Janeiro, curiosamente o mês em que boa parte dos filmes mais aguardados são lançados. Muitos deles com uma semelhança em comum, os chamados “filmes para o Oscar”. Manchester À Beira-Mar é um deles, porém, se resumíssemos o filme à somente essa qualidade estaríamos cometendo uma grande injustiça.
Manchester À Beira-Mar, a princípio, parece sim apenas mais um filme bobo, com uma história igualmente fraca, onde a preguiça é o maior sentimento que rodeia o telespectador durante sua exibição – sim, essas são as características de muitos filmes indicados ao Oscar. Entretanto, aos poucos vemos suas camadas desabrochando em um filme que, desde o início, procura realizar um profundo mergulho dentro de cada personagem da trama, realizando assim, um estudo do sujeito e de sua maior angústia, a morte.
Casey Affleck interpreta o protagonista do filme, Lee Chandler, um zelador que volta para sua cidade natal devido a morte de seu irmão, e acaba tendo que tomar conta de seu filho, Patrick, que não tem mais nenhum responsável por perto, já que sua mãe o abandonou. Até aí, uma história não muito diferente do que algumas outras vistas em outros filmes; a questão é que aqui o diretor Kenneth Lonergan conduz essa narrativa através de uma observação do comportamento humano ao lidar com a morte, ou melhor, com a vida. Se observação é a palavra, que elucidemos os exemplos demonstrados durante o longa que fazem jus a própria, como planos longos e diálogos realistas, que causam uma maior dilatação nos elementos do filme.
Lee Chandler é um personagem que causa extrema empatia, mesmo tendo cometido alguns erros brutais em sua vida, que caso, ditos aqui, atrapalharia a recepção do filme. E essa empatia vêm justamente na semelhança que o personagem tem com nosso comportamento ao lidar com situações difíceis. Em uma atuação digna, Casey nos mostra, que ao contrário do que muitos questionam ao analisar a incomunicabilidade moderna, a fuga para o cotidiano e para a própria não comunicação pode ser a melhor solução do sujeito.
É claro que essa fuga para o cotidiano e não do cotidiano vem regada de motivos, que nesse caso é expressado através da morte. E como alguém que não sabe lidar com a morte pode criar um adolescente, que tem que aprender a lidar com ele desde muito cedo? É isso que Kenneth Lonergan investigará ao longo do filme. Mesmo sendo um filme com uma carga emotiva grande, não há uma apelação disso, pelo contrário, Lee Chandler é um personagem que mesmo deprimente, em muitos momentos diverte na companhia de Patrick. Os dois trilham a narrativa através de diálogos delicados, onde suas vontades são completamente diferentes, já que lidam de maneira distinta com o sofrimento.
Desta maneira, Manchester À Beira-Mar é um filme, que de forma suave, nos mostra o peso que se enfrenta na existência humana ao lidar com traumas. Um filme extremamente realista, que ainda conta com atuações incríveis, que colaboram muito para torná-lo uma experiência extremamente interessante. E já que é um filme intitulado como “filme para o Oscar”, que ele não seja premiado, ou melhor, que ele seja, desde que não o comparem com outros que foram mas não trazem esse grau de profundidade.