Críticas

Crítica | Jogos Mortais: Jigsaw

Parece que Jogos Mortais é uma espécie de aposta certa dentro da indústria do terror, algo que gera um filme de sucesso a cada certo período de tempo, mesmo com a franquia sendo finalizada algumas vezes. Dessa maneira, Jogos Mortais – Jigsaw é uma nova narrativa dentro desse abençoado universo criado há treze anos.

Sendo assim, é quase obrigatório que Jogos Mortais – Jigsaw mantenha o padrão das outras obras, os emaranhados de jogos que acabam em mortes absurdas, criativas e totalmente violentas de algum personagem secundário. Os filmes fazem com que esse sentimento entre a excitação, a tensão e o medo se unam nesses momentos, deixando até mesmo a trama em segundo plano. Jogos Mortais sempre foi uma série da exploração da violência e suas respectivas sensações. A franquia por muitas vezes se tornava uma busca por desafios e mortes cada vez mais criativas e gráficas, como se cada títulos buscasse impressionar e chocar mais que o antecessor.

Jogos Mortais torna-se, assim, uma espécie de veiculação da violência, se havia em algum dos títulos alguma possibilidade de investigar as raízes dessa questão ou evidenciar as sensações das brutais mortes sem espetacularização, ou ainda usando essa espetacularização com alguma ideia por trás de suas explícitas cenas, algum desses pontos se perdeu há muito tempo na vitrine dessa sempre lucrativa franquia de exploração de um sentimento um tanto quanto mórbido. Jogos Mortais conseguiu realizar um blockbuster do torture porn, algo de que se beneficia até hoje, como se tivesse o monopólio desse gênero em escala industrial.

Assim é até curioso como Jogos Mortais – Jigsaw não tenta entrar nesse jogo em relação aos outros filmes, tentando criar esses assassinatos mirabolantes. Todavia, o novo longa mantém todas as características que mantém essa hegemonia. O suspense durante as provas daqueles participantes, onde o tempo da ação é estendido ao máximo, enquanto os personagens lutam contra a morte; a violência gráfica extrema, que fica entre o chocante e o exagerado para que não incomode tanto o público; e a trama de investigação em torno dos responsáveis por aqueles atos, mesmo que eles sempre levem a um mesmo nome: John Kramer. Esses são os três pontos que entretém o público, que mantém o vapor da franquia, reafirmando os padrões que o colocaram nesse patamar.

Jogos Mortais – Jigsaw mantém também padrão narrativo, o longa se inicia com um criminoso pedindo para o detetive Halloran cuidar de seu caso e ali dispara um cronômetro iniciando os novos jogos. As mortes são acompanhadas também por dois médicos legistas, Logan (Matt Pasmore) e Eleanor (Hannah Emily Anderson), que logo tomam as rédeas do caso e mergulham na investigação da nova série de assassinatos. Essa narrativa investigativa propicia que aquele jogo ganhe algum sentido, deixando-o propício para todo tipo de reviravolta e afins.

Talvez mais interessante que tudo isso seja construído por uma base de que aquela narrativa é algo feito por um fã. Uma provável forma de homenagem dos realizadores, os irmãos Spierig, como também dos roteiristas Peter Goldfinger e Josh Stolberg, veterenos do industrial cinema de terror americano. Nesse caso esse sentimento quase referencial não se dá através do famosos fan service, mas dentro da própria narrativa. Assim, há sempre uma questão do que Jigsaw/Kramer pode ter deixado para o futuro, um legado onde sua obra e intensões são mantidas por terceiros.

A própria Eleanor é obcecada por aquilo que o homem fez, nesse sentido, Jogos Mortais – Jigsaw é uma obra justamente sobre o legado, algo que confunde até mesmo os próprios investigadores. Assim é até compreensível a enxurrada de comentários de como esse filme não acrescenta ao arco da própria franquia, mas essa questão da legião de fãs é o grande motoro dess novo Jogos Mortais. Evidente que isso tem sua motivação financeira, mas talvez com a exceção do primeiro títulos, ou pelo menos das obras iniciais, esse sempre foi o grande motivo dos longas.

Dessa forma, Jogos Mortais – Jigsaw coloca em jogo uma espécie de descendência daquele psicopata, onde seu impacto é tão grande que tanto investigadores quanto outros criminosos se inspiram em Jigsaw, sempre mantendo a esperança, ainda que mórbida, que ele esteja vivo. Isso surge até mesmo com um discurso perigoso que de alguma forma validaria os atos que se vê ali, uma espécie de justificativa pela violência, uma vez que ali jogam pessoas que cometeram falhas injustificáveis, uma justiça com as próprias mãos que pode levar a uma interpretação totalmente equivocada, principalmente pelo fato do público estar totalmente entregue ao jogo do entretenimento, aberto a qualquer discurso por sua excitação com o que vê.

Jogos Mortais – Jigsaw ainda é um filme que não mantém nem mesmo suas próprias pretensões se entregando principalmente a um terceiro ato que aposta numa grande surpresa e numa grande reviravolta. Algo que só funciona através dos diversos diálogos finais, tendo até mesmo que mostrar flashbacks de momentos que o espectador acabou de ver. Esse ponto de virada, então, surge forçado, não como algo natural dentro de sua obra, mas como mais um ponto necessário para essa franquia.

No final, Jogos Mortais – Jigsaw relembra muito os outros filmes da franquia, onde lembra-se dos sangues espelhados por todas as cenas, mas resta muito pouco da narrativa, ou daquilo que motiva tudo o que se vê. Não há identidade visual que possibilite uma nova alternativa na franquia, nem mesmo alguns esforços narrativos, Jogos Mortais – Jigsaw continua como um belo atrativo de público alimentando algum mórbido desejo por corpos dilacerantes.

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