Críticas

Crítica | Travessia

Claramente o cinema brasileiro vem crescendo bastante através de seus cineastas independentes, colocando o Brasil no mapa por meio de participações em festivais internacionais. Frequentemente com temas que geram interesse e que dão espaço para discussões, esses filmes se destacam em meio à produção nacional, devido ao seu caráter temático e também estético. Entretanto, Travessia, primeiro filme do diretor João Gabriel, mesmo tendo a pretensão de se introduzir dentro desse estágio, não consegue por conta da sua limitação, em diferentes aspectos.

Travessia tem como cerne da sua estrutura a relação de um pai (Roberto, interpretado por Chico Diaz) com o seu filho (Júlio, interpretado por Caio Castro). O filme é dividido em dois blocos, um deles contando a vida de Roberto, paralelamente ao outro, que narra a vida de Júlio. De início é interessante notar que durante o filme, ao adotar a escolha de retratar o abismo que existe entre esses dois personagens, o diretor opta por não dividir o quadro com ambos juntos em momento nenhum.

Desta forma, o longa se desenvolve com essas histórias paralelas, onde em sua abertura, vemos o declínio de Roberto, que atropela uma criança após se embebedar. E a aparente ascensão de Júlio, que através de um romance e um novo estilo de vida, protagoniza novas experiências. Partindo do pressuposto de que o filme não deixa muito claro o porque dessa relação péssima entre pai e filho, a morte da mãe de Júlio aparece como principal motivo e divisor do relacionamento desses dois personagens; que acaba não bastando para o seu desenvolvimento. Travessia busca então isolar esses dois personagens, sem se aprofundar de forma concreta em suas angústias.

No entanto, ao repetir muito do mesmo conteúdo, o filme acaba passando do ponto. Roberto é um personagem que após o atropelamento da criança, vai caindo na real de que o modo como ele leva sua vida está equivocado, sendo assim, durante o resto do longa é mostrado de uma forma repetitiva essa autorreflexão que o personagem protagoniza. Já Júlio, ao contrário de seu pai, é um cara que aos poucos protagoniza uma declinação, que é representada através de incessantes festas e uso e venda de drogas, que acaba padecendo o personagem ao longo do filme.

Portanto, essa monotonia presente no desenvolvimento da história na vida de ambos os personagens, acaba interferindo bastante no todo do filme, que em geral contém um roteiro frágil; onde essa distância que existe entre pai e filho não é aprofundada de uma maneira que entendemos e nos colocamos no lugar desses personagens. O distanciamento abundante faz com nos sentir falta de uma maior aproximação entre Roberto e Júlio, mesmo que metaforicamente haja na relação entre Roberto e o garoto que ele atropelou.

Desta forma, Travessia se mostra um filme que poderia ser muito mais do que é, mas a falta de aprofundamento através das cenas em relação ao seu tema acaba por prejudicar seu crescimento como obra. Posto isto, não basta somente identificar uma dinâmica atual – como a relação pai e filho da atual geração – e propor uma reflexão, sem ao menos discutí-la de forma mais densa.

Sair da versão mobile