Criaturas além da compreensão humana sempre foram objetos de curiosidade e desejo por parte do público, seja nas páginas dos livros como também nas telas do cinema. Desde que se tem consciência do termo vampiro, por exemplo, inúmeras pessoas ficaram cada vez mais fascinadas em saber mais sobre os monstros, e foi assim que ícones como Drácula nasceram – ou quem sabe, outra criatura muito mais curiosa do que ele, chamada de Nosferatu.
O ser pálido e carrancudo surgiu como uma cópia – e talvez o plágio mais famoso de que se tem notícias– da obra de Bram Stoker, com nomes alterados para que conseguisse burlar as leis de direitos autorais de alguns lugares. Acontece que o personagem se tornou um dos mais famosos do cinema, ganhando mais duas versões além de seu original, e a última tem tudo para se tornar um clássico tão atemporal quanto seu procedente.
Na versão de Robert Eggers, a história pouco é mudada e se mantém fiel ao material de origem, onde um homem chamado Hutter (Nicholas Hoult) parte para uma terra distante para vender uma casa para o misterioso Conde Orlok (Bill Skarsgård), um vampiro sedento por sangue e pelo amor alucinante por Ellen (Lily-Rose Depp), a esposa do vendedor. O que muda aqui é o brilhantismo como a história é apresentada. A ambientação crua e tenebrosa faz com que o medo e fascínio pelo desconhecido seja crescente, e eleve a curiosidade do espectador ao ápice, assim como o desejo de Hutter de entender o seu cliente.
Esteticamente brilhante, o Nosferatu de Eggers seduz mesmo com sua fisionomia aterrorizante. É como se cada pessoa fosse conquistada por sua esquisitice e seus mistérios, assim como Ellen é atormentada por noites a fio com pesadelos com a monstruosa criatura. As casas e locações trazem de volta detalhes mínimos que nos levam para o expressionismo alemão do início do século, e o colocam em cena, como se o público estivesse acompanhando aquilo ao lado dos personagens.
Vale ressaltar também o excelente trabalho de direção, principalmente nas cenas de delírio e pânico dos protagonistas, cujos momentos fazem com que o espectador agonize com os sentimentos apresentados em tela, seja na dor de Ellen, ou o desespero de Hutter.
A transformação de Bill Skarsgård
Mas tudo isso só pode acontecer graças à performance magistral de Bill Skarsgård. A sua transformação e dedicação em se transformar no Conde Orlok é o ponto alto do filme, que aliás, não te deixa acreditar que aquele é Skarsgård. Sua voz e trejeitos são completamente distintos, que em nenhum momento se aproximam de outros trabalhos do ator, como o palhaço Pennywise, por exemplo.
Essa nova cara para Nosferatu, aliada de um elenco excelente e com uma química constante, faz com que a versão de Eggers seja única, uma homenagem ao clássico, mas completamente distinta. O cineasta usa e abusa das referências, mas em nenhum momento se apoia nela para criar a sua versão do material, e utiliza de artifícios característicos de suas obras para torná-lo ainda mais singelo.