Nos últimos anos as comédias têm sido o gênero mais produzido, mais popular – com boa (e, ás vezes, grande) presença de público – e mais lucrativo do cinema nacional. Apesar dessas credenciais, nem sempre elas se refletem na qualidade do filme. É o que podemos ver em SOS Mulheres ao Mar 2, sequência do filme de 2014 de mesmo nome.
Após conquistar o coração do estilista André (Reynaldo Gianecchini, de Se Puder… Dirija), a escritora e jornalista Adriana (Giovanna Antonelli, de Chico Xavier – O Filme) também alcançou o sucesso com o livro “S.O.S. Mulheres ao Mar”. André a convida para ir a um desfile que irá realizar em um cruzeiro marítimo. Ela diz não poder ir devido a um artigo importante que precisa escrever e entregar no jornal onde trabalha. Entretanto, ao saber que a modelo e ex-noiva de André, Anitta (Rhaisa Batista, da telenovela Verdades Secretas, em sua estréia no cinema) irá particiar do desfile, fica completamente doida de ciúmes e decide viajar a Miami, nos EUA, onde o navio está ancorado e ficar ao lado do namorado. Para essa viagem, leva a sua irmã, a namoradeira Luíza (Fabiula Nascimento, de Bruna Surfistinha).
Ao chegarem em Miami, encontram a sua ex-empregada e amiga Dialinda (Thalita Carauta, de O Lobo Atrás da Porta) que, agora, trabalha como cabeleireira para uma família local. O que Dialinda não sabe é que essa é uma família de traficantes de drogas investigada pelo agente do FBI Geoff Roger (o apresentador de TV Felipe Montanari), que começa a persegui-la ao achar que ela faz parte da quadrilha. Durante a viagem, Adriana, Luíza e Dialinda conhecem os primos Rafael (Gil Coelho, de O Peregrino) e Maurício (o modelo Felipe Roque, também fazendo sua estréia em cinema). A viagem prossegue até o México em meio a muitas confusões.
A diretora Cris D’Amato tem bons trabalhos em seu currículo como em Confissões de Adolescente (2013), mas, aqui, o trabalho de direção não passa de mediano, apesar de correto. Ela tem boa mão para direção de elenco, mas, nas cenas de humor, falta algo mais para fazer com que as piadas funcionem como, por exemplo, na cena em que as mulheres e o primos comem maconha para não serem presos pela polícia. Talvez Cris devesse ter consultado os comediantes maconheiros Cheech & Chong (de Queimando Tudo), especialistas nesse tipo de humor.
Outra piada que acaba não funcionado bem é sobre a chegada da meia-idade para as mulheres devido à insistência em faze-la ao longo do filme. O roteiro, escrito a quatro mãos por Sylvio Gonçalves (de Sem Controle) e Bruno Garotti (de Se Eu Fosse Você 2), é muito convencional e sem inspiração, principalmente para o humor.
Do ponto de vista técnico, o cinema brasileiro melhorou muito. A fotografia de Felipe Reinheimer (de Dores de Amores) é uma prova disso. Ela está muito boa ao mostrar as belas paisagens de Miami, Orlando e Cancún. Ela serve a um dos propósitos primordiais do filme: promover o turismo nesses locais. E como a distribuição é feita pelo estúdio estadunidense Universal Pictures (junto com a brasileira Europa Filmes), a propaganda de seu parque temático é escancarada.
Aliás, a propaganda feita no filme está exagerada. OK, marketing e merchandising fazem parte da indústria do cinema, mas aqui está demais! Basta ver o logo enorme de uma grande agência de turismo brasileira nos créditos iniciais assim como durante o filme, entre outros patrocinadores. Nesse ponto, os brasileiros precisam aprender com os estadunidenses como fazer propaganda em filmes sem parecer que está fazendo.
Giovana Antonelli é bonita, charmosa e uma boa atriz. Mas, definitivamente, não é uma comediante. Dá para perceber que, apesar de seus esforços, não consegue fazer a platéia rir. Nesse ponto, Fabiula Nascimento – como uma perua ninfomaníaca – e, principalmente, Thalita Carauta se saem muito melhor. Aliás, se não fosse Thalita, o filme não teria graça nenhuma, pois a sua personagem Dialinda, além de engraçada, representa bem aqueles brasileiros com complexo de vira-lata – sendo ou não “coxinhas” – que sonham em imigrar para Miami, obter o “Green Card” (o visto de residência permanente nos EUA) e a cidadania estadunidense. Já Rhaisa Batista é bonita, sexy e olhe lá.
O elenco masculino é meramente coadjuvante. Reynaldo Gianecchini é o galã canastrão, mas simpático, objeto de desejo de Adriana e da mulherada da platéia. Ele está aí para isso, assim como o modelo Felipe Roque e o ator Gil Coelho, cujos personagens Maurício e Rafael são perfeitamente dispensáveis, principalmente o primeiro.
A exceção é Felipe Montanari. Ele está bem como o agente Roger do FBI. Poliglota (fala, além do inglês, francês, espanhol e italiano), não só ele fala bem a língua inglesa, como dá para perceber que ele faz o possível para disfarçar o sotaque e realmente parecer um nativo. É um ator que ainda irá fazer uma boa carreira tanto no cinema quanto na TV. A única coisa a criticar nele é aquele seu visual “costeletudo”.
Tem-se duas impressões ao se ver SOS Mulheres ao Mar 2: a primeira é que parece ser mais um especial de fim de ano da Rede Globo (sua divisão de cinema, Globo Filmes, é quem faz a produção) do que um filme para o cinema. Se tivesse metade da duração (cerca de 90 minutos), poderia funcionar muito melhor como produção para a televisão do que para o cinema.
A segunda impressão é que este é um filme de e feito para “coxinhas”, pois além da história se passar em locais em que os mesmos amam ir nas férias, o próprios personagens são típicos representantes dessa “classe social”, principalmente os primos Rafael e Maurício, para quem a vida se resume a viajar a lugares chiques, ir a baladas chiques, só se relacionar com pessoas chiques e ganhar a vida como modelo ou na bolsa de valores e outras aplicações financeiras. A própria Dialinda acaba por ser uma “coxinha emergente”.
O filme anterior foi um sucesso de bilheteria, levando mais de um milhão de pessoas aos cinemas e esta sequência pretende repetir o feito. E não é impossível que isso aconteça, pois é uma produção da Globo e, com seu elenco “global”, irá, sem dúvida, capturar o seu público viciado em assistir telenovelas e leva-lo às salas de exibições para assistir ao filme.
Pegando um “gancho” do parágrafo anterior: não dá para dizer se foi intencional, mas Luíza tem a melhor sacada do filme ao dizer para Maurício: “Quem disse que é preciso ser ator para fazer novela?”.