Críticas

Crítica | Megatubarão

Os mistérios das profundezas do fundo do mar atraem o público para os cinemas há tempos, mas foi em 1975 que Steven Spielberg mudou Hollywood com o explosivo sucesso causado por Tubarão, um dos maiores clássicos de suspense de todos os tempos. Por conta do blockbuster moderno estar intimamente ligado com esse tema envolvendo ataques de tubarão contra pessoas inocentes em praias paradisíacas, vez ou outra surge um novo longa tentando repetir o milagre do sucesso que Spielberg e a Universal conseguiram no passado.

Nesse ano, a aposta da vez é feita pela Warner e do diretor Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido) com Megatubarão, um filme divertido o suficiente com uma proposta boa para gerar, no mínimo, algum interesse no espectador indeciso sobre o que assistir nos cinemas. Misturando diversos conceitos vindos dos maiores clássicos de Steven Spielberg em Tubarão e Jurassic Park, os roteiristas de Megatubarão propõem o inusitado encontro do mundo contemporâneo com uma criatura pré-histórica chamada Megalodonte, um gigantesco tubarão que pode atingir 27 metros de comprimento.

É particularmente curioso que os roteiristas Dean Georgaris e Jon Hoeber sejam bem-sucedidos em introduzir credibilidade para a inserção dessa criatura monstruosa de modo satisfatório dentro da narrativa, sem sacrificar a própria coerência interna do longa. Megatubarão é um filme levemente dividido entre duas narrativas que se convergem. A primeira delas envolve o trauma não superado do heroico mergulhador especializado em resgates de tripulações em submarinos naufragados, Jonas Taylor (Jason Statham). Por uma missão na qual não conseguiu salvar todos os tripulantes devido ao perigo iminente de uma criatura gigante que atacava a embarcação.

Depois desse episódio trágico, Jonas decide se aposentar e foge das responsabilidades como operador de resgates para se refugiar na bebida em um lugar paradisíaco. Enquanto isso, uma instalação tecnológica de ponta financiada por um bilionário excêntrico, Morris (Rainn Wilson), se prepara para lançar uma expedição submarina a fim de descobrir o novo ponto mais profundo do planeta em meio ao oceano pacífico.

Após descobrirem um novo bioma totalmente intocado pelo tempo, os três exploradores encontram um segredo amedrontar do qual nunca deveria ter sido descoberto: um megalodonte vivo que os ataca imediatamente. Com os cientistas presos a mais de 10km de profundidade, os chefes da expedição clamam para que recrutem Jonas Taylor para salvá-los. Não bastasse esse enorme problema, os cientistas terão que caçar um dos megalodontes que conseguiu atingir à superfície colocando em risco diversos banhistas.

Nesse cenário cheio de potencial, os roteiristas e Turteltaub conseguem entregar uma boa experiência apesar de repleta de clichês clássicos de narrativa e também de encenação. Ou seja, em muitos momentos, o suspense que o diretor pretende criar assim como as reviravoltas da história são absolutamente previsíveis. Não é preciso ser um perito em filmes para sacar as viradas da história, tudo é muito telegrafado.
Isso tira um pouco o brilho do longa por conta de ser conduzido através de situações muito familiares que, por vezes, até funcionam como homenagens certeiras de, obviamente, Tubarão. Com uma narrativa que, apesar de não surpreender, é bastante funcional, também é digno de elogios o trabalho com os personagens.

Excetuando o protagonista e sua enorme querela com um dos integrantes da equipe, o médico Heller (Robert Taylor), não há grande atenção para arcos individuais entre os personagens – e nem deveriam ter. Com um elenco bastante diversificado e carismático em maioria, é possível distinguir facilmente um personagem do outro, assim como as suas especialidades e comportamentos.

É uma pena, porém, que os roteiristas insistam em esquecer elementos que eles mesmos valorizam no primeiro ato durante o restante do filme como uma carta de despedida de um dos exploradores que não sobrevive ao resgate. O mesmo ocorre com outros personagens que simplesmente desaparecem da obra, mesmo sobrevivendo aos eventos do conflito contra o megalodonte.

Aliás, esse ponto também se destaca na obra. Mesmo que a direção de Jon Turteltaub pese muito a mão na criação de suspense em cenas nas quais os principais personagens passem apuros, raramente é possível prever qual personagem que será predado pelo bicho. Ainda por ser especialista em blockbusters de aventura, o cineasta consegue manter um ritmo agradável durante todo o filme que não chega a cansar.

A cada nova situação apresentada, a abordagem da direção muda tocando atmosferas de horror, aventura, ação e até mesmo comédia. Durante o terceiro ato, o mais criativo envolvendo o uso do tubarão gigante, há toques repletos de bizarrices e piadas visuais que funcionam salvando o humor do filme que até ali, é extremamente fraco, repleto de piadas dignas de vergonha alheia.

Como havia dito, Megatubarão é um filme de altos e baixos atingindo apenas o limiar do bom entretenimento, embora não seja nada memorável. Mesmo assim, é preciso destacar a enorme vontade de Jon Turteltaub na direção buscando criar sequências de ação sempre agitadas na medida certa, além de sempre apresentar ângulos inusitados funcionando tanto para evocar um clima incômodo como durante as andanças de Meiying (Sophia Cai) pelo laboratório submerso ou quando deseja elevar a comédia pelo bizarro com um plano próximo de um banhista preso dentro de uma bolha inflável tentando fugir do tubarão gigante.

É uma pena que o diretor apenas fique com as mãos atadas na questão da violência. Pela censura baixa, Megatubarão contém cenas brandas de violência o que torna toda a situação da caçada um pouco ridícula, pois mesmo com a sugestão da criatura ser letal e feroz, o espectador raramente tem a oportunidade de ver o estrago que o bicho causa ao seu redor. Aliás, além dessa situação bizarra da violência, há sempre um truque de suspense que exige muito da suspensão da descrença por parte do espectador: diversas vezes o tubarão some da vista dos personagens, mesmo que esteja com um rastreador preso em sua cartilagem.

Trazendo todos os benefícios e defeitos de um blockbuster pensado exclusivamente para abocanhar o maior número possível de espectadores, Megatubarão não é de forma alguma um filme ruim, mas também não chega a ser ótimo. O entretenimento existe e diverte com uma história satisfatoriamente coerente repleta de personagens carismáticos inseridos em sequências que trazem algumas novidades para o subgênero. Mas caso o espectador tenha uma expectativa muito alta, superando a realidade do divertimento que o filme oferece, a decepção virá com toda a certeza.

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