Hollywood está buscando apostar no certo, o que os estúdios investem e apoiam são filmes que, por diversos motivos, já possuem seu público conquistado. Assim, há uma ploriferação de longas provindos de sequências, reboots ou os diversos universos compartilhados. Essa tática que parece sucesso certo pode também se mostrar um grande tiro no pé, uma vez que parece ter certo descuido em relação ao próprio filme, já que o público estaria atraído pela obra só pelo mundo que ela se insere.
E é perceptível que O Caçador e a Rainha do Gelo nasce desse pensamento hollywoodiano. Continuação de A Branca de Neve e o Caçador, uma tentativa de atualização para o clássico conto de fadas trazendo uma nova roupagem para a história. Seguindo certo sucesso do primeiro longa, essa nova aventura do caçador (Chris Hemsworth) serve tanto como prequel como continuação e tenta dar uma maior profundidade para os personagens que já apareciam no primeiro filme e também dar uma outra dimensão ao universo dessas histórias.
Assim, o filme utiliza bastante tempo para narrar os fatos e tragédias por trás do caçador, da rainha má Ravena (Charlize Theron) e da nova personagem, a rainha Freya (Emily Blunt), utilizando o pressuposto da história não contada, a verdade por trás do mito e etc, algo que foi o atrativo do primeiro filme, mas que parece servir como firula no segundo, como se não houvesse nada melhor a ser contado. E para essa nova história conseguir ser contada é necessário que a trama seja dividida antes e depois de A Branca de Neve, na primeira parte a presença constante de um narrador que necessita explicitar todos os conflitos entre Ravena e sua irmã Freya e também de Eric (o Caçador) e seu romance interrompido da forma mais rápida possível, pressa confundida com concisão transforma esse prólogo numa falha introdução de personagens e seus dramas, não há tempo para a empatia, só pela simples compreensão, e entender é bem diferente de se envolver com o longa.
E assim, o filme segue para sua segunda parte, a aventura de o caçador para deter a rainha do gelo, enfrentando o reino poderoso de Freya que impede o amor entre seus súditos, política que colocou fim a sua história de amor. É com essa motivação externa e interna que o filme parece acreditar estar nos trilhos certos, no entanto a narrativa demonstra-se bastante falha, os desafios dos heróis e até mesmo dos vilões se resolvem com uma grande facilidade, as lutas que parecem perdidas são ganhas com um poder inexplicável que surge quase do nada.
Quando as coisas não acontecem dessa forma, o roteiro demonstra-se totalmente previsível, é fácil desvendar o que vai acontecer. Tudo é batido, é clichê em O Caçador e a Rainha do Gelo, e é interessante perceber que em algumas passagens o filme faz questão que os personagens expliquem ações que poderiam ser um pouco surpreendente, realizando uma subestimação para com o público.
E em muitos momentos é notável que os realizadores entendem que narrativamente o longa não funciona, assim desenvolve núcleos de alívio cômicos que são apenas distrações para o público, se o filme não vai bem uma ou outra piada pode trazer o espectador para a trama. Assim parece haver um descompasso entre esse núcleo e a história como um todo, e no sentido dessa desventura de Eric e seu grupo o filme é permeado por inúmeras daquelas falas épicas, que na verdade não dizem nada, apenas uma falha tentativa de dar uma dimensão gigantesca a um filme que é muito pequeno.
E o filme demonstra seu tamanho até mesmo nas performances de seu elenco. Recheado com grandes atores, com um incrível plantel feminino, Jessica Chastain, Emily Blunt e Charlize Theron, todas parecem estar travadas no longa, percebe-se que elas tentam dar um peso maior as suas próprias falas, e arrisco que seria impossível qualquer ator conferir uma boa atuação ao texto de O Caçador e a Rainha do Gelo – há até um esforço das excelentes atrizes, mas é algo que não se encaixa no filme, que não consegue compreender o talento de seu elenco.
Então, a continuação de Branca de Neve e o Caçador demonstra que nem toda aposta certa é sinônimo de sucesso, demonstrando um enorme exercício mercadológico, uma tentativa desesperada de extrair público e lucro de toda história já conhecida pelo o público, tentando arrancar sequências, prequels, spin-offs e entre tantas outras coisas, que ultimamente vem entregando produtos tão descartáveis quanto O Caçador e a Rainha do Gelo.