Críticas

Crítica | Tomb Raider: A Origem

Rótulos dos mais variados já foram atribuídos à personagem Lara Croft, dentre eles o de versão feminina do Indiana Jones. Por se tratar de uma arqueóloga, a associação logo se estabelece, porém o descarte de tal conexão também se faz notável ao analisarmos tudo o que a figura representa, visto que ela não se caracteriza apenas pelo dote da beleza saliente, dado que a saliência se concentra mesmo em sua personalidade mordaz, que nesse filme se acentua muito. Bem como outras protagonistas que abriram caminho para esse tipo de enredo, personagens como Croft provam que o investimento nesse tipo de produção não é em vão.

No final da década de 70 e durante os anos 80, Sigourney Weaver fez história com a franquia Alien, tornando-se uma espécie de símbolo do prenúncio de um protagonismo feminino badass, ao provar, sem maiores entraves, que essas narrativas predominantemente masculinas, deveriam integrar mulheres em papéis de destaque. Contudo, isso não gerou um resultado nada imediato, visto a soma de poucos casos a feitos isolados como Alien. Claro que Tomb Raider não enfrentou dificuldades semelhantes, pois, antes de mais nada, teve a seu favor o imenso sucesso da arqueóloga no universo dos games. Mas ainda assim, os longas tiveram um alcance impressionante graças à imagem de Angelina Jolie, em voga na época, após vencer o Oscar como coadjuvante em Garota, Interrompida (1999); o êxito da atriz da moda conferiu projeção astronômica ao projeto.

Em Tomb Raider: A Origem, o diretor Roar Uthaug explora ao máximo a vitalidade de Croft, aqui defendida por Alicia Vikander, que parece seguir os passos de Jolie, por conquistar um galardão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, inclusive na mesma categoria. Se por um lado a trajetória das atrizes parece tão equivalente, por outro, a distinção se faz presente na ficção, ainda que esse novo filme venha carregado de uma ação eletrizante, que pouco deve às produções anteriores.

Somos surpreendidos pela protagonista numa condição de vida humilde, trabalhando como entregadora de comida, que não tem o bastante sequer para bancar os seus treinos de MMA. Passados sete anos do desaparecimento de seu pai Richard (Dominic West), a jovem não se conforma com a ideia de sua partida, retardando o processo burocrático de liberação de bens ao indefinir também o futuro do império Croft.

Prestes a realizar o desejo de Ana Miller (Kristin Scott Thomas), guardiã que zela pelos negócios de seu pai, Lara toma a decisão de se envolver no processo, mas pouco antes de assinar os papéis necessários, ela se defronta com uma lembrança deixada pelo genitor, um karakuri, espécie de quebra-cabeça japonês, recebendo pistas que estimulam a busca por Richard.

Com a ajuda de Lu Ren (Daniel Wu), ela chega até Yamatai, ilha na costa do Japão, seguindo diretrizes do que foi documentado pelo pai, porém esse material cai nas mãos do psicopata Mathias Vogel (Walton Goggins), que obtendo sucesso em sua missão, causará danos sobre todo o mundo.

Na ânsia de refrear as atrocidades provocadas pelo vilão, Lara dá início a uma série de ações que exibem o desenvolvimento da amarração de planos em torno de uma estrutura de montagem básica, mas que agrega fluxo constante à história. As sequências de perseguição são de tirar o fôlego, mantendo uma ação contínua, sendo esta uma característica estrutural que nos acompanha até o final, equilibrando sensações a partir das múltiplas formas de introduzir a apreensão, seja nos casos em que a protagonista está em terra firme, no comando de uma bicicleta em alta velocidade, ou no instante em que se vê presa a uma carcaça de avião prestes a despencar de uma altura incomensurável, momento em que a tensão já está mais incorporada à conjuntura imagética.

Vikander domina a identidade performática que constrói para a personagem ao expor as habilidades físicas que o papel requer, sem deixar transparecer incapacidades ou limitações, posto que Lara Croft está envolta por elementos que provocam o imaginário do público, devido à força da natureza que ela simboliza diante das adversidades. Como se isso já não fosse suficiente, a atriz ainda exibe certo alcance dramático nas cenas que divide com West, notado principalmente pela expressividade no olhar e pela voz trêmula.

Tomb Raider: A Origem não se presta ao papel de contar uma grande história, reservando-se apenas a contribuir com elementos de ação que estimulem os espectadores. Um filme que parece priorizar os afeiçoados ao gênero, aqui dotado de máxima perícia.

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