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Crítica | Sing - Quem Canta Seus Males Espanta

O mundo do entretenimento é algo que sempre traz muito interesse ao cinema. Talvez pela sua proximidade com o mundo do cinema, os longas que se concentram na figura do personagem que busca fazer o show acontecer costumam possuir personagens extremamente interessantes, e esse é o caso da animação Sing – Quem Canta Seus Males Espanta.

O filme se passa numa Los Angeles habitada por animais antroporfomizados e foca sua história em Buster Moon, um coala dono de um teatro falido que faz de tudo para voltar a fazer grandiosos shows. Moon decide fazer um show de calouros e por uma série de atrapalhadas acaba oferecendo como prêmio mais dinheiro do que realmente tem.

Além de Moon, o filme foca também nos pretendentes desse prêmio; são eles o gorila Johnny, a porquinha Rosita, o rato Mike, a porca espinho Ash e a elefante Meena, todos tentando, de alguma forma, melhorar suas vidas através da música. E a grande força de Sing reside justamente na gama desses personagens, figuras repletas de camadas e de informações que os tornam único.

Moon é o típico homem do show bussiness, que em momento algum perde a crença na possibilidade de fazer um grande show, mesmo que tenha que fazer algumas falcatruas para isso, fato que confere ao personagem um interesse por sua complexidade, como se seus atos mesmo que questionáveis fossem motivados pelos seus sonhos. Johnny é filho de um perigoso chefe de uma gangue que vive de alguns assaltos, mas o garoto não deseja seguir os passos do pai e prefere ser cantor a qualquer outra coisa. Rosita é mãe de 25 filhotes e seu marido mal repara nela, para seguir seu sonho e animar sua vida ela constrói uma série de artifícios em sua casa para dar conta de seu trabalho sem ela estar presente, até o bom dia para o marido ela constrói. Mike, outro grande personagem, sempre trajando seu terno vermelho e chapéu, poderia ter saído de outro filme sobre o show bussiness, New York, New York (1977), encarnando um senso jazzístico de malandragem, um personagem cativante pela sua auto-estima muito mais próxima a arrogância.

O melhor de Sing é justamente o fato de todos esses personagens possuírem tamanho ideal no filme, como se seus conflitos internos confluísse com a narrativa geral do filme. Seria muito comum, nessa quantia considerável de núcleo, o filme acabar se perdendo e esquecendo algum bloco de personagens. No entanto, o que ocorre no longa é justamente o oposto. Os personagens vão crescendo junto com o filme, para que o clímax dessa animação seja no mesmo momento para todos. E nessa movimento rumo a um grande final, Booster Moon funciona como um mestre de cerimônia para a narrativa, como se fosse ele quem conduzisse todo esse processo. Se há diversas tramas e subtramas em Sing, é o coala que comanda a narrativa maior que abarca todas as outras.

Assim, saltando de atração para atração o filme segue como um grande show, regado a muita música. Uma característica admirável em Sing é que o filme não tem medo de ser Pop. Seja nas canções interpretadas pelos próprios personagens, ou pela trilha musical, o longa é repleto de grandes sucessos da música, num artifício que ora vem para comentar a trama, como em outras para embalar o ritmo do longa. É a música pop que dá o tom à Sing e isso confere ao filme seu tamanho certo, uma animação agradável completamente sem pretensões. E isso funciona completamente. Como um refrão de um single, é fácil prever o que vai ocorrer no restante daquela trama, mas totalmente impossível de não cantar junto, ou não acompanhar com entusiasmo aquele show de talentos.

Dessa forma, é interessante como o filme brinca com a própria música dentro do longa, muitas vezes definindo personagens ou seu estado de mundo. Aisha, por exemplo, no seu estilo roqueira recusa cantar a música Call Me Maybe, sem julgamento de valor em relação à canção de Carly Rae Jenpsen, mas sim por concordar com um perfil musical que define aquela personagem. Assim como ocorre com o restante dos personagens, outro exemplo disso é como Moon define o estilo de Johnny, “todo mundo gosta de um grandalhão sentimental”, e isso de fato caracteriza aquele personagem, algo presente nas músicas que ele canta e nas suas atitudes dentro do filme.

Não apenas do ótimo uso dos personagens que Sing se faz, mas também por um impecável e interessante trabalho de direção de Garth Jennings. As vezes ao pensar em animação logo vem a cabeça a construção visual de algo diferente. No imaginário comum, a perspectiva visual da animação está mais ligada ao que é criado, no universo imaginado, do que na linguagem audiovisual propriamente dita, e nesse quesito Sing é um grande trabalho. Jennings emprega a todo momento movimentos de câmeras que seriam impossíveis de serem feitos num filme de live action e isso é utilizado de forma muito inteligente. Salta aos olhos a sequência inicial em que a câmera passeia pela cidade para mostrar todos os núcleos daquela história de forma concisa, inteligente e estilosa.

Sing – Quem Canta Seus Males Espanta prova que é mais do que um single de verão ou algo do gênero, mas seria uma daquelas canções extremamente populares, porém incrivelmente bem produzidas, bem compostas e bem cantadas. Sing conquista não só pelos ouvidos, mas também por ser um ótimo filme, e com certeza já está entre as melhores animações do ano.

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