Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola não tem lá muitos pontos altos. Talvez tenha até que seus momentos envolventes no início da trama, mas após o nó da narrativa as coisas desabam para um plano bem pouco carismático. Dirigido por Fabrício Bittar, o qual já havia se envolvido com Danilo Gentili em outros projetos – como o filme Politicamente Correto (2014) -, talvez falte ao roteiro mais originalidade e perspicácia, uma narrativa mais amarrada e personagens que demonstrassem maior apelo empático.
Tudo começa com o aluno Pedro (Bruno Muhoz). Após a morte de seu pai, este já não consegue manter o desempenho alto – um dos melhores da sala – como antes. Os seguidos 9,5s se transformaram em 4, 3… Ele está no último ano do fundamental. É franzino, tímido, vulnerável, introvertido. Agora precisa tirar 10 na última prova do ano para não ser reprovado. Desesperado, ele ouve falar de um sujeito conhecido por ter sido o pior aluno daquela escola (Danilo Gentili): fazia bagunça, caçoava dos professores, desviava a atenção da aula, o escambal e nunca estudava… Acontece que, contudo, sempre manteve as notas altas, pois sabia muito bem colar. Pedro vai atrás desse sujeito, e este se torna seu mentor para que de um “fracassado” Pedro se torne um “popstar” no colégio, o bad boy: o Pior Aluno vai transformar Pedro do melhor da classe ao pior aluno do colégio, e assim o fará passar de ano sem ter que estudar para a prova final – colando. Contudo, para serem o pior aluno da escola também terão de enfrentar o malvado diretor, vivido por Carlos Villagrán.
A ideia é a seguinte: a escola é chata, é um lugar onde te impõem regras as quais lhe direcionaram para um estilo medíocre de vida. Seguindo as regras, você terá uma rotina monótona e entediante, massificada. Será um bom aluno, depois um bom estagiário, um bom empregado e assim, até a aposentadoria, passará sua vida nessa quadradice – do lado de dentro de um escritório. Esta temática não é inédita. Contudo, o que Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola “inova” ao pensá-la é propor, ao invés de uma crítica ao sistema como o feito pela banda Pink Floid em “Another Brick in the Wall” (ou em filmes, indo atrás de exemplos mais comerciais, como Sociedade dos Poetas Mortos e Clube dos Cincos… ou, agora na Nouvelle Vague, em Os Incompreendidos, de Truffaut, talvez o melhor filme para se pensar sobre o assunto), uma solução um tanto pouco embasada, que seria tentar curtir a vida radicalmente e se livrar do tédio com prazeres vis, festas, ostentação e coisa do tipo.
Logo, ao invés de ser um filme que se propulsiona contra o conservadorismo dos modelos sociais de massificação, Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola na verdade reforça, e muito, os traços conservadores de nossos tempos. Até mesmo porque, nesse item dos prazeres vis, o que o roteiro faz é uma grande defesa do pensamento falocêntrico e sexista, dos padrões de virilidade e “macheza” que deve ser cobrado dos homens (nada de “cabaços”!), da gordofobia (há muita gordofobia no filme…) e aquele apelo à competição e instinto individualista – nada de fraternidade e piedade, lá fora no mundo estão todos fazendo piadas de você! Se você não ri das piadas que fazem consigo é porque não é inteligente o suficiente para rir de você mesmo – mesmo que isso reforce preconceitos.
Temáticas à parte, os primeiros minutos do filme acabam por não ter nada de original, nada de destacado, mas não é “desastroso”. Contudo, quando o problema a ser resolvido pelo protagonista é introduzido, e assim temos a trama principal do longa estabelecida, o roteiro se perde nos episódios nos quais Pedro persegue o título de “pior aluno da escola”: ele tem de passar por diversas missões, como colocar baratas nas coisas da professora, colar papel no teto, roubar uma vã da escola e coisas assim… Tudo é levado à cabo com um humor que, na mesma medida que é apelativo, é infantilóide. Chega a ser cansativo rever tantas piadas tão pouco elaboradas como aquelas que envolvem fezes, parte íntimas e tiradas que são muito clichês, banais.
Contudo, não é só nas piadas que o filme é clichê. O miolo da narrativa é todo redundante, repetindo sempre as mesmas narativas, sempre as mesmas ideias, repetindo, repetindo e repetindo as mesmas situações, trocando-se apenas a roupagem (muda a traquinagem, muda a piada apelativa… mas é sempre uma traquinagem atrás de outra, e piadas apelativas atrás de outra)… Tenta-se fazer rir a partir das piadas exageradas, mas se esquece não só de desenvolver a história como também de desenvolver os personagens: estes são apáticos, incomunicáveis, artificiais, frios… Não se nota a empolgação, o medo e todos os sentimentos que deveriam sentir em cena nos diferentes pontos da narrativa toda. Logo, não há apelo sentimental e empático o filme todo, e as piadas saturam. Além de todos os preconceitos que, se olharmos nas polêmicas recentes, talvez já tenham sido mais que expostos…
Como Ser o Pior Aluno da Escola talvez tenha alguma coisa de querer imitar John Hughes. Assumo não ser o maior fã do diretor do mundo, mas certamente este tem uma sensibilidade empática, um know-how enternecedor, sentimental que, afinal de contas, é necessário se quer-se ter alguma catarse. Como Ser o Pior Aluno da Escola perde toda a sensibilidade e beleza. Não há nada de tocante. É uma bruta e mal lapidada narrativa, uma história apática, que apenas acaba por ser uma desculpa para horas de piadas estabanadas e exageradas, como um stand-up comedy.