Críticas

Crítica | Horizonte Profundo - Desastre no Golfo

O filme de desastre é um gênero bastante peculiar. Inserido no limiar entre a ação e o drama, os filmes se apoiam muitas vezes em fatos reais ou desastres muito próximos a realidade. Em Horizonte Profundo – Desastre no Golfo não é diferente; o longa de Peter Berg tenta ser um disaster movie exemplar ao dramatizar todos os acontecimentos da tragédia da explosão da plataforma petrolífera do Deepwater Horizon.

O desastre da Deepwater foi um dos maiores acidentes biológicos, causando danos quase incontornáveis no Golfo do México, além disso, a explosão da plataforma levou onze pessoas à morte. O filme foca exatamente nos momentos anteriores àquele acidente, acompanhando a história de alguns envolvidos. Assim, assume uma postura interessante, gerando uma tensão quase espontânea ao longa, causada pelo conhecimento externo à película. Os atos cotidianos, como um café da manhã ou uma despedida, carregam certo suspense, pois é sabido que aqueles personagens estão prestes a enfrentar seu maior conflito.

Assim, utilizando essa tensão pré-existente, Horizonte Profundo tenta ao longo de seu primeiro ato estabelecer algumas pontes para com seu espectador. O primeiro, emocional, mostrando que há uma vida fundamental além daquela plataforma, como a relação do herói do filme, Mike Willians (Mark Whalberg), e sua família, o primeiro terço do filme é a tentativa de mostrar a importância da vida fora daquela plataforma. O segundo ponto é que o público compreenda como funciona aquele ofício, o quê, como e por que a Deepwater funciona. De modo geral, isso surge no filme de forma bem didática, através de diálogos que explicitam estas questões, o mais marcante deles, é quando a filha do próprio Mike explica através de uma redação o trabalho do pai, as informações são dadas no meio de uma e o que mais fácil de entender do que uma criança explicando.

Passado isso, o longa pode se concentrar na plataforma e na tragédia que tenta remontar. Horizonte Profundo a partir daí parte para seu segundo ato, brevemente o filme de Peter Berg tenta mostrar as causas daquele grave acidente. E talvez aí resida o grande problema dos filmes de desastre, principalmente os baseados em fatos reais, numa busca por dramatizar aqueles fatos, é como se o filme não conseguisse se distanciar para explorar minimamente bem as verdadeiras contradições por trás da explosão do Deepwater Horizon. E o filme até tenta de alguma forma colocar isso em pauta, mas é como se surgisse de modo muito secundário. Aqui não exigindo uma investigação documental daquele evento, mas sim preocupação em colocar as causas de forma clara no filme.

Por exemplo, o personagem protagonizado por John Malkovich, Vidrine, que é uma representação da corporação por trás daquela plataforma, mostrando que ali só há interesses financeiros, sem preocupações de ordem humanas ou ambientais. Assim, se por um lado Vidrine é uma tentativa de colocar as causas e consequências do desastre de forma evidente, é também um personagem sem complexidade alguma, que segue previsível durante toda a projeção, e por mais que represente uma maldade coorporativa não possui nenhuma humanidade, não no sentido filantrópico, mas sim de um ser racional e emocional. Não alcançando êxito em nenhuma destas esferas.

Após essas falhas, o filme foca no que parece ser sua grande ambição, a cobertura da luta dos tripulantes de Deepwater pela sobrevivência. E aqui é como se o filme fosse dirigido por alguém como um Datena, ou um Marcelo Rezende da vida, fazendo uma remontagem dos fatos de forma que flerta bastante com o sensacionalismo. Horizonte Profundo deseja estar no meio da catástrofe, numa câmera que capte tudo, das mais sentidas perdas às mais edificantes sobrevivências. Assim, Peter Berg busca mostrar tudo através de sua reconstituição extrema e chocante. Para o filme cada vazamento, cada explosão e cada morte deve ser sentida pelo espectador. Assim, é bastante curioso o trabalho de som do longa, que tenta a todo momento evidenciar as explosões ou as coisas que se chocam sejam elas corpos ou objetos super pesados, Horizonte Profundo tenta mostrar de toda a forma o peso da catástrofe.

E se eticamente as escolhas de Berg no longa são bastante questionáveis, explorando toda a dor vigente naquela situação. Para funcionar essa reconstituição do longa deveria, no mínimo, ter um apuro técnico enorme para a reconstrução dos ocorridos, e isso não é visto. Há uma clara deficiência nos efeitos especiais, fazendo com que aquela construção seja colocada em cheque inconscientemente pelo público. Assim, um filme que foca extremamente em suas explosões, e olha que são várias, há certo desleixo nessa concepção, que mesmo chocante e espetacularizada, artimanhas que ludibriam o público, não consegue se aproximar dos fatos que retrata.

Assim, Horizonte Profundo – Desastre no Golfo é um filme ambicioso no sentido de tentar levar às telas um acidente relativamente recente, com proporções gigantescas e que, definitivamente, não pode ser esquecido. No entanto, o longa vai pouco a pouco, perdendo sua força por escolhas bastante questionáveis, dessa forma, um fato que ainda merece ser debatido chega aos cinemas como mais um filme do gênero desastre.

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