Entretenimento fugaz

Crítica: Gavião Arqueiro - 1ª Temporada

Marvel entrega uma série divertida, mas nada além disso

A Casa das Ideias já lançou cinco séries em 2021 no Disney+, a primeira leva de produções do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) na plataforma de streaming. Cada uma delas consideravelmente diferente uma da outra, indo da comédia, passando pelo suspense e ficção científica, até chegar na ação. Assim como aquelas que a precederam, Gavião Arqueiro tem sua própria identidade, mas isso não necessariamente significa que ela é um acerto.

A obra tem início apresentando-nos a um recorte da infância de Kate Bishop (Hailee Steinfeld), cuja casa é atacada durante a Batalha de Nova York, de Os Vingadores. O pai dela acaba morrendo no processo, mas a menina é salva por Clint Barton (Jeremy Renner), o Gavião Arqueiro. Nesse momento ela passa a admirar o herói da Marvel.

Anos depois, após os eventos de Vingadores: Ultimato, encontramos uma Bishop já mais velha, treinada em arquearia e outras artes marciais. Ela acaba se envolvendo em uma trama sinistra supostamente envolvendo o Ronin (persona de Clint Barton entre Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato), o padrasto dela e a Gangue do Agasalho. Nesse momento ela conhece Barton e os dois precisam desvendar quem está por trás dessa conspiração, que coloca a vida de Kate em perigo.

Logo nos primeiros episódios, Gavião Arqueiro sabiamente foca na relação entre Bishop e Barton, apostando na química de Hailee Steinfeld e Jeremy Renner, que é evidente desde o segundo capítulo (quando efetivamente se conhecem). Renner dificilmente se destaca na própria série, salvo pontuais exceções, mas genuinamente trabalha bem junto da jovem atriz. Essa sim rouba a cena na maioria das ocasiões, provando ser uma excelente adição ao MCU.

Fica evidente, portanto, que a alma da série está justamente nas interações entre os dois. Assim sendo, quando foge disso, ela acaba deslizando, muito embora a comédia funcione na maior parte das vezes, fruto das boas contraposições de personalidades dos personagens apresentados, cada um deles essencialmente diferentes uns dos outros.

Enquanto o Jack Duquesne de Tony Dalton é propositadamente canastrão, arrancando sorrisos sempre que aparece, a Eleanor Bishop de Vera Farmiga é nitidamente mais séria. Kate, por sua vez, é repleta de sarcasmo, com Clint mais seco e ácido. São essas diferenças que pintam Gavião Arqueiro como um quadro bastante diverso, que entretém do início ao fim.

O problema do seriado está justamente em não saber quando parar de brincar. Trata-se de uma série natalina, com tom mais leve, mas mesmo assim falta urgência na narrativa, algo que passe a sensação de que os personagens centrais estão em perigo. Tais momentos são raríssimos em Gavião Arqueiro, fazendo com que a tensão do espectador seja praticamente nula. Assim sendo, assistimos a série como uma diversão fugaz. É um fast-food barato e não uma refeição que deve, de fato, ser apreciada.

Mesmo quando o grande vilão da temporada é apresentado, não sentimos como se a vida de Clint ou Kate estivessem em perigo, o que torna o resultado previsível ao extremo, sem deixar qualquer surpresa para o espectador. Até mesmo as tentativas da Marvel em fazer mistério acerca das aparições de personagens icônicos é falha, tendo em vista que tudo praticamente acabou vazando antes de uma forma ou outra.

Não ajuda o fato de que a direção de Gavião Arqueiro, de forma geral, é extremamente falha. As cenas de ação muitas vezes soam artificiais ao extremo, com golpes que nitidamente não são conectados, sem falar na ausência da ilusão de velocidade (algo essencial em perseguições de carro ou cenas de fuga como um todo). Em geral torcemos para que a ação termine e voltemos para os diálogos e momentos mais calmos, nos quais o seriado do Disney+ brilha de verdade. Tratando-se de uma série de super-heróis, isso só pode ser visto como um grande defeito.

História de origem descompromissada

Ao menos a história que a produção da Marvel busca contar é bem redonda, deixando as já esperadas pontas soltas para vindouras obras do MCU, mas sem comprometer a trama que é contada ao longo desses seis episódios. O que vemos aqui é uma grande história de origem de Kate Bishop, que deve suceder Clint como a Gaviã Arqueira, algo que é indicado diversas vezes ao longo do seriado.

De fato, como história de origem Gavião Arqueiro é muito bem amarrada. Há uma motivação convincente para Kate se tornar heroína e o treinamento de verdade dela ocorre ao longo dos seis episódios, pela proximidade com Clint. Ela passa a entender os riscos e os deveres de heróis e heroínas. Há pouca mudança na personalidade dela como um todo, ainda há espaço para amadurecimento, mas o foco, como dito antes está na relação dela com Barton.

Isso claramente muda com o passar dos capítulos, como era de se esperar e de pessoas com um objetivo em comum, eles passam para aliados, parceiros até se tornarem família. Essa evolução, por sinal, permite que a personagem de Hailee Steinfeld seja desenvolvida fora da tela, para que volte um pouco diferente em uma eventual segunda temporada ou até em filme.

Por falar em filme, Gavião Arqueiro, é claro, toma como base diversas outras obras do MCU, especialmente os filmes dos Vingadores (nos quais chegamos a ver Barton). Dessa forma, a série não funciona por conta própria, ela é parte de algo maior, evidentemente, e requer que o espectador conheça os eventos de Vingadores: Era de Ultron, Guerra Infinita, Ultimato, Viúva Negra, dentre outros.

Já estamos há mais de 10 anos com o MCU trazendo esse tipo de história, portanto isso não chega a ser um defeito da série, mas fica o aviso para os marinheiros de primeira viagem: mesmo sendo uma obra mais descompromissada, ela lida diretamente com eventos de filmes anteriores, como o luto de Clint pela morte de Natasha Romanoff, a Viúva Negra, ponto que é trabalhado do início ao fim da série.

Assim sendo, essa produção da Marvel funciona como parte de algo maior e como entretenimento descompromissado. A série do Disney+, contudo, carece de urgência ou tensão, mesmo no clímax. Há momentos que certamente serão recordados, mas esses giram em torno das relações entre os personagens, que são muito bem estabelecidos e desenvolvidos ao longo da trama (ao menos os principais).

Gavião Arqueiro conta com uma identidade bem definida como obra natalina, mas não passa de uma diversão passageira, que dificilmente será revisitada, a não ser pelos fãs mais devotos da Marvel.

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