Máfia

Crítica – Os Muitos Santos de Newark

Prequela da celebrada série televisiva Família Soprano apresenta enredo apático e desnivelado, mas pelo menos consegue revelar o que se encontra no centro de Tony Soprano

Este é definitivamente um título apropriado. Realmente os homens que comandam as máfias na região de Newark, estado de Nova Jersey, devem ser classificados como santos. Mas, resta saber de qual tipo? Serão padroeiros ou aqueles feitos de pau oco?

Apesar do longa-metragem Os Muitos Santos de Newark nem conseguir chegar perto do impacto causado pela série Família Soprano (1999 – 2007), ainda podemos afirmar que o atual filme baseado na série de David Chase, e dirigido pelo diretor Alan Taylor, consegue manter a dubiedade do material original, que transformou a carreira do falecido James Gandolfini (1961 – 2013). A interpretação de Tony Soprano por Gandolfini é amplamente considerada uma das maiores performances da história da televisão americana de todos os tempos.

A colisão sublime entre texto e o trabalho do ator é o coração da hipnótica ambiguidade que manteve o público fidelizado e vibrando por seis temporadas, até o súbito final que escureceu quaisquer possibilidades de respostas fáceis, sendo coerente com a narrativa desenvolvida por Chase.

Agora, quatorze anos depois do fim de Família Soprano resolveram mostrar as origens do agressivo chefe da máfia. O jovem Anthony Soprano (Michael Gandolfini) está crescendo em uma das eras mais tumultuadas da história de Newark, tornando-se um homem assim que gângsteres rivais começam a se levantar e desafiar o poder da família do crime DiMeo sobre a cidade cada vez mais dilacerada pela disputa de raças. Pego na mudança dos tempos está o tio que ele idolatra, Dickie Moltisanti (Alessandro Nivola), que luta para administrar suas responsabilidades profissionais e pessoais – e cuja influência sobre seu sobrinho impressionável ajudará a transformar o adolescente no todo-poderoso chefão da máfia que veremos mais tarde.

Narrativa indecisa

Embora o excepcional final de Família Soprano, certamente ficaram alguns tantos que se sentiram órfãos pelo cessar desta história. Para estes, portanto, Os Muitos Santos de Newark será um evento diferenciado, já que poderão rever alguns dos personagens que tanto se apegaram ao longo de seis temporadas. Obviamente, todos estes como versões mais jovens.

A obra de Alan Taylor (Thor: O Mundo Sombrio; O Exterminador do Futuro: Gênesis; Game of Thrones) fez ainda mais que isso, preenchendo a narrativa com alguns ‘fan services’ para refrescar e confortar seu público fiel saudoso da série.

Analisando, agora, podemos refletir se a dupla David Chase/Alan Taylor tivesse se preocupado menos com os tais ‘fan services’, e mais com o roteiro, talvez teríamos uma obra muito (!) melhor do que esta produção disponível no catálogo da plataforma HBO Max.

No rolar dos créditos finais de Os Muitos Santos de Newark, provavelmente, sentirão um bocado de frustração, em vista que o material parece completamente sem foco aqui; além de um tanto apagado, sem reação.

Na primeira metade do filme, observamos uma trama que se divide entre mostrar os primeiros anos do pequeno Tony, que acompanha atentamente as ações de seu tio Dickie Moltisanti, papel do talentoso Alessandro Nivola, enquanto testemunhamos as revoltas de Newark em 1967, que transformaram a América, levando a comunidade negra a se rebelar com os abusos sofridos pela sociedade, todos lutando por uma questão de justiça social.

Boas pretensões que infelizmente não harmonizaram. Deixando a narrativa atravessada. Sem impacto emocional, tanto para um lado, quanto o outro.

O matador caloroso

É no mínimo emocionante ver o jovem Michael Gandolfini, assumindo a versão jovem de Tony Soprano. Pai e filho unidos por um personagem especial, que cativou o público de uma maneira como poucos fizeram.

Através de Michael Gandolfini conseguimos notar os primeiros traços de vulnerabilidade vistos na performance de seu pai, especialmente em alguns momentos chave da série de televisão, como quando não conseguiu conter as lágrimas ao lembrar dos patinhos que cuidou, e um dia resolveram voar para longe, abandonando o chefão da máfia.

Muito cativante perceber que o perigo incontrolável de Tony Soprano não está na frieza de seus atos, mas no calor (tipicamente italiano). A quentura fulminante de um homem protetor, zeloso e carinhoso, representam o destino de um homem que nunca saberá um dia sequer na vida o que é comer em paz, sem ter de olhar para a porta.

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