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Crítica | Passageiros

Popularidade é algo que todo filme almeja. Um blockbuster por pressões comerciais, ou um filme mais alternativo para tentar propagar suas pretensas inovações temáticas e estéticas. O grande problema é quando isso é levado a cabo como se fosse uma espécie de fórmula a ser seguida, tanto em um exemplo quanto no outro. Passageiros é um típico exemplar disso, nesse caminho exagerado em busca de popularidade o longa desperdiça toda sua potência.

Estrelado por Chris Pratt e Jennifer Lawrence, Passageiros é uma ficção científica que poderia utizar seu elenco para trazer um bom momento para o mundo sci-fi, gênero que, apesar de boas obras (Ex-Machina, por exemplo), não vive sua maior popularidade. No entanto, sem ser baseado de outro meio, ou proveniente de uma franquia, fato que só deveria reforçar a originalidade do longa, faz com que Passageiros seja um filme que a todo momento tente agradar de alguma maneira. Não só pelo seus conhecidos rostos, mas por tentar forçar uma conformação de diversos gêneros cinematográficos a fim de agradar todos tipos de público, sem contar a alta explicação de tudo o que ocorre no universo fílmico, o que torna Passageiros incrivelmente palatável.

Passageiros se passa numa nave espacial rumo a uma nova colônia humana. A viagem terá duração de 90 anos e cinco mil passageiros dormem em cápsulas de criogenia que serão abertas apenas próximo ao planeta destino. Todavia, devido a uma pane elétrica, a cápsula de Jim (Pratt) é ativida muito antes do tempo. Com isso, o protagonista fica tentando descobrir o que pode ter acontecido com a nave e se há alguma possibilidade de sobreviver. Ali, Passageiros parece demonstrar alguns pontos bastante interessantes, o ritmo um pouco mais cadenciado, na investigação daqueles problemas ainda misteriosos e no desenvolvimento através de uma premissa simples e bem objetiva, a pane nas máquinas de criogenia, e o dilema de viver sozinho durante uma viagem intergalática.

Nesse momento, o filme encerra seu primeiro terço como se esgotasse suas ideias iniciais, como se já não suportasse o que havia construído. Dessa forma, mesmo que seguindo sua premissa, Passageiros parece rumar por caminhos que beiram o absurdo para conseguir manter seu público. Para fechar o primeiro ato, Jim decide acordar Aurora (Lawrence), tirar a garota de seu sono criogênico para ter uma companhia para sua viagem sem fim. Passageiros, então, na pretensão de renovar seu ânimo e de agradar a mais de um público, torna-se um romance espacial.

Não há problema algum em Passageiros seguir por esse caminho do sci-fi romântico; a grande questão é fundamentar isso em hipóteses absurdas de roteiro. O romance de Aurora e Jim, embora seja construído em cima de uma série de sequências fofas que conectariam os personagens, é baseado numa ação egoísta do personagem, algo que afasta o público imediatamente. Ainda que o filme tente se explicar ao longo de toda a projeção, o fato nunca é tratado como um verdadeiro peso para Jim e a grande virada do casal é perceber que era melhor viver ali e encontrar a pessoa de seus sonhos do que continuar a viver num vazio em outro planeta. Uma saída fácil que resume as problemáticas daquele personagem na figura de um príncipe encantado que age por linhas tortas, sem ser julgado por isso.

Nessa dificuldade empática dos dois protagonistas, o longa parece ir se enrolando, como se naquela situação não houvesse margem para seguir apostando no relacionamento apenas pelo relacionamento. Não há o que una aquelas duas figuras exatamente por causa da motivação forçada que ali é colocada. Assim, da mesma forma que o longa introduz Aurora, surge Gus Mancuso (Laurence Fishburne), um tripulante que também acorda, cuja função é simplesmente explicar todos os problemas que os heróis deverão enfrentar. Gus é simplesmente uma muleta que explicita o que vai acontecer, e também para representar uma força externa que colocará os protagonistas novamente juntos.

Na nova guinada da trama, o que se revela em Passageiros são escolhas que visam apenas uma popularidade. E o pior: esses caminhos são extremamente previsíveis por serem palatáveis ao extremo. Tudo está dado desde o primeiro segundo; a primeira vez que Aurora é mostrada o filme indica que haverá esse interesse romântico, depois indica a ação a caminho em seu terceiro ato na presença de Gus, explicando e avisando quando agradará certo público. Isso surge sempre carregado de um extremo didatismo visual e verbal, acompanhado de algumas frases de efeitos. Numa dessas passagens, Aurora assiste à videos antigos de amigos que conheceu na Terra e eles falam que esperam que ela conheça algo ou alguém que a preencha, deixando mais do que claro a reaproximação de Jim e Aurora que será vista no filme.

O que pode ser ressaltado em Passageiros é como se utiliza das regras da sua diegese (o mundo da ficção) para criar sequências visualmente estilosas. Aliás, cinematograficamente, esse é um aspecto muito proveitoso ao se trabalhar dentro de um gênero, enxergar as possibilidades estéticas que um nicho do cinema pode gerar. No caso da ficção científica, esse é um aspecto brilhante, estilisticamente é um dos gêneros que mais suporta esse aspecto estetizante – basta notar o visual de Blade Runner (1982), Alien (1979), Fuga de Nova Iorque (1981), ou O Planeta dos Vampiros (1965), por exemplo. Mesmo que timidamente, o diretor Morten Tyldun utiliza esse recurso ao seu favor, como na sequência já vista em partes no trailer em que Lawrence encontra-se prese numa bolha de água. Tyldun utiliza de um aspecto da ficção, a falta de gravidade na espaçonave, para realizar uma sequência cinematograficamente interessante.

Mesmo que haja essas boas ideias, Passageiros parece justamente se perder nessa infinita vontade de ser agradável e de ser um filme fácil, realizando um longa que parece apenas subestimar o seu público, ou até mesmo o gênero que se insere. Passageiros desperdiça as boas oportunidades que tem para trazer a ficção científica ao topo da popularidade.

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