Nova chance

Crítica - Oxigênio

Produção sci-fi da Netflix aposta na formidável performance de Mélanie Laurent em história de sobrevivência.

Tente puxar pela memória quantas vezes durante sua vida, inspirado em algo ou alguém, e acabou por tomar emprestado alguns dos elementos daquilo que tanto apreciava para si. Consegue imaginar quantas vezes isso lhe ocorreu durante sua trajetória?

Sem adentrar na filosofia baumaniana, que diz que nossas personalidades não são formadas por cada um de nós, mas parte de um sistema global econômico que molda o que julgamos ser o que nos representa melhor. Mesmo assim, todos sentimos um certo grau de segurança e aceitação quando nos encontramos em um meio onde conseguimos nos sentir mais à vontade.

Deste modo, se a ideia for esta, é provável que o cineasta francês Alexandre Aja sentiu-se inspirado ao assistir estes devidos filmes: Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) de Ridley Scott; A Ilha (2005) de Michael Bay; Enterrado Vivo (2010) de Rodrigo Cortés; e Interestelar (2014) de Christopher Nolan.

E, curioso que com o cinema, quando se pega emprestado as ideias de um outro, existe a probabilidade de acabar originando algo que possui vida própria.

Este é o caso de Oxigênio, produção que se encontra disponível no catálogo da Netflix, que nos coloca na pele de uma jovem mulher (Mélanie Laurent) que despertou dentro de uma unidade criogênica. Ela não se lembra quem é, ou como foi parar lá dentro. Porém, o nível de oxigênio da unidade criogênica está se esgotando, e ela precisa recuperar sua memória se quer ter uma chance de sobreviver a este pesadelo.

Mélanie Laurent

Provável que já tenham escutado ou lido a expressão ‘filme de ator’, quando o performista domina por toda a narrativa, ganhando maior destaque. Quando isso ocorre, geralmente, se diz que o filme foi do ator ou atriz. Bom, se for assim, poderão dizer que Oxigênio da Netflix é de Mélanie Laurent. No entanto, estarão errados! Já que a produção não é dela, mas é ela.

A atriz nascida em Paris, na França, apareceu para o mundo como o rosto da vingança judia no espetacular Bastardos Inglórios (2009) de Quentin Tarantino. Agora, que Hollywood conhecia sua face, conseguiu alguns outros papéis interessantes, como Toda Forma de Amor (2010), Truque de Mestre (2013) e a produção original Netflix Esquadrão 6 (2019).

Contudo, desde o trabalho ao lado de Tarantino, não se via uma performance tão vistosa como esta em Oxigênio de Alexandre Aja, que praticou nesta produção original Netflix, a mesma ideia de dois anos atrás com o terror Predadores Assassinos (2019), só que no lugar de Laurent, estava a atriz Kaya Scodelario (franquia Maze Runner; Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar).

Diferentemente do longa estrelado por Scodelario, de roteiro mais esquematizado e ritmo maçante, Oxigênio consegue se aproveitar melhor da ideia de possuir praticamente um cenário, apenas. Isso ocorre por dois motivos: primeiro, um roteiro que apesar da falta de criatividade nos conceitos, possui uma variedade de plot twists capazes de manter o assinante Netflix engajado com o que assiste; e segundo, uma performance fibrosa e emocional de sua protagonista.

Se for hipnotizado por essa trama, o mérito é de Mélanie Laurent, definitivamente.

Sobreviver

Em 2013, o autor de cinema Alfonso Cuarón lançou o inebriante Gravidade, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney. Na ficção científica, testemunhamos a luta por sobrevivência da protagonista feminina enquanto tenta retornar a Terra, após alguns desastres envolvendo o telescópio e a nave espacial.

Ambos, Cuarón e Aja, tiveram a mesma intenção. Exaltar a sobrevivência como um ato de resistência e perseverança na vida. O primeiro, conseguiu envolver mais com uma narrativa que dá espaço para o espectador imaginar alguns cenários emocionais de sua protagonista; já com a obra de Alexandre Aja, apesar de ser possível se conectar com o enredo, não existe este espaço para o assinante da Netflix tentar supor qualquer ideia, dado que tudo se encontra pré-estabelecido.

Ainda bem, que Mélanie Laurent foi capaz de simbolizar a máxima de Albert Camus que disse – “Eu não acredito, mas eu escolho acreditar.” Sem tal ilusão flamejante, Oxigênio da Netflix não teria o mínimo básico para sobreviver.

Que nos agarremos ao mesmo desejo que a protagonista nesta era de dúvidas e sofrimento que demora a cessar.

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