Críticas

Crítica | Um Espião e Meio

De longe, Um Espião e Meio parece uma daquelas sátiras de filmes famosos, parecendo visar ironizar os filmes como Jason Bourne, 007 entre tantos outros. Evidentemente que há um pouco disso no longa dirigido por Rawson Marshall Thurber (Com a Bola Toda), mas a força e principalmente a graça de Um Espião e Meio é ser uma comédia que se concentra em seus próprios personagens e em sua própria narrativa.

O longa é narrado por Calvin Joyner (Kevin Hart), que há 20 anos era o aluno mais promissor e popular de sua turma do colégio, mas hoje vive uma vida bastante comum, diferentemente de seu colega Bob Stone (Dwayne Johnson), que sofria bullying constantemente no colegial, sendo defendido apenas por Joyner em certa ocasiões. Agora Bob é um ex-agente da CIA acusado de traição que vê em Joyner a única pessoa em quem pode confiar, inserido os dois em uma intriga internacional de proporções extremas.

Um Espião e Meio é inteligente ao colocar o ponto de vista narrativo da trama na figura de Joyner e não do espião Bob. Assim, protagonista como público vão descobrindo aos poucos os exagerados de segredos daquele misterioso colega. Dessa maneira, o filme consegue tirar o humor dessas situações, na qual se vê uma série de situações surpreendentes, que geram risos em sua plateia.

E é justamente essa inserção num mundo completamente bizarro que o filme ganha seus pontos positivos. E muito disso provém do bem estruturado roteiro de Ike Barinholtz, David Stassen e pelo próprio Thurber, que vai colocando essas informações aos poucos, construindo personagens e situações, para depois inserir toda narrativa naquele espiral de loucura que é a trama de espionagem de Um Espião e Meio. Essa repentina, mas bem construída virada da narrativa consegue surpreender o espectador e gerar os grandes momentos do longa.

Se esse espiral de loucura que dá o tom de Um Espião e Meio, seu humor busca um estilo muito mais escrachado sem sutileza alguma, que muitas vezes aposta num humor físico. Se no escracho o filme apresenta seus deslizes, demonstrando um desespero para causar risos em seu público, na fisicalidade de seu elenco demonstra um melhor desempenho. É com isso que Hart e Dwayne ‘The Rock’ Johnson demonstram uma incrível sintonia em cena, sendo um sempre o complementar do outro, numa espécie de o magro e o bombado. Assim é extremamente benéfico a The Rock tirar sarro de sua própria figura quanto astro de filme de ação, demonstrando uma ótima atuação dentro da comédia.

Um Espião e Meio está longe ser um excelente filme, com alguns furos narrativos e até um uso excessivo de flashbacks para contextualizar a história de Bob Stone como agente secreto. No entanto, o que mais prejudica o longa é sua tentativa de construir um clímax muito sério, quando a sua maior potência era brincar com os clichês de filmes de espionagem e de criar uma atmosfera totalmente exagerada para o longa. Assim, Um Espião e Meio parece acreditar no seu próprio registro extremamente fictício e perde a oportunidade de explorar comicamente os códigos dos filmes do gênero e de forma alguma funciona como filme de ação.

Assim, Um Espião e Meio está longe de ser uma comédia exemplar, mas consegue divertir na maioria do tempo, e é exatamente embarcando na loucura do longa que o filme rende seus melhores momentos. Um Espião e Meio é um filme que felizmente consegue ser engraçado e bem narrado.

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