Serial Killer

Crítica – Tem Alguém na sua Casa

Terror slasher da Netflix não faz mais que o básico em trama de mensagem sabotada

Se têm algo que os fãs do cinema ‘slasher’ prezam é a ideia do quanto mais sangue e morte, melhor. Esse é o ideal de prazer que tantos sentem ao assistirem obras, tipo: Halloween – A Noite do Terror (1978), Sexta-Feira 13 (1980), A Hora do Pesadelo (1984), Brinquedo Assassino (1988), Pânico (1996), entre outras.

Recentemente, a plataforma streaming Netflix resolveu produzir sua própria série de filmes ‘slasher’ com a trilogia Rua do Medo, que se passa em três períodos diferentes (1994; 1978; 1666).

Gostou tanto que resolveu encomendar mais uma produção do estilo, no caso, Tem Alguém na sua Casa, dirigido por Patrick Brice. Pena que a novidade passa longe de empolgar qualquer fanático pelo som de uma faca, ou qualquer outra arma cortante, rasgando a carne humana enquanto pinta o chão de vermelho.

Pior: arriscou oferecer um conceito fetichista interessante no seu primeiro terço, para mais a frente sabotá-lo, deixando um grande vazio narrativo.

Tem Alguém na sua Casa nos apresenta Makani Young (Sydney Park), que se mudou do Havaí para uma pacata cidade no estado do Nebraska para morar com sua avó e terminar o último ano do ensino médio. Mas quando a contagem regressiva para a formatura começa, ela e seus colegas são perseguidos por um assassino que tem a intenção de expor seus segredos mais sombrios para a cidade inteira, aterrorizando todas as vítimas enquanto usa uma máscara real com o rosto de seus alvos. Com um passado misterioso, Makani e seus amigos devem descobrir a identidade do assassino antes de se tornarem vítimas.

Slasher (bem) genérico

O cânone ‘slasher’ pode ser dividido em três eras: a clássica (1974–1993), a autorreferencial (1994–2000) e o ciclo neoslasher (2001–2013). Assim, conclui-se que tanto a trilogia Rua do Medo, quanto a produção recente de Patrick Brice, são apenas vestígios do que foi estipulado por gerações anteriores.

De todas as eras, esta mais recente ficou em destaque por ter projetado uma quantidade exorbitante de material. Mundialmente, tivemos alguns países, como França, Áustria, Noruega, Reino Unido, Taiwan e Coreia do Sul destacando-se com várias produções do subgênero.

Apesar da proliferação ‘slasher’, não tivemos grandes obras de destaque nesse período, com exceção de A Casa dos 1000 Corpos (2003) e The Devil’s Rejects (2005), ambas criações do cineasta e roqueiro Rob Zombie, que se esforçou para trazer o gênero do terror para longe da cultura pop e de volta às suas raízes ‘exploitation’, ou seja, obras mais apelativas que abordam de maneira mórbida e sensacionalista suas temáticas.

Lamentavelmente, Tem Alguém na sua Casa não é nada mais do que um Ctrl+C/Ctrl+V do subgênero. Dispondo de elementos menos inspirados do que outras produções, principalmente no aspecto visual. O serial killer em questão, por exemplo, usa uma máscara que remete ao conceito do assassino Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica (1974).

Porém, enquanto no filme clássico tínhamos algo um tanto mais grotesco e ameaçador, agora, notamos algo mais asséptico e monocromático, que naturalmente tira boa parte do terror das intenções da figura antagonista.

Autossabotagem

Muito curiosa a escolha do título Tem Alguém na sua Casa, uma vez que o assassino em série desta trama só invade a casa de uma de suas vítimas, uma única vez. E, isso acontece nos minutos iniciais dessa produção original Netflix.

Nas primeiras mortes do enredo, testemunhamos uma padronização interessante, que poderia explorar de modo fetichista nossa busca por justiçamento a qualquer custo. A ideia de que o mal do outro é sempre mais impuro que o nosso.

No entanto, o roteiro resolve sabotar a própria premissa lá pela metade da projeção, transformando a narrativa em algo banal, que só busca repetir as manobras familiares ao gênero.

Algo muito similar visto também em Bacurau (2019) de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que construíram na primeira metade uma história repleta de simbolismos e sugestões, para depois tropeçar nos próprios argumentos pretendidos, enfraquecendo a linha narrativa.

É triste que a autossabotagem não deixou que a trama de Tem Alguém na sua Casa pudesse brincar com a consciência moral do assinante da plataforma Netflix. Tivesse acontecido, teríamos entrado no melhor campo do terror: o julgamento interno.

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