De um tempo para cá, a Disney começou a revisitar suas obras clássicas, atualizando seus universos e trazendo os contos que foram sucessos (e inovadores) na animação para o live-action. Uma aposta que vem dando bastante resultado vide Malévola e Cinderela, assim a história de Mogli, o menino criado por lobos é o mais novo clássico a ser recontado, tendo como promessa elevar e apresentar técnicas inovadoras dos efeitos e das animações digitais.
E por mais que haja essa expectativa em relação ao digital e que o CGI possa criar imagens tão verdadeiras quanto a realidade, é necessário entender que Mogli não tem a pretensão de ser um filme realista e os recursos gerados por computador são empregados para contar essa fábula. E isso é deixado bem claro desde a apresentação do logo da Disney, não mais aquele castelo realista, mas um retorno a uma construção que parece desenhada, remetendo aos clássicos desenhos, é como se o próprio estúdio desse um aviso, que aquela não é uma obra que quer estar nos limites do realismo, mas sim uma fábula, uma fantasia, um universo que não é o da realidade, mas próprio das animações da Disney.
E por ser narrado pelos olhos de uma criança esse aspecto fantasioso dos diversos animais da floresta é bastante rico, uma vez que o espectador enxerga aquela fauna com a imaginação de um garoto. Sendo assim, o CGI é empregado nesse sentido, não buscando um realismo no conto fantasioso do Menino Lobo, com isso os animais ganham formas e feições particulares nessa história, por exemplo, o Rei Louie, um orangotango gigantesco, longe do tamanho que essa espécie tem na natureza, mas que demonstra todo o poder e ameaça que o animal apresenta para os outros primatas e principalmente para o protagonista do filme.
Assim, não cabe aqui discursar se os efeitos presentes no longa realmente chegam a um novo patamar em alcançar o realismo, mas sim notar como o diretor Jonh Favreau faz um ótimo trabalho visual, o realizador compreende que com os recursos digitais pode ter um controle absoluto de suas paisagens, e Favreau não tem medo de construir cenário deslumbrantes, na qual a luz parece vir de um sol que não se pode ver em nenhum lugar no mundo, apenas no cinema.
O cineasta faz aqui com o digital o que os antigos faziam naquelas surpreendentes pinturas de cenários, ambientando os filmes em paisagens que só estavam na cabeça de artistas. O diretor de Homem de Ferro, Chef, entre outros realiza seu projeto mais interessante visualmente. E nesse sentido há grandes passagens em Mogli – O Menino Lobo, como o encontro com a serpente, na qual a toda a história do garoto é contada literalmente através dos olhos da serpente Kaa, que se abre para mostrar o passado enquanto ela hipnotiza o personagem – e o público – e graças ao 3D, a transição entre íris ocular e imagens que começam a surgir é quase imperceptível.
E se visualmente Mogli – O Menino Lobo beira o espetacular, o filme tem seus problemas, principalmente em seu roteiro. É interessante como essa nova versão aborda praticamente o mesmo conflito já conhecido fazendo um recorte diferente, mostrando fatos que não eram conhecidos e dando um enfoque principalmente para a família de lobos do garoto. No entanto, em muitos momentos, principalmente após a primeira hora de projeção, parece que o roteirista, Justin Marks, se apressa para apresentar outros personagens e ações, como se o longa tivesse um check list a ser comprido. Assim, algumas informações são jogadas e pouco desenvolvidas, até mesmo o importante relacionamento entre Baloo e Mogli, na qual não se dá tempo de ver aquela amizade crescendo na tela, apostando até no envolvimento já conhecido por boa parte do público.
E com esse Check List o longa perde tempo apresentando algumas canções presentes no filme clássico, numa espécie de fan service extremamente desnecessário, que não leva a trama adiante e ocupa um espaço que poderia ser melhor utilizado no desenvolvimento narrativo. Além disso, há algumas muletas narrativas que surgem para resolverem problemas que o roteiro não é capaz de solucionar, até mesmo a passagem de Kaa, que apontada como impactante visualmente, tem a função bem clara de dar um drama interno a Mogli maior, mostrar através desse estiloso flashback algo que a narrativa não dava conta.
Se narrativamente Mogli – O Menino Lobo não chega a ser extremamente conciso, o filme funciona em suas diversas propostas, desde sua moral da história, essencial em qualquer conto Disney até a sua jornada de aventura. Mogli – O Menino Lobo é acima de tudo uma aventura à moda antiga, em que as peripécias de seu protagonista é transmitida de maneira inocente e divertida, não há em momento nenhum o peso do realismo, mas sim o tom aventuresco de um filme, é nesse tom quase nostálgico, que Mogli conquista seu público.
E se esse momento da Disney é uma tentativa de renovação por completa dos estúdios e até mesmo de tocar nas suas histórias de maior sucesso, Mogli é o perfeito exemplo que isso ainda pode render bons projetos e até, em certos aspectos, de maneira bastante singular.