Críticas

Crítica | Periscópio

O público brasileiro costuma se queixar muito do cinema tupiniquim. Tirando-se as exceções óbvias, para os espectadores os filmes nacionais são tidos como “apelativos”, porque “só tem mulher pelada”, “tem muito palavrão” (como se os filmes estadunidenses não tivessem, mas enfim…), ou porque “é muito chato”. No caso de Periscópio, essa última definição cabe como uma luva.

Periscópio conta a história do jovem Élvio (João Miguel, de Cinema, Aspirinas e Urubus) e do velho Éric (o roteirista belgo-brasileiro Jean-Claude Bernardet, de O Caso dos Irmãos Naves). Ambos vivem isolados em um apartamento em local ignorado e sua convivência não é muito boa. Um dia, sabe-se lá como, aparece bem no meio da sala, um periscópio e, a partir daí, a rotina dos dois homens muda e eles começam a agir de modo muito diferente do habitual.

O leitor deve estar estranhando pelo resumo do filme ser tão curto, mas, na verdade, não há muita história a ser contada. Não se sabe a origem dos personagens, como se conheceram e o que fez eles morarem juntos no mesmo local. Durante a maior parte do filme eles ficam fazendo e dizendo esquisitices, de modo que fica difícil resumir.

O filme é dirigido por Kiko Goifman, cujas especialidades são documentários e séries de TV. Seu primeiro trabalho para o cinema foi Filmefobia (2008), que ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Brasília, além de ter sido premiado no Festival de Cinema Independente de Buenos Aires (Argentina) e Festival de Havana (Cuba). Periscópio é o seu segundo filme para o cinema e apresenta uma direção arrastada, modorrenta, devagar quase parando. O filme é tão lento que é difícil de acreditar que tem pouco mais de 80 minutos, pois essa direção com velocidade de tartaruga faz com que pareça ter o dobro disso.

O roteiro é de autoria do próprio Goifman em conjunto com Jean-Claude Bernardet. Ambos já haviam trabalhado juntos em Filmefobia, sendo que Jean-Claude foi o intérprete cuja atuação lhe valeu o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília. Não dá para entender como o autor do roteiro d’ O Caso dos Irmãos Naves, um clássico do Cinema Novo brasileiro, pôde escrever algo assim. Tem-se a impressão de que ambos tomaram LSD para, então, escrever o roteiro.

Periscópio se salva em seus aspectos técnicos. A fotografia de Julia Zakia é muito boa e chega a lembrar produções do cinema brasileiro da década de 1980. Também é muito boa a trilha sonora de DJ Dolores, compositora premiada no Festival de Gramado de 2013 pelo filme Tatuagem. A sua música alivia a dor da tortura que é assistir o filme. Sendo assim, não será surpresa se elas forem premiadas nas suas respectivas categorias em algum festival.

Se há uma coisa que é de dar dó quando se vê, são talentos serem desperdiçados. Isso vale para o elenco composto por Bernardet e o multipremiado João Miguel. Não dá para negar que eles são muito bons no que fazem. Jean-Claude chega a ser comovente como um velho de saúde frágil e João Miguel atua como um vulcão que explode depois de muitos anos adormecido. Mas, o filme tem tanta “porralouquice” que chega o momento em que não se aguenta mais ver os dois.

Periscópio foi feito em 2013, mas está sendo lançado em circuito comercial somente agora. Cá entre nós, deveria ter permanecido inédito. Em resumo, o filme além de chato, é pretensioso. Tem a intenção de ser um “filme-cabeça”, mas tudo o que consegue é ser um pé no saco, daqueles filmes no quais se dá graças a Deus quando termina. Se ele conseguir ficar uma semana em cartaz nas sessões da meia-noite da vida, já pode considerar um grande feito.

Meu conselho para o público cinéfilo é: não percam seu tempo nem seu dinheiro para assistir esse filme sem pé nem cabeça.

Sair da versão mobile