Críticas

Crítica | Diário de um Banana: Caindo na Estrada

Diário de um Banana sempre foi um sucesso absoluto de público. Principalmente por focar num grupo muito específico, a faixa etária dos pré-adolescentes, trabalhando bem os dilemas nessa fase da vida, utilizando um humor que está na barreira entre a inocência infantil e o escracho juvenil. Quando o êxito editorial chegou aos cinemas não foi diferente, e seu público foi ver as aventuras de Greg Heffley agora na tela grande, a franquia ganhou outros dois filmes e agora, com uma reformulação total do elenco, prova mais uma vez que Diário de um Banana ainda tem o que render.

O longa não faz questão nem de se apresentar como um reboot, ou forçar parecer ser um sequência, aqui os realizadores levam em consideração a já compreensão e reconhecimento daqueles personagens. Não há uma necessidade de apresentação ou de situar aquela narrativa, o público por mais leigo que seja já conhece aquela família e sua configuração. Se é até difícil defender aquela velha ideia de filme realizado para fãs, o que ocorre nesse Caindo na Estrada é já uma aceitação daqueles personagens como parte de uma cultura bastante difundida, os pré-adolescente com certeza devem pensar “Aff quem não conhece o Greg Heffley”.

Diário de um Banana: Caindo na Estrada parte de uma premissa bem simples e bastante comum no universo das comédias adolescentes, a famigerada viagem em família. Horas no carro, parando nos piores locais para dormir, com a regra de não usar o celular, apenas conviver com a família e tendo como destino final uma festa de uma parente quase centenária no interior do país. Esse poderia ser o pior dos pesadelos para um jovem, mas o pior de tudo, Greg acabou virando um meme ridículo na internet, e para ter popularidade vai precisar trocar a rota da família para conseguir realizar um vídeo com um famoso youtuber de games, numa convenção de fanáticos por jogos.

Nessa linha narrativa bastante simples dois pontos chamam bastante atenção. O primeiro deles é um fator que está completamente ligado ao fato da marca Diário de um Banana ser um sucesso comercial absoluto. O longa aborda de forma extremamente natural componentes totalmente contemporâneos do mundo de seus espectadores. O longa consegue incorporar muito bem situações do mundo das redes sociais, sem fazer disso uma crítica ou algo do gênero, mas apenas utilizando como um elemento básico daquele mundo, como verdadeiramente é. No longa há as figuras dos youtubers que ganham muito dinheiro com seus vídeos sobre jogos, sonho de qualquer garoto ser rico jogando vídeo games. Ali também já é demonstrada uma preocupação em relações a essas estrelas digitais por não serem tão boas influências para os garotos, mas isso, um discurso materno, vem com um olhar de incompreensão acerca daquela opinião. E qual seria o pior pesadelo de qualquer pessoa do que virar um meme na internet.

Ainda que o filme possua um debate bem escancarado e até clichê sobre a relação tecnologia e a perda do vínculo familiar. Características muito presentes no dia a dia da internet são inseridas na trama como se isso fosse realmente habitual, é aí que o longa dialoga tanto com seu público alvo. O segundo ponto que faz de Diário de um Banana: Caindo na Estrada um longa muito fluído é seu humor assumidamente rasteiro, que faz o uso das mais simples gags, ficando sempre no limiar entre a inocência e o escracho, ora mais próximo de um, ora mais próximo de outro.

A projeção aposta nas gags e piadas mais básicas que cercam esse clichê da viagem em família. Isso de forma alguma é um erro, mas uma aceitação da própria comédia do longa, aqui haverá todas piadas relacionadas a carros (o motor enguiçado, a família empurrando o veículo, animais atacando os vidros), as gags com os péssimos hotéis nas estradas (a falta de espaço, os cômodos nojentos, a piscina nada divertida), situações envolvendo o interior do país (a diferença entre os meninos do campo e da cidade, a falta de tato com os animais, coisas que parecem totalmente incomuns no cenário urbano). No filme há até mesmo um personagem que parece ter saído de um desenho infantil, um homem carrancudo, forte, que coloca medo em todo mundo, um ser que passa o filme todo perseguindo o protagonista da história.

Assumir esses códigos básicos da comédia faz bem ao filme, abrindo espaço para momentos bem divertidos, alguns tão simples e banais que embalam o riso de forma quase automática. Outros, partindo dessa simplicidade, criam momentos muito bem sacados, por exemplo, quando o diretor David Bowers refilma a famosa cena do banheiro em Psicose, utilizando Greg e esse personagem sempre a sua busca. Com certeza o momento mais engraçado do longa, que faz com que o filme utilize seu humor simples de forma eficaz. O diretor refaz praticamente todos os planos de Hitchcock fazendo com que eles ganhem em comédia.

É certo dizer que essa constante busca por piadas em qualquer situação faz com que o filme seja um pouco atabalhoado e apelativo. Não é incomum que Diário de um Banana Caindo na Estrada faça graça com nojeiras corporais como vômitos e gases, e também força situações que parecem surgir do nada apenas para colocar seus personagens em maus apuros. É verdade que em muitos pontos Diário de um Banana: Caindo na Estrada apresenta grandes defeitos, todavia é aquele típico filme que cumpre seus objetivos, uma comédia inofensiva que serve ao seu público.

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