Maldição

Crítica – Céu Vermelho-Sangue

Produção da Netflix mistura ação e terror de forma inusitada, entretendo sem conseguir aproveitar todo o potencial narrativo

Um tipo de filão que, vez ou outra, aparece nas grandes salas de cinema pelo mundo, assim como também nas plataformas de streaming são os ‘filmes de avião’. Desnecessário explicar o porquê são chamados assim!

Do mesmo modo que outros tantos filões cinematográficos, os ‘filmes de avião’ foram evoluindo com o tempo, apesar de que na maioria dos casos, rondam o gênero ação misturado com uma boa dose de suspense, como: Força Aérea Um (1997) de Wolfgang Petersen; Plano de Voo (2005) de Robert Schwentke; Sem Escalas (2014) de Jaume Collet-Serra; e 7500 (2019) de Patrick Vollrath, que está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.

Entretanto, também produzem filmes do tipo, voltados mais para o drama, como é o caso do mais que competente Sully – O Herói do Rio Hudson (2016) de Clint Eastwood. Sem esquecer a excepcional paródia farsesca Apertem os Cintos… o Piloto Sumiu! (1980) de Jim Abrahams/David Zucker/Jerry Zucker.

Chegando em Céu Vermelho-Sangue, nova produção original da Netflix, veremos que este longa-metragem alemão se encaixa mais no primeiro grupo, com um diferencial que foge de qualquer parâmetro imaginado para obras do estilo. O filme dirigido por Peter Thorwarth plana pelo gênero do terror, deve-se dizer, de forma bem satisfatória.

O(a) leitor(a) pode estar se perguntando: como?

Bom, não cabe ao redator de textos revelar tais detalhes, porém, pode-se afirmar que o inegável Serpentes a Bordo (2006), estrelado pelo adorado Samuel L. Jackson ganhou um companheiro na categoria ‘filmes de avião que não têm como explicar!’

Em Céu Vermelho-Sangue, acompanhamos mãe e filho durante uma viagem de avião, onde tudo corria de acordo com o esperado, até o momento que um grupo de terroristas tenta sequestrar o voo. Ela logo percebe que, para proteger seu filho, precisará revelar o segredo que tentou esconder sobre a doença que assola seu corpo.

Por essa não esperava!

Sempre é deveras louvável quando artistas, na forma de preferência, ultrapassam certos limites na tentativa de apresentar algo mais original, ou, ao menos pensados um pouco fora da caixinha.

Na real, tudo o que o roteiro escrito pela dupla Peter Thorwarth e Stefan Holtz fez foi juntar dois elementos diferentes, e tentar criar uma receita saborosa dessa tentativa. Pelo espectro do entretenimento, Céu Vermelho-Sangue vai às alturas, definitivamente. Contudo, fica a sensação de que os criadores de tal trama inesperada, não conseguiram aproveitar todo o potencial dramático deste material.

Quantas vezes já ouviram de alguém que algo na vida não tem conserto?

Algumas vezes, imagina-se.

Então, essa é a perspectiva da personagem Nadja (Peri Baumeister), que alguns anos antes foi amaldiçoada, e agora, tem uma vida restrita que lhe impede de fazer tantas coisas, inclusive, de ser a mãe que gostaria para o pequeno e corajoso Elias (Carl Anton Koch).

O duo Thorwarth/Holtz teve a chance de criar um contraponto muito interessante entre terroristas e a protagonista desta história, mas não se aproveitaram muito disso. Ao invés, nivelaram tais personagens pela frieza selvagem dentro de cada um destes.

Sorte maior para a surpreendente Peri Baumeister que teve a oportunidade de revelar os dois extremos que habitam dentro de Nadja. De um lado, a mãe afetuosa e cuidadosa; do outro, a selvageria de uma mulher que faria de tudo, literalmente, para preservar o bem-estar de sua cria.

Cenário de terror

Céu Vermelho-Sangue tem quase duas horas de duração, sendo que a meia hora final é o clímax para os aficionados no gênero do terror. Se a narrativa, quase que perde todo o contraste, ela ganha elementos de ação e pavor que, possivelmente, não pegarão o assinante da Netflix desprevenidos, mas devem fascinar pela construção de um cenário caótico onde parece não haver mais escapatória, e não se sabe mais a quem recorrer.

Lembrando que esta é uma produção europeia, logo, fugiremos do típico final hollywoodiano. No lugar, estabeleceram uma boa ironia para a resolução da história, onde o europeu branco percebe que o homem muçulmano foi aquele que protegeu, e não o que ataca.

É sobre isso do que se trata o longa Céu Vermelho-Sangue: subverter as aparências e elementos pré-estabelecidos pela norma.

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