Serial Killers

Crítica – Rua do Medo: 1994 – Parte 1

Terror slasher da Netflix não cria nada novo, mas entretém bastante enquanto rompe alguns preceitos

Na altura do sexto minuto em Rua do Medo: 1994, assistirá a jovem atriz Maya Hawke, filha dos atores Uma Thurman e Ethan Hawke, fugindo desesperada de um maníaco vestido de caveira que empunha uma faca na mão.

Neste momento, a diretora Leigh Janiak usa o efeito slow motion (câmera lenta) para vermos a primeira facada que a garota vai levar enquanto está correndo pela praça de alimentação de um shopping. No chão, de frente para o serial killer, logo após receber uma segunda facada no meio do tórax, ela arranca a máscara para ver quem é o monstro que está fazendo isso. Ela morre.

Bom, só pela descrição da cena, imagina-se que alguém possa dizer que já viu algo um pouco parecido antes. Tal sujeito estará redondamente enganado. De modo que não viu algo parecido assim antes, mas precisamente similar. No lugar de Hawke, estava Drew Barrymore; enquanto o perseguidor era o icônico Ghostface, e não uma caveira.

No caso, quem inspirou tal mise-en-scène foi o clássico cult do terror slasher Pânico (1996) do falecido Wes Craven (1939 – 2015).

Dissertar sobre a importância desta obra renovadora, passionalmente elaborada por um dos cineastas mais relevantes na história quando rondamos o terreno do terror, tomaria tempo demais. Mesmo assim, é simples compreender a razão da diretora Leigh Janiak querer refazer tal cena na primeira parte de sua trilogia Rua do Medo: 1994, que se encontra disponível no catálogo da Netflix.

Na cidade Shadyside, um círculo de amigos adolescentes acidentalmente encontram o antigo mal responsável por uma série de assassinatos brutais que assolam sua cidade há mais de 300 anos. Liderados por Deena (Kiana Madeira), atravessam a noite na tentativa de se livrar desta maldição que os persegue querendo matá-los. Será que sobreviverão esta madrugada de terror?

A mudança de paradigma

É de se imaginar o que o amante do gênero horror, ou mesmo do cinema de Wes Craven, tenha pensado ao observar os minutos iniciais de Rua do Medo: 1994?! Será que se sentiu prestigiado, ou revoltado com a atitude de Janiak em tentar “copiar” um dos grandes que já existiu?

Seja como for, vale dizer que esta produção original Netflix não elabora nada muito diferente do que se espera. Ainda assim, a cineasta conseguiu quebrar algumas pequenas normas do gênero pela narrativa escrita por ela, em parceria com Phil Graziadei.

Ainda no primeiro ato, podemos testemunhar uma destas pequenas quebras ao percebermos o sofrimento da protagonista que teve seu coração partido pela pessoa que amava. Quando nos deparamos com a verdade por de trás deste amor, colocamos nosso condicionamento na reta, e logo nos tocamos como ainda conservamos certos determinismos sociais ou ideológicos em nossas rotinas. Desta maneira, ponto para Leigh Janiak por desafiar nossos parâmetros.

Agora, quando o assunto é cinema de gênero terror, a cineasta faz algo um tanto incomum envolvendo o quinteto de amigos que passam a noite juntos (literalmente) tentando escapar da morte. Sim, aqui existe trabalho em equipe. Nada daquela ideia de cada um para o seu lado na linha do ‘salve-se quem puder’.

Também, geralmente, em filmes do tipo slasher, o serial killer sai matando aleatoriamente tudo o que aparece na sua frente, porém, a entidade maligna em Rua do Medo: 1994 está muito distante do psicopata Michael Myers da série de filmes Halloween, por exemplo.

De volta para o passado

Este longa, que é só a primeira parte de uma trilogia que será liberada pela Netflix no intervalo de quinze dias, é baseado na série de livros homônima, escrita pelo celebrado R. L. Stine.

Nesta primeira parte, somos levados de volta para o ano de 1994. Bom, a trilha sonora escolhida pela diretora Leigh Janiak não deixa qualquer dúvida de que estamos nos meados da década de 90!

Se ainda continuar em dúvida, basta observar o quarto da jovem Deena, lotado de pôsteres de bandas, telefone de fio, toca fitas, e outras tranqueiras da época.

Falando da protagonista, fica o destaque final para a atriz Kiana Madeira, que se recuperou da horrorosa série Gatunas (também no catálogo da Netflix), e entregou uma performance muito mais ardente em Rua do Medo: 1994.

Próxima parada… 1978!

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