Críticas

Crítica | Logan

Ao fim da exibição de Logan, uma balada de Johnny Cash ecoa ao longo dos créditos do filme. A música chamada “The Man Comes Around”, em seu título, resume bem a experiência que é presenciada ao longo da projeção. Onde nós espectadores nos encontramos tão perto de Wolverine, ou melhor, de Logan a ponto de sentirmos a real aflição vivida pelo personagem no momento mais crítico de sua jornada, sua falência.

Importante dizer que quando me refiro à falência, principalmente o teor físico se destaca neste abismo vivido por Logan, em que seu corpo reflete todo seu esforço vivido de forma extrema ao longo dos anos. Mas também esta tal falência não se resume a apenas isso. Seu emocional e psicológico também sofrem com essa derrocada. Onde Logan parece encontrar energia para não se suprimir apenas no sentimento de compensação que ele sente por Xavier, que de certa forma é o único que ainda é capaz de lhe manter vivo – e não o contrário.

Seria muito raso e banal uma representação dessa decadência de Logan sem que houvesse algo que o impulsionasse, ou no mínimo lhe mostrasse, que quando o fim da luta se aproxima, é possível o surgimento de uma nova geração que tentará manter seu legado de alguma forma. E quem mais seria capaz de tal feito se não um grupo de crianças?

Situado no ano de 2029, Logan nos apresenta um futuro distante para aqueles personagens já representados ao longo dos anos em X-Men. Contudo, para nós, é exibido um futuro tão próximo, em que o diretor James Mangold, como poucos, consegue captar de forma não gratuita os objetos que compõe nosso tempo atual – como quadrinhos, celulares, drones, etc – atribuindo-lhes significados durante a trama. Onde, por exemplo, Logan descobre através de vídeos gravados por um celular o projeto de Dr. Rice, que consistia em produzir mutantes geneticamente alterados, treinando-os e controlando-os para uma futura dominação.

A todo momento o filme tenta apontar para o personagem uma reflexão de sua auto-decadência, simbologia que aparece de certa forma até exagerada no final do longa, por meio de uma luta “consigo mesmo”, mas que em sua totalidade é constituída de forma sábia através da personagem Laura, uma das crianças mutantes geneticamente alteradas e que no filme assume o papel parecido, mas não igual ao de Xavier. Onde um age como impulso para que Logan sobreviva, e outro como impulso para que ele viva. Desta forma, Logan, Xavier e Laura traçam uma jornada utópica, fugindo de seus inimigos, Dr. Rice e Pierce (responsáveis pelo projeto dos mutantes) que buscam capturar a garota.

Em uma cena que certamente é a síntese do filme, Logan, Xavier e Laura param para descansar em um hotel na estrada. Quando acomodados no quarto, Xavier e Laura assistem um filme chamado Shane, obra que curiosamente também leva o nome de seu protagonista, mas que no Brasil foi traduzido como Os Brutos Também Amam. Pois bem, assim como o título da música de Johnny Cash, o nome traduzido deste faroeste dirigido por George Stevens parece também transpassar o sentimento de Logan, onde vemos que apesar da destruição e brutalidade vivida pelo protagonista, ainda há tempo para que ele, Logan, demonstre de alguma forma seus sentimentos. E não só o nome, como também o enredo de Os Brutos Também Amam é um claro paralelo ao filme. Onde assim como Shane (ex Pistoleiro), Logan (ex X-Men) acaba tendo que usar pela ultima vez suas habilidades para defender uma futura geração.

Em sua plenitude, Logan é a prova de que um filme de super-herói – se é que podemos rotulá-lo assim – pode sim ser uma obra legítima, que traz de alguma forma algum tipo de reflexão atual, discutindo neste caso o entorno da constante comutação. Dificilmente algum filme superará Logan quanto a sua potência em constituir um legado a uma franquia. Pensando bem, quem sabe um dia, com uma próxima geração…

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