Críticas

Crítica | Nocaute

Quando se é boxeador, acostuma-se a levar soco todo momento. Porém, a vida pode acabar dando um soco muito mais forte do que muitos adversários. O filme Nocaute tem uma premissa básica de quase todo longa sobre boxeadores: o da superação. Este não é exceção à regra, mas é uma história diferente das já contadas até hoje – e muito bem contada.

Billy Hope (Jake Gyllenhaal, de O Abutre) está no auge da sua carreira de boxeador. Sem nunca ter perdido uma luta sequer, Billy, criado em orfanato na cidade de Nova York, conseguiu tudo através do esporte. Ele tem uma linda esposa, Maureen (Rachel McAdams, de Meia Noite em Paris), que conheceu quando ambos viviam no orfanato; uma adorável filha, Leila (Oona Laurence, de 13 anos, em seu primeiro papel de destaque); e mora em uma belíssima mansão recheada de caros carros esportivos.

Mas como nada dura para sempre, ocorre uma tragédia na vida dele que o faz perder tudo. Inclusive, o amor e o respeito de sua filha Leila. No fundo do poço, pede ajuda para um experiente treinador, Tick Wills (Forest Whitaker, de O Mordomo da Casa Branca) para treiná-lo. Billy quer recuperar sua vida, mas, principalmente, a sua própria filha.

Os filmes sobre boxeadores misturam muito bem ação e drama. Por isto, os atores que interpretam os boxeadores precisam ser muito bem afiados para que possam demonstrar força física, mas ao mesmo tempo uma carga dramática compatível com a história que estejam contando. Jake Gyllenhaal consegue aliar força física e carga dramática na interpretação de Billy. Percebe-se a preparação dele para fazer este personagem, inclusive em seu porte físico: Jake está com a aparência de um boxeador profissional. Não só ao porte físico o ator deu atenção. A voz, aos gestos e as maneiras de se expressar estão impressionantemente realistas e condizentes com a de boxeador.

A atriz Rachel McAdams também está interpretando sua Maureen muito bem. Ela mostra a força e a confiança que este personagem tem. Tanto que é o personagem dela que negocia as lutas de Billy com o empresário dele, Jordan Mains (feito pelo rapper 50 Cent, de Rota de Fuga). Um destaque especial vai para a atriz mirim que faz a filha do casal Billy e Maureen: Oona Laurence. Apesar de ter atualmente 13 anos, a garota faz um personagem no qual o roteiro exige uma dramaticidade muito sutil, mas importante para a história e ela cumpre perfeitamente o que é exigido. Não poderia deixar de citar o ator Forest Whitaker. Ele parece sempre acertar nas escolhas e nas interpretações que faz. O treinador Tick Wills de Whitaker é o homem que sabe que tem suas qualidades e suas fraquezas e que explica isto aos seus alunos. Exige deles e os lembra do porquê de estarem no ringue, lutando.

A direção deste longa coube a Antoine Fuqua. Ele também foi diretor de Dia de Treinamento e Atirador. Antoine soube muito bem como filmar o roteiro original de Kurt Sutter (criador da série Sons of Anarchy). Assim como o personagem de Forest, Fuqua soube extrair do material que tinha cenas memoráveis de lutas e explorou bem as de diálogo. Ele tem demonstrado ser um diretor que também sabe unir força física com força emocional.
Aliás, este filme é o primeiro escrito por Kurt Suttler. Até agora, ele tinha sido roteirista de séries.

Sob a responsabilidade do italiano Mauro Flore, a fotografia de Nocaute está impressionante. Mauro foi diretor de fotografia de filmes como Avatar e Esquadrão Classe A. Ótimos exemplos do impecável trabalho dele, as cenas de luta, graças às tecnologias atuais – principalmente as câmeras menores e mais leves – jogam os espectadores entre os lutadores. Desta forma, percebe-se mais precisamente a animalidade de uma luta, na qual alguns fluidos corporais surgem, principalmente, suor e sangue.

À primeira vista, esta produção pode parecer mais uma de boxeador e de superação das dificuldades, entretanto, esta história escrita por Suttler, a interpretação de Jake Gyllenhaal, a direção de Antoine Fuqua e a fotografia de Mauro Flore, combinadas, elevam o filme a uma categoria superior.

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