Este é o quinto filme da franquia O Exterminador do Futuro, iniciada em 1984, e que pretende ser o início de uma nova, com mais dois filmes planejados para 2017 e 2018. Sendo esta a intenção, então, pode-se dizer que as coisas não começaram da maneira imaginada.
O filme começa com uma premissa conhecida: no ano de 2029, a guerra entre humanos e máquinas chega a seu momento decisivo. Porém, o supercomputador Skynet tenta uma última cartada e, por meio de uma máquina do tempo, envia um exterminador modelo T-800 para o ano de 1984 para matar Sarah Connor (a inglesa Emilia Clarke, da série de TV Game of Thrones), a mãe do líder da resistência humana, John Connor (o australiano Jason Clarke, de Planeta dos Macacos: O Confronto). Para proteger e salvar sua mãe e também a si mesmo – pois se ela morrer, ele não nascerá – John envia o sargento Kyle Reese (o também australiano Jai Courtney, de Divergente), que, na verdade, é seu pai, para a mesma época. Até aqui, o filme bate com o original, parecendo uma homenagem ao próprio, mas, é exatamente a partir daí que as coisas começam a ficarem tortas…
Ao invés de encontrar-se com uma Sarah Connor indefesa diante de um ciborgue assassino, ele encontra uma guerreira armada até os dentes em companhia justamente de um ciborgue (Arnold Schwarzenegger, retornando ao papel que não fazia desde O Exterminador do Futuro 3 (2003), chamado de “O Guardião”, mas que Sarah chama de “Pops” (traduzido na versão legendada como “Papi”!). E a surpresa não para aí: quase ao mesmo tempo também aparece um exterminador modelo T-1000 (o sul-coreano Lee Byung-hun, de G.I Joe: A Origem de Cobra) com a missão de exterminar a todos. Um passado bem diferente ao que John Connor havia contado e que faz com que Kyle – assim como toda a plateia – fique completamente confuso.
E para aumentar a confusão, Sarah conta a Kyle que um exterminador foi enviado ao ano de 1973 para protegê-la depois da morte de seus pais e tem planos de viajar para o ano de 1997, em uma máquina do tempo construída por “Pops”, para destruir a companhia Cyberdine, que criou Skynet. Porém, Kyle diz a Sarah para, ao invés disso, irem a 2017, pois, durante sua viagem no tempo teve uma visão dele mesmo quando criança falando de um sistema chama Gênesis, que vai fazer com que Skynet controle todo o planeta. Eles vão para 2017 e lá encontram o seu filho John que trabalha em sua própria máquina do tempo na Cyberdine e que foi transformado em um exterminador, chamado de T-3000, por Skynet (o esquisito Matt Smith, da série de TV Doctor Who).
Deu pra entender até aqui? Talvez com alguma dificuldade. Esse é o principal problema em O Exterminador do Futuro: Gênesis, o excesso de novas informações que confundem a história a ponto de os personagens terem que ficarem explicando o tempo todo sobre viagens no tempo, realidade alternativa, etc. Essas novas informações não só bagunçaram como distorceram o roteiro e ideia originais criados pelo diretor e roteirista James Cameron (Titanic) e pela roteirista e produtora Gale Anne Hurd (The Walking Dead).
Essa bagunça toda fez com que Schwarzenegger, que supostamente deveria ser o astro do filme, se tornasse um coadjuvante. Um coadjuvante de luxo, é verdade, mas seu papel no filme acabou por tornar-se secundário. Um talento que foi desperdiçado foi o de J. K. Simmons (vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Whiplash – Em Busca da Perfeição). Simmons faz o papel do detetive O’Brien, um policial alcoólatra que testemunhou a chegada dos viajantes do futuro. Mas seu personagem foi mal elaborado e, apesar de toda a competência do ator, poderia muito bem ser dispensado, pois não acrescenta nem faz falta em nada na história. Transformar John Connor em vilão após quatro filmes no qual era tido como líder e salvador da humanidade foi uma péssima ideia.
Embora não esteja mal no filme, Jai Courtney não é o ator certo para o papel de Kyle Reese, pois ele em nada lembra o personagem vivido originalmente por Michael Biehn (de Aliens, o Resgate). E é com Kyle Reese que vem um dos furos do roteiro: no primeiro filme, a foto que Kyle tinha de Sarah é destruída durante um ataque de um exterminador, mas ela milagrosamente reaparece um pouco antes de sua viagem no tempo. Poderiam ter exterminado essa mancada…
Apesar de toda essa “zona”, o filme tem suas qualidades. Os bons efeitos especiais, que vão desde o uso de dublê de corpo para o primeiro exterminador de Arnold Schwarzenegger até a tecnologia digital; a direção correta de Alan Taylor (embora não tão boa como em seu filme anterior, Thor: O Mundo Sombrio); o humor com “Pops” tentando parecer mais humano (o riso forçado dado por Schwarzenegger é hilário); o uso das frases-clichês tais como “Venha comigo se quiser viver”, “I’ll be back”. Só faltou o “Hasta la vista, baby”. Boas cenas de ação e, principalmente, a atuação de Emilia Clarke. Além de ter uma ligeira semelhança física com Linda Hamilton, a Sarah Connor original, ela convence como a guerrilheira anti-máquinas de forte personalidade. Também é digna de nota a crítica que o filme faz à dependência que as pessoas têm da tecnologia atual com uso obsessivo de computadores, celulares, tablets, entre outros equipamentos.
O filme, em si, não é ruim, mas também não é melhor do que as dezenas de filmes de aventuras que Hollywood lança todos os anos nas salas de exibições ao redor do mundo. Pode ser visto como uma boa diversão no fim de semana, mas assistir uma segunda vez vai ser chato. Se os produtores vão mesmo continuar com a franquia, é melhor acionar a máquina do tempo de “Pops” e trazer James Cameron de volta para dar um “upgrade” nessa mesma franquia que teve uma queda de qualidade notória desde que o diretor de Avatar afastou-se para dedicar-se a outros projetos.
E, com todas essa idas e vindas pelo tempo, felizmente os roteiristas não se lembraram de trazer de volta a ciborgue T-X, pois, se o fizessem, imaginem como ficaria a história…