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Crítica | O Que Aconteceu, Miss Simone?

Netflix produziu o Documentário O Que Aconteceu, Miss Simone? e lançou na última sexta-feira para seus assinantes o belíssimo resultado. Alternando gravações da própria Simone narrando fatos de sua vida com suas apresentações, o filme é bem sucedido ao dissecar a alma por trás da artista.

Com um histórico de vida conturbado, Nina Simone alcançou grande status no cenário musical mundial. Considerada uma estrela (compositora ou intérprete), teve declínios e auges que preenchem os 102 minutos de duração do filme sempre despertando muita curiosidade. Era uma artista intensa seja com trabalhos de ativismo político ou na frente do piano.

De maneira bastante orgânica, a diretora Liza Garbus cria uma colcha de retalhos com fatos que ocorreram na carreira da artista e cenas dela interpretando seus grandes clássicos. As canções caem como uma luva para simbolizar o momento que o documentário aborda. Dessa forma, músicas como “Mississippi Goddam” ou “Backlash Blues”  ganham perspectivas diferentes em face dos tempos vividos pela cantora em pleno conflito racial nos Estados Unidos.

Mesmo diante de um relacionamento conflituoso, Nina Simone era mestre em se apossar de músicas sentimentais e refletir a dor e a paixão de letras fenomenais como “I Loves You Porgy”, de George Gershwin. Seu marido foi, por muito tempo, seu agente, seu amante e seu algoz. Deixou marcas indeléveis na vida da cantora, como podemos constatar nos depoimentos da própria Simone e de sua filha, Lisa Celeste Stroud.

Em determinado momento, o telespectador se depara com uma Nina Simone assustadora. Em meio ao trágico período de conflito racial norte-americano, Nina registra declarações polêmicas sobre violência e sobre usar de agressividade para atingir objetivos. Facetas do ser humano Simone muito bem exploradas pelo documentário.

Escolhidos a dedo, todos os amigos e familiares que participam da obra narrando o impacto que Miss Simone deixou em suas vidas dão verdadeiros insights sobre o convívio difícil com ela. Nina tinha uma personalidade explosiva, vide uma cena bastante desconcertante no festival de Montreaux em que obriga agressivamente uma espectadora a se sentar em seu assento após interromper o show.

Muito bem produzido, o filme merece ser conferido por aqueles que amam o legado que esta artista de mão cheia deixou e por aqueles que ainda não são familiarizados com seu trabalho. A Netflix já havia produzido o simpático, porém superficial, documentário sobre Tony Bennet anteriormente (The Zen of Bennet), porem desta vez capricha em retratar uma artista de maneira tão original e tão sincera.

Nina Simone ainda vive toda vez que coloco meu CD pra tocar “My Baby Just Cares for Me” ou “Just in Time”. Bom poder conhecer agora um pouquinho mais de sua história pessoal em uma obra tão completa.

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