Críticas

Crítica | Olhos da Justiça

Quando um filme em outra língua faz um tremendo sucesso nos Estados Unidos, logo, logo alguém de Hollywood resolve fazer uma versão em inglês. O filme argentino Os Segredos de Seus Olhos (2009), de Juan José Campanella, com o célebre ator Ricardo Darín, ganhou o Oscar de Filme em Língua Estrangeira de 2010 e não demorou muito para resolverem fazer a versão norte-americana dele: Olhos da Justiça.

Em 2002, dois investigadores do FBI são designados para trabalhar na polícia de Los Angeles para ficarem de olho em possíveis células terroristas que possam estar tramando um novo atentado como o de 11 de setembro. Eles são Ray (Chiwetel Ejiofor, de 12 Anos de Escravidão) e Jess (Julia Roberts, de The Normal Heart). Outra novata é a advogada da Procuradoria, Claire (Nicole Kidman, de Obsessão). Este trio tem como companheiros de trabalho, Bumpy Willis (Dean Norris, da Breaking Bad) e Reg Siefert (Michael Kelly, da série House of Cards).

Mas além de ficarem de olho em grupos de muçulmanos que possam ser, na verdade, terroristas, eles também precisam trabalhar na investigação de outros casos que surgirem no departamento. E assim acontece ao saberem que o corpo de uma jovem foi encontrado em uma caçamba. Porém a jovem em questão não era uma jovem qualquer, era Carolyn (Zoe Graham, de Boyhood: Da Infância à Juventude), filha da agente Jess. Assim, começa a caçada ao assassino dela que é interpretado pelo ator Joe Cole, de Uma Longa Queda.

Julia Roberts está maravilhosa no papel da agente Jess. Percebe-se claramente o sofrimento do seu personagem através do rosto dela. A variação de alegria, quando cenas de flashback de Jess e Carolyn são mostradas, e tristeza e melancolia, quando o personagem de Julia aparece nos dias de hoje são claríssimos. Além, obviamente, da raiva e do ódio demonstrados por quem tenha cometido o crime.

Outro que deixa bem claro em suas expressões e gestos, os sentimentos pelos quais o personagem que interpreta passou desde que o crime ocorreu e o impacto desse até o presente momento que é quando Olhos da Justiça se passa é Chiwetel Ejiofor. Nicole Kidman é, como sempre, Nicole Kidman. Ela parece escolher personagens que se pareçam com ela de certa forma.

Dean Morris faz um personagem bem diferente dos que costuma fazer nas séries em que apareceu. Um cara mais bonachão e companheiro. Diferente do personagem de Michael Kelly, que por razões que a história mostrará, é bem obediente, porém um verdadeiro chato. Joe Cole acaba tendo um destaque até um pouco maior do que Chiwetel Ejiofor e Julia Roberts, porque ele acaba interpretando a dois personagens e que são completamente opostos.

A direção e a adaptação do roteiro de Olhos da Justiça são feitas pelo norte-americano Billy Ray. Ele é um dos roteiristas do filme Jogos Vorazes e de Capitão Phillips, porém, na direção de filmes, é novato. Ray acabou fazendo alterações para ambientar a história ao contexto dos Estados Unidos, mas mantendo muitas sacadas do roteiro original de Juan José Campanella e Eduardo Sacheri intactas. O que acabou deixando a impressão de o filme ser uma quase cópia do original argentino. O que acaba tirando um pouco da força que a história tem se o espectador já assistiu O Segredo de Seus Olhos. O curioso é que um dos produtores-executivos é o próprio Campanella.

Porém uma subtrama que no filme argentino anda paralelamente à trama principal, no remake norte-americano, Ray acaba que não aproveitando direito. Fica quase que jogada na tela, sem um desenvolvimento completo dela.

Inclusive, algumas cenas praticamente filmadas quase como no original latino-americano, não são tão bens feitas. Deixando a impressão de ser um filme não tão bem executado em seus detalhes como o anterior. Estas coisas acabam sobressaltando ao se fazer um remake. E o responsável pela direção de fotografia deste longa é Daniel Moder, do telefilme The Normal Heart (2014), no qual trabalhou Julia Roberts, também. Aliás, ele é o marido dela.

Já a edição de Olhos da Justiça coube ao Jim Page (João e Maria: Caçadores de Bruxa, 2013). Page soube muito bem o que fazer para não acabar confundindo a cabeça do espectador com as constantes idas e vindas dos flashbacks ao longo da história. Quem assiste entende que são cenas de flashback, apesar delas não serem tão diferentes das que se passam atualmente.

O compositor argentino Emilio Kauderer, que trabalhou no original argentino, acabou trabalhando no remake americano também. A trilha sonora também foi sua responsabilidade e ele acertou fazê-la, assim, como já tinha acertando na primeira vez. Porém, como as épocas nas quais os dois filmes se passam são diferentes, ele, obviamente, a fez diferente. Deu o tom certo ao novo filme.

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