Em Transe

Crítica – Hypnotic

Thriller da Netflix não consegue estabelecer clima de mistério, apesar do talento de sua protagonista

À primeira vista, o suspense Hypnotic não parecia nada muito diferente do esperado… à segunda vista, mantemos esta visão.

Infelizmente, as duas cabeças pensantes de Matt Angel e Suzanne Coote não se mostraram capazes de tirar esta produção do lugar comum. Sorte terem em seu elenco, um par de atores que se mostraram dispostos a tentar elevar uma narrativa que se sente confortável encaixada no padrão.

Especialmente a protagonista Kate Siegel, atriz americana de 39 anos de idade que está em casa quando o assunto é ser aterrorizada por qualquer coisa que consiga imaginar.

Em Hypnotic, acompanhamos Jenn Tompson (Kate Siegel) que está sentindo que sua vida está completamente estagnada em todos os aspectos, assim ela busca ajuda na hipnoterapia. Só que acaba envolvida em um jogo psicológico que colocará sua vida em risco, além de outras pessoas que estão ao seu redor.

Sem mistério

Na cena que abre esta produção original Netflix testemunhamos uma mulher que se encontra angustiada por algum motivo. Ela pega suas coisas e cruza um escritório na direção dos elevadores. Lá dentro recebe um telefonema, em seguida tem um surto psicótico enquanto observa as laterais do baú metalizado se fechando como uma armadilha. Letreiro de abertura.

Com exatamente três minutos de projeção, já sabe onde irá pisar pela próxima hora e meia! Agora, me diga: isto por acaso parece um filme de suspense (!) para você?

Então, é de se lamentar que ainda façam obras como Hypnotic hoje em dia, daquelas que avisam o espectador todo o caminho que este deverá percorrer até a resolução dos fatos. Nem se dar o trabalho de tentar confundir quem assiste quiseram! É uma narrativa clara em linha reta até o final, onde conhece de modo definido: a ‘mocinha’ e o vilão da história logo no primeiro ato.

Dali em diante, ficamos presos (no pior dos sentidos) à “expectativa” de quando conseguirão capturar esta figura psicopata retratada pelo enredo.

Uma mudança de narrativa

Se o roteiro e direção de Hypnotic não nos levam a lugar algum, resta perceber o que se encontra neste material que pode valer a pena para o assinante Netflix apertar o ‘play’. Lamentavelmente, não muita coisa. Ainda assim, ganhamos a chance de fazer uma observação muito válida sobre uma mudança de narrativa que tem se repetido em tantas outras produções atuais, inclusive dentro do catálogo da Netflix.

Antes, toda vez que retratávamos um tipo com atitudes deploráveis e asquerosas, víamos uma construção visual estereotipada, que supostamente entregava pelas aparências quem era aquela figura e quais eram as intenções dela. Atualmente, tivemos uma mudança.

O modelo educado, graduado, bem vestido, culto, além de muito belo, passou a ser o foco das atenções quando abordamos tipos repugnantes, capazes de cometer atos terríveis contra as pessoas, especialmente mulheres.

Recentemente, a Netflix lançou o irregular terror sobrenatural Vozes e Vultos, onde podemos notar o mesmo estilo de antagonista que temos aqui em Hypnotic.

Kate Siegel e o terror

Quando analisamos a filmografia de Kate Siegel, percebemos que ela tem várias produções classificadas como terror em seu currículo. Muitas delas feitas com a assinatura do surpreendente Mike Flanagan, que é seu marido e pai de seus dois filhos.

A lista inclui: O Espelho (2013), Hush – A Morte Ouve (2016), Ouija: A Origem do Mal (2016) e Jogo Perigoso (2017); além de algumas séries muito populares, todas estas produções originais da Netflix, como A Maldição da Residência Hill (2018), A Maldição da Mansão Bly (2020) e a excelente Missa da Meia-Noite (2021).

Portanto, definitivamente, percebe-se que ela tem gabarito mais que o suficiente para sustentar, e até mesmo se destacar em qualquer produção neste estilo. E, é exatamente isso que ela faz em Hypnotic, sendo decididamente a único predicado encontrado nessa obra incapaz de se manter em pé com as próprias pernas.

Não é cedo demais para confirmar que Kate Siegel já merece o título de ‘scream queen’ (rainha do grito). Atrizes de calibre, como Fay Wray e Jamie Lee Curtis ganharam uma nova companheira com Siegel, que já provou, vez após vez, que é uma força natural do gênero terror/suspense.

Fica a torcida para que apareçam em seu caminho: mais trabalhos como Missa da Meia-Noite, e menos (ou nenhum) como Hypnotic.

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