Amor & Comunicação

Crítica – No Ritmo do Coração

Comédia dramática coming-of-age da Amazon Prime Video dispõe de uma performance estelar da protagonista Emilia Jones em trama formulaica, mas muito sincera

Existe aquela categoria de filmes e séries que considerável parte do público adora ver e rever e rever mais uma vez, incansavelmente. Geralmente assistem tantas vezes porque tais obras costumam comover, mesmo que de forma nada sutil, aqueles que buscam sentir-se bem ou esperançosos com uma história de vida realmente desafiadora, que sempre (!) termina deixando o público alegre e emocionado de ter acompanhado algo tão especial.

Tais obras são conhecidas como ‘feel good’ (no traduzido, ‘sentir-se bem), que acabaram de ganhar mais uma companhia no grupo, No Ritmo do Coração, tocante material dirigido pela cineasta Sian Heder, que acaba de chegar no catálogo da Amazon Prime Video.

Dentre os predicados que pulsam vivamente nessa comédia dramática estrelada por Emilia Jones, mais conhecida pelo público como a irmã do meio da família Locke da série de fantasia Locke & Key da Netflix, temos a sinceridade como o ingrediente principal, que encharca a narrativa de Heder na compaixão e graça.

É bom que se diga que No Ritmo do Coração apela um tanto na manipulação emocional em sua meia hora derradeira, porém, algo remanesce intacto e puro: a performance que equilibra técnica e paixão de modo hipnotizante pela jovem e talentosa Emilia Jones, que interpretou a canção “Both Sides Now” da lendária Joni Mitchell, apenas para terminar de explodir nossos corações.

O longa-metragem da Amazon Prime Video retrata Ruby (Emilia Jones), 17 anos, único membro ouvinte de uma família de surdos – uma CODA (child of deaf adults), filha de adultos surdos. Sua vida gira em torno de atuar como intérprete para seus pais (Marlee Matlin, Troy Kotsur) e trabalhar no barco de pesca da família todos os dias antes da escola, ao lado de seu pai e irmão mais velho (Daniel Durant). Mas quando Ruby se junta ao clube do coral de sua escola, ela descobre um dom para cantar. Incentivada por seu entusiasta, impaciente e amoroso professor (Eugenio Derbez) a se inscrever em uma prestigiosa universidade de música, Ruby se encontra dividida entre as obrigações que sente para com sua família e a busca de seus próprios sonhos.

Mesma receita, ingredientes diferentes

Curioso como a Amazon Prime Video escolheu lançar No Ritmo do Coração e Bar Doce Lar de George Clooney no mesmo dia, em vista que ambas são narrativas sobre o amadurecimento de seus devidos protagonistas. Obviamente que cada história segue seu próprio rumo, entretanto, fica mais do que prático notar as duas como parte de uma fórmula hollywoodiana muito familiar.

Narrativas deste tipo são um presente antecipado para alguns atores que aproveitam tal estrutura convencional para explorar e transmitir ideias e traços singulares, que naturalmente aproximam público da história. No filme dirigido por George Clooney, quem se destaca é Ben Affleck, enquanto na obra de Sian Heder presenciamos uma apaixonante Emilia Jones.

Agora, o que torna No Ritmo do Coração, talvez, um tantinho mais peculiar são os ingredientes da receita, que nos mergulha emocionalmente no dia a dia de uma família parte da comunidade surda. Também foi de extrema sensibilidade escalarem atores profissionais surdos para interpretarem pais e irmão de Ruby. Todos se saem bem à sua devida maneira, especialmente Troy Kotsur, pai da garota, especialmente quando compartilham uma comovente cena onde temos ambos sentados na caçamba de uma picape.

Foi pelo clã no centro dessa história que nos envolvemos tão facilmente com os conflitos e questões familiares, que apresentaram particularidades, claro. Ainda assim, são uma família como qualquer outra, tendo as mesmas dúvidas de como irão resolver seus problemas financeiros, enquanto tentam educar seus filhos da melhor maneira que podem.

Além da fórmula

Lembrando que o filme em questão da Amazon Prime Video é um remake baseado na obra A Família Bélier (2014) de Éric Lartigau, também uma comédia dramática. E como toda dramédia que se preza, teremos bastante risos, assim como lágrimas. Ambas ações genuinamente cativantes.

A narrativa começa mais leve, como esperado, apresentando a rotina diária da família em situações comicamente constrangedoras pela perspectiva da protagonista, que incluem pais muito apaixonados que não conseguem se desgrudar um do outro, principalmente no quesito carnal, entendem?!

Com o avanço da história, vamos naturalmente observando os conflitos entre os componentes em destaque. O roteiro escrito por Sian Heder oferece peças e ferramentas para cada um deles trabalhar algo muito pessoal, como o irmão mais velho que vê seus pais duvidando de sua capacidade de entendimento e comunicação para assumir os negócios pesqueiros.

Quando chegamos no último terço do filme, fica fácil perceber que a narrativa força uma barra criando situações que provavelmente levarão o público a abrir as torneiras.

Tudo bem! Até mesmo porque Emilia Jones mostrou uma última vez em No Ritmo do Coração, que nosso potencial, o melhor em cada um de nós, sempre desperta quando estamos diante daquilo que tanto amamos e que toda vez que isso acontece não conseguimos nos segurar, comunicando-nos por todas as formas e meios que temos disponíveis.

A obra de Sian Heder não possui os mesmos atributos técnicos e complexidade de O Som do Silêncio, outra obra cinematográfica que trata da comunidade surda, também disponível na plataforma da Amazon Prime Video. Todavia, ambas produções revelam a verdade de ter o coração entre as mãos, sinalizando para todos aqueles abertos à comunicação e o amor.

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