Críticas

Crítica | Jumanji: Bem-Vindos à Selva

Tudo indicava que a continuação de Jumanji, um clássico à lá Sessão da Tarde, era um surto de executivos e produtores numa epidemia onde remakes e sequências parecem um atalho para a fonte da fortuna hollywoodiana. Tudo apontava para essa obra que apontaria para uma falta de criatividade em relação aos blockbusters, as escolhas de The Rock e Kevin Hart deixavam o projeto ainda mais em dúvida. Todavia, Jumanji: Bem-Vindo à Selva resume bem o sentimento de transportar um sucesso de outrora para 2018, no caso do Brasil e uma de suas primeiras grandes estreias do ano. Há no filme esse sentimento de transposição, de tentar criar um artifício para incorporar a narrativa conhecida numa experiência atual e isso sai extremamente eficiente e interessante.

O longa começa deixando esse sentimento bastante claro, começando com o famoso tabuleiro de Jumanji sendo resgatado e um jovem na década de 1990 sendo presenteado com ele. Porém, o garoto está muito ocupado jogando seu novo videogame para dar atenção àquilo, Jumanji, então observa o garoto jogar para de madrugada transformar-se num console, que atrai aquele menino para o jogo literalmente. Há nesse momento a incorporação daquele antigo artefato ligado ao primeiro filme em uma coisa outra, algo que aproxima esse novo filme do público atual, da mesma forma que garante certa autonomia para essa nova obra. Há um movimento de transformação de buscar uma renovação apoiando-se num certo tom ou clima daquele sucesso de um passado recente.

O mais curioso é que Jumanji não se transforma em um videogame extremamente de última geração, mas sim num console dos anos 1990, com todos seus padrões diferenciados daquilo que se joga atualmente, inserindo nessa equação um tom nostálgico, que aqui não deriva do primeiro filme, mas sim dos videojogos da década retrasada.

Esse movimento de incorporações continuam justamente na trama do longa, Jumanji: Bem-Vindo à Selva conta a história de um grupo de adolescentes bem heterogêneos, Spencer (Alex Wolf), o jovem inteligente mas com nenhuma habilidade social, Fridge (Ser’Darius Blain) o famoso e valentão jogador de futebol americano, Bethany (Madison Iseman) a garota popular que não desgruda de suas movimentadas redes sociais e Martha (Morgan Turner) a jovem tímida totalmente avulsa na escola. Esses personagens, estereótipos de adolescentes ensino médio, por algum motivo devem ficar juntos na detenção e arrumar o porão da escola e ali que encontram o antigo jogo, naquele momento eles são incorporados pelo jogo e transformado em outros personagens, que são muito diferentes de sua vida real. Spencer se torna The Rock, imbatível e atraente, Fridge vira Kevin Hart, inteligente mas medroso, Bethany torna-se o nada interessante Jack Black e Martha na bela e corajosa Karen Gillan.

Realmente o mais interessante está no ruído dessas incorporações, desse filme baseado num sucesso do passado que se torna uma aventura em homenagem aos games de outro tempo, na comédia baseada nesses corpos que não tem nada a ver com as personalidades que eles representam e assim por diante. Jumanji: Bem-Vindo à Selva é um filme de aventura que se utiliza desse estilo videogame sem a pretensão realista dos jogos do presente, onde tudo soa fantasioso, distante do plano real e com certa simplicidade, onde as dificuldades são resolvidas por qualidades presentes naqueles personagens e eles devem descobri-las. O longa é cartoonesco com a presença de um vilão que parece ter saído de um desenho animado, um ex-general com apenas um olho auxiliado por uma ave de rapina, coisas como essa conferem ao longa esse ar de aventura de uma matinê juvenil, despretensiosa, leve e divertida que destoa dos grandes blockbusters atuais.

Assim, é interessante como o filme de Jake Kasdan utiliza bem os efeitos especiais, sempre evidenciando esse exagero, esse mundo nem um pouco interessado em parecer real, mas sim reproduzir uma aventura do passado, com essa floresta, criaturas e cidades que sempre parecem uma montagem, um mundo outro que remete àquilo que era consumido um tempo atrás. Esse universo abre precedentes para brincar com a utilização da computação gráfica, criando animais reais que são extremamente grandes e diferentes do que se vê na realidade, ou a utilização de explosões e afins como um mero artifício para dar um tom ainda mais imaginativo ao filme.

Jumanji: Bem-Vindo à Selva ainda consegue fazer sua narrativa mostrar um extremo apuro cômico, principalmente pela utilização desses atores já conhecido estarem interpretando uma mente adolescente. É por isso que esse reconhecimento fácil dos jovens do filme (o nerd, o atleta, a popular e a estranha) funciona, para que sejam vistos também naquele corpo totalmente diferente. Sem exageros ou apelações, as atuações fazem esse humor funcionar, por exemplo, vendo The Rock sempre parecer amedrontado, ou não sabendo flertar ou beijar, ou ainda Kevin Hart que consegue tirar risos com uma simples feição amedrontada. Esses momentos, que permeiam todo o filme funcionam, e se utilizam justamente desse ruído causado por essa incorporação de uma nova narrativa.

Jumanji: Bem-Vindo à Selva pode muito bem incomodar por esse estereótipo constante, talvez hoje a figura do nerd como único conhecedor de videogame já não seja uma verdade, e bem capaz do atleta jogar mais jogos do que qualquer outro. Ou até mesmo as figuras femininas e apenas citação da garota incomoda de estar vestindo um traje minúsculo dentro do jogo, como se evidenciasse o conhecimento do problema mas a mera citação bastasse para torná-lo consciente. Fatos que mostram como o longa tão antenado ao mundo atual, não se preocupa com tais pontos sensíveis.

Ainda assim é interessante ver como o filme utiliza inteligentemente um processo tão em voga na indústria americana: a incorporação de tendências atuais em narrativas que remetem ou continuam um título já bastante conhecido. Ao evidenciar esse procedimento, Jumanji: Bem-Vindo à Selva realiza um filme que curiosamente se descola tanto da obra original, quanto daquilo que vem sendo produzido atualmente, fazendo um ótimo entretenimento, divertido e interessante, uma ótima surpresa.

Sair da versão mobile