Críticas

Crítica | Pets: A Vida Secreta dos Bichos

Pets: A Vida Secreta dos Bichos começa e termina com sequências extremamente parecidas e dignas de nota. Nada que gere um spoiler ou algo assim, mas é prazeroso ver um filme com tanta cautela em fechar seu ciclo, algo que vai além de um prazer narrativo, mas uma sensibilidade emocional que revela uma grande força nessa animação.

O filme animado então começa com um breve momento mostrando o que aqueles animais de estimação ficando sozinhos enquanto seus donos saem de casa, evidenciando toda independência daqueles personagens. O início de Pets é um convite para acompanhar que longe dos seus donos aqueles animaizinhos podem viver muitas coisas e realmente vivem. O longa acompanha Max que vive alegremente com sua dona em Nova York e durante o dia, enquanto ela está fora, o cãozinho convive com seus amigos pets. Um dia, Max recebe a notícia que deverá dividir seu lar e sua dona com o gigantesco cachorro Duke, em uma crise de ciúmes e uma constante briga por atenção os dois se perdem pela cidade e precisam se unir para voltar são e salvos para casa.

Nesse sentido, é bem verdade que Pets não traz inovação alguma, no entanto é bastante interessante notar como o filme não adota o tom da aventura cotidiana, fato que poderia funcionar, assim como acontece em Toy Story, por exemplo. Dessa maneira, os três roteiristas de Pets – Cinco Paul, Ken Daurio e Brian Lynch – tentam construir uma trama sempre apostando no absurdo, em algo que beira até o fantástico e consequentemente surpreende seu espectador.

Dessa maneira, Duke e Max em sua jornada vão parar até mesmo num submundo onde vivem animais de estimação rebeldes, que pregam a luta contra os donos, logo os dois protagonistas também se veem perseguidos pela gangue. Enquanto isso, os velhos amigos de Max também partem em busca de seu amigo, e nesse núcleo o filme deleita-se ao mostrar o dia-a-dia de pets longe dos humanos. Nas duas frentes, o Pets consegue realizar sequências bastante divertidas e extremamente cômicas, a festa vip de um cão que sempre fica sozinho e convida todos os animais da região é com certeza o momento mais inspirado do longa. O filme com certeza consegue agradar por seu humor, por colocar seus personagens nas mais inesperadas situações.

Dessa maneira, da mesma forma que o filme têm êxito em provocar risos nessas situações totalmente absurdas, mas na busca pela aventura nesses mesmos momentos, o longa começa a se perder. Em termos de aventura, Pets não consegue amarrar as inúmeras informações que oferece, assim, esse espiral de fatos absurdos faz com que o filme se perca nessa constante tentativa de colocar seus protagonistas em situações limites. Com isso, a trama se abre para diversas possibilidades, para diversas ramificações e os realizadores são obrigados a sempre pegar um atalho para tentar amarrar a narrativa, o que muitas vezes faz com que o longa deságue, principalmente em seu terceiro ato, em soluções que necessitam de um ex-machina, ou seja, fatos ou ações que surgem do nada apenas para resolver os problemas dos personagens. Parece que nas suas grandes pretensões de produzir uma aventura fantástica, o filme não segura a grandiosidade dos fatos.

E assim, Pets acaba realizando momentos um tanto quanto exagerados como a invasão de Max e Duke, que acaba numa alucinação completamente descompassada e desnecessária, destoando do tom do filme. Após alguns minutos essa sequência revela-se apenas uma desculpa para fornecer algumas informações sobre o passado de Duke, que surge na fábrica de salsichas da maneira mais pobre, através de um diálogo meramente explicativo. Com essas derrapadas, a trama aventuresca de Pets funciona no sentido que ao longo do tempo realmente o espectador vai sentindo uma maior conexão entre Max e seu novo companheiro, o arco dos dois personagens realmente funciona e a empatia com ambos vai crescendo junto com a narrativa, criando uma forte conexão psicológica não só entre os dois personagens, mas também com o público, fato que salva o clímax de Pets, tornando-se crível justamente pelo seu alto nível de envolvimento dramático e não por um roteiro tão bem construído.

Mais interessante ainda é notar como toda essa aventura cabe, de maneira exagerada e proposital, em apenas um dia, ou melhor, enquanto os donos dos animais de estimação não estão em casa. Isso reforça de maneira sublime a grande fagulha criativa de Pets, que é justamente “o que seu animal faz enquanto você não vê?”, acertadamente o longa concentra todas essas informações em um curto espaço de tempo. Esse exagero faz com que a criatividade do espectador seja ativada pelo próprio filme, há uma espécie de desconhecimento do mundo humano em relação ao que aqueles personagens fazem, do mesmo modo que eles quase nunca aparecem durante essa aventura, como se o animal de estimação de todo mundo tivesse realmente seu mundo secreto, e de fato o longa constrói isso de forma hábil.

Assim é afetivo ver como o filme dirigido por Yarrow Cheney e Chris Renaud resolve bem essa questão na sequência final do longa. Naquele retorno ao lar, que mostra de maneira simples e bonita, que apesar das inúmeras aventuras possíveis no mundo dos animais ainda é extremamente prazeroso estar à espera do dono, mostrando não só como eles gostam de estar acompanhados, mas também como de certo modo são os humanos que estão à espera deles. Nessa relação de múltiplas dependências mostra como é engraçada e divertida a vida secreta dos bichinhos de estimação, mas é extremamente gratificante vê-los de volta.

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