O filme adolescente é um gênero sério, e isso já deveria estar impregnado na cabeça de realizadores há muito tempo. Se os anos 1980 foram marcados pelos clássicos juvenis que até hoje são sinônimos de divertidas matines televisivas, a figura do jovem é fundamental desde muito antes, de William Wyler e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), passando pela figura clássica de James Dean em Juventude Transviada (1955), e nos anos 1970 e a definição seminal dos jovens durante a contracultura em A Última Sessão de Cinema (1971), Corrida Sem Fim (1971) e American Graffiti (1973), até chegar na representação cômica e autoirônica de John Hughes (Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões) nos anos 1980 e o romantismo sincero de Richard Linkater (Jovens, Loucos e Rebeldes) na década seguinte. Isso só no cinema americano e sem levar em conta a televisão, mas só nesse pequeno recorte é visível a concretude na representação audiovisual do jovem, algo que não permite mais nenhum tipo de inocência ou ingenuidade nesse retrato.
E a ingenuidade citada aqui não é algo que está intrínseco aos personagens, estes podem claro ser inocentes, mas é realizar um filme que parece não levar em conta esse processo histórico do cinema na representação do corpo e da mente adolescente. Os exemplos não deixam que uma obra feita em 2017 siga clichês e convenções que já não fazem sentido e parecem seguir sem esse senso de que tudo aquilo já foi dito da mesma maneira inúmeras vezes. Bye Bye Jaqueline é um filme contaminado por este sentimento, uma inocência incrível ao falar da juventude, parecendo que existe ali um olhar vindo de cima, que não consegue estar dentro daquela vivência e por isso é incapaz de compreender a geração da qual se fala.
Esse talvez seja um sentimento muito presente no longa-metragem realizado no Paraná, uma obra que parece não pertencer ao mundo que decide falar. Bye Bye Jaqueline conta a história da garota que batiza o filme, uma jovem de 16 anos, estudante de um colégio de classe média, aproveitando-se de sua bolsa devido a sua participação no time de vôlei e nutre uma paixão por Fernando. A garota vive suas aventuras acompanhada de sua melhor amiga e é importunada pelo garoto que parece até ter uma obsessão por ela, Marchesi. E a sensação é sempre que esse retrato não é munido de sinceridade, como se apenas essa trama de romance bastasse para agradar o público adolescente.
Bye Bye Jaqueline não consegue transformar esse simples fato, essa trama básica que se resume em uma garota gosta de um garoto, em algo mais substancioso, o que se vê é algo que está sempre na superfície. O espectador vê a garota se apaixonando, ficando com o menino e tendo os percalços de uma relação, nada que fuja do simples demais para estar numa tela de cinema. E se Bye Bye Jaqueline não é um filme de ação, de acontecimentos marcantes, também não consegue transformar esse fato simples e comum em algo que trace um panorama dessa juventude, que revele sentimentos íntimos e honestos de uma faixa etária. Resta apenas o corpo juvenil e seus típicos afazeres, a trama de amor é muito básicapara dialogar com o público.
Muito disso se deve ao fato dos personagens não parecerem figuras calcadas numa profundidade humana, com características próprias, singulares dentro de uma generalização que seria a geração Facebook ou algo do gênero. O longa realmente prefere a caricatura, registra com a câmeras lugares comuns que são ditos por qualquer um ao falar da adolescência, aqueles meninos que não largam o celular, os garotos que só querem partir o coração de meninas ficando com todo mundo, as jovens tapadas que parecem estar alheias de tudo e o excessos de gíria que só parece algo forçado. Nada disso revela um caráter de sinceridade, mas sim a constatação de um olhar que não sente a obrigação de fazer parte daquele mundo.
Nesse apanhado de clichês quase novelescos, o menino que inventa mentira para afastar os mocinhos, ou a melhor amiga que esconde segredos em torno daquele relacionamento, o roteiro de Wellington Sari (um excelente crítico de cinema, diga-se de passagem) parece contentar-se a entregar uma trama de convenções que não se atém a essa representação do jovem, que parece subestimar esse gênero cinematográfico. Bye Bye Jaqueline resulta em um filme com pouca estrutura, sem bases sólidas para que essa trama realmente signifique algo além de um romance colegial.
O longa de Anderson Simão é apenas essa caricatura adolescente e ainda que algumas ideias visuais podem ser interessantes, como a luz do celular iluminando os dois adolescentes apaixonados dentro de um auditório escuro, mostrando que ambos estão conectados, isso parece apenas mais uma das superfícies do longa. Algo que lembra um simples jogo visual, uma sacada que poderia estar em qualquer filme, não se referindo a um personagem ou a uma geração específica.
Seria até cruel criticar a atuação do inexperiente elenco juvenil, uma vez que é difícil conectar-se com personagem sem personalidade, que pedem uma reprodução de um estereótipo atual. Há uma falta de sensibilidade em relação ao público e ao retratado em Bye Bye Jaqueline o que faz do filme uma simples cópia pouco consciente da matéria que decide filmar. O jovem deveria ser levado um pouco mais a sério nesse filme adolescente.