Críticas

Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

Ao assistir Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é difícil entender como a franquia chegou ao seu quinto filme. Se no seu primeiro episódio dessa saga, Piratas do Caribe trouxe uma narrativa aventuresca despretensiosa, leve, visualmente interessante e criou um personagem marcante para o cinema, agora resta muito pouco da novidade que aquele longa um dia causou. Muito disso se perdeu no desgaste de uma fórmula que em nenhum momento foi repensada, Piratas do Caribe: A Vingança do Salazar é a síntese desse abatimento, algo que já vinha sido demonstrado desde o terceiro filme da saga.

É notável na projeção a preocupação com esse envelhecimento precoce de Piratas do Caribe. O filme logo se utiliza de um artifício apropriado pelos blockbusters atuais, a tentativa de agradar o fã daquela série através de sua memória efetiva, mesmo que isso não tenham tanta importância narrativa. Aqui, o que Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar propõe é uma retomada aos personagens centrais daquela história no início da franquia, a primeira cena já mostra o retorno de Will Turner, famosa figura interpretada por Orlando Bloom, e mesmo que a narrativa não seja focado nele, mas sim em seu filho, Henry Turner (Brenton Thwaites), há uma primeira tentativa em cooptar a audiência pela lembrança de seus primeiros e melhores títulos.

Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, então, acompanha Turner numa jornada por encontrar um mítico tridente que pode romper com todas as maldições existentes no oceano, inclusive a sofrida por seu pai. Para que o garoto cumpra seu objetivo ele procura a ajuda de Jack Sparrow – não seria necessário afirmar a interpretação de Jhonny Depp e acaba ganhando o auxílio de Carina Smyth (Kaya Scodelario), uma jovem especialista no assunto, uma vez que possui uma espécie de mapa codificado deixado pelo seu pai supostamente morto. Em paralelo a isso, há também o conflito de Sparrow, fato que batiza o filme, em que um comandante zumbi espanhol, Salazar (Barden), procura sua vingança uma vez que foi o pirata que causou sua morte.

É bem verdade que nos minutos iniciais o filme traz e articula tudo aquilo que um dia foi interessante na série, há aventura desse jovem protagonista, há o humor, há até mesmo boas sacadas visuais, como o palácio de Barbosa (Geoffrey Rush) um ambiente exótico em que nada parece combinar, e até mesmo boas ideias na decupagem dos diretores Joachin Rønning e Espen Sandberg (responsáveis pelo inexpressivo Bandidas), como a utilização de um zoom interessante, que nas cenas de ação procura pelo herói e logo com o cessar do movimento de câmera ele age como um protagonista de filme de aventura. A primeira parte de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar remete a um tom de matinê clássica, algo muito presente naquele primeiro filme da série. Todavia, esse novo longa é uma crônica constante do desgaste da série, a própria narrativa do quinto título vai se perdendo, mostrando que seu valor é extremamente relativo, sem conseguir segurar seu público durante seus 129 minutos.

Muito disso se dá por causa de problemas estruturais em Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, principalmente por seu roteiro extremamente conivente com os personagens da obra, tudo parece acontecer magicamente no longa, sem que seja dada a mínima explicação para o espectador. Até mesmo o encontro entre Henry e Carina é totalmente jogado, a personagem apenas aparece na cama do outro sem nenhum motivo apresentado. O longa é uma sucessão desses encontros inexplicáveis que apenas facilitam essa narrativa. As personagens se encontram, surgem ou sabem de algo sem que isso seja mostrado para o espectador. E o pior, quando algo vem a ser evidenciado é através das piores e menos funcionais muletas narrativas, como a utilização de um flashback para explicar a relação de Salazar e Sparrow, algo que, até este ponto, não se entende sua importância para a narrativa. O filme vai decaindo conforme suas ideias não funcionam e aparecem apenas jogadas na tela.

A figura de Jack Sparrow resume bem esse espírito decadente presente em Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar. Se antes tudo girava em torno daquele pirata e de sua figura icônica, agora ele parece apenas um adereço, cuja sua função é repetir trejeitos e maneirismos, sem que isso desenvolva a narrativa vista. Se já é sabido que há tempos Depp não consegue realizar uma performance digna de nota, aqui as coisas ficam ainda piores. Depp é responsável, junto com os realizadores, por transformar seu papel mais famoso num clown pastelão, no pior dos sentidos. Ou seja, há neste filme uma atuação que se rende ao riso fácil, acreditando que o humor físico – digno dos melhores clowns do cinema – é baseado apenas em quedas desastradas, caras e bocas. No fim das contas há apenas um humor que soa inadequado, fácil, sem perceber que aquele personagem nunca foi um ícone do pastelão, mas sim de uma aventura divertida.

Se ao longo dos anos a franquia de Piratas do Caribe vem mostrando seu desgaste, Johnny Depp é o símbolo dessa decadência – até porque Jack Sparrow é o sinônimo da série. Nessa tentativa desesperada de (re)conquistar o público, Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar se rende a memória afetiva, ao humor fácil, mas tudo vem acompanhando de um cansaço, mostrando, mais uma vez, que não há muito horizonte para Piratas do Caribe.

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