuando tanto nos bastidores quanto em frente às câmeras de modo astucioso, teve de lidar com algo tão quadrado e protocolar no nível de As Agentes 355.

Se tivermos uma sequência da produção de espionagem, talvez seja a hora de pensar em alguém diferente para desenvolver e dirigir tamanhas estrelas de cinema, que aqui brilharam por conta própria.

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