Monarquia

Crítica: Young Royals – 1ª Temporada

Série sueca da Netflix retrata com delicadeza a juventude em suas variadas crises

Logo nas primeiras cenas de Young Royals da Netflix observamos Wilhelm, príncipe da segunda linhagem ao trono na Suécia, sentado ao lado de seus pais, rei e a rainha, e seu irmão mais velho Erik. O jovem herdeiro está fazendo um pronunciamento para a imprensa sobre qual será seu novo destino nos próximos anos. A cena é angustiante!

Enquanto seus familiares apresentam-se resignados à posição que ocupam, sentadinhos e imóveis frente às câmeras, Wilhelm não para se mexer. Arrumando o paletó, o cabelo, ajeitando-se no sofá, batendo as pernas em agitação, claramente incomodado naquela condição.

Prático, não?!

Em uma única cena, bem no início do primeiro episódio da temporada 1 de Young Royals, já sabemos onde estamos pisando e iremos trilhar por seis episódios. Esta série de produção sueca da Netflix irá comentar as agonias de um garoto que busca uma identidade, enquanto testemunha os olhos do mundo mirando sua vida pessoal.

Mais: já que tais aflições não irão se resumir à realeza, pois os novos companheiros de escola da alteza sueca, também estão passando por circunstâncias complicadas em suas vidas cotidianas.

Assim, acompanharemos a nova jornada do Príncipe Wilhelm (Edvin Ryding) tentando se ajustar ao internato na prestigiada escola Hillerska, mas seguir seu coração é mais desafiador do que o previsto, especialmente quando se encontra diante do jovem Simon (Omar Rudberg).

Confissões de adolescente

Sempre houve um estigma superficial por parte de alguns adultos de que produções voltadas para o público adolescente (teen) dispõem-se como conteúdos menos qualificados. Obviamente, nada poderia estar mais distante da verdade.

De início, poderíamos apelar e citar um bocado de filmes dirigidos e produzidos pelo ilustre John Hughes, como Clube dos Cinco (1985), A Garota de Rosa Shocking (1986), Curtindo a Vida Adoidado (1986) e Alguém Muito Especial (1987) para validar tal ponto de vista.

Contudo, não cabe estabelecer comparativos entre Young Royals e a filmografia de John Hughes, pois apesar de estarmos tratando as agonias da adolescência, temos tipos de narrativas bem diferentes. Se for possível estabelecer qualquer paralelo com outras obras, parece mais apropriado citar os longas-metragens Sociedade dos Poetas Mortos (1989) de Peter Weir, e O Discurso do Rei (2010) de Tom Hooper. Mais o primeiro que o segundo.

Em vista que o internato Hillerska lembra bastante a Academia Welton do clássico da década de 80. A diferença maior está no fato que nesta produção original da Netflix, acompanhamos uma escola que leciona para garotos e garotas, diferentemente da obra de Weir que apresentava os anos colegiais, apenas dos marmanjos.

As similaridades não param por aí! De maneira que quando olhamos atentamente para ambos protagonistas, Wilhelm e Todd Anderson (papel de Ethan Hawke), podemos sentir que a abordagem das atuações ronda as mesmas inquietações e mal-estar.

É de se destacar o trabalho do jovem ator Edvin Ryding, que com suas espinhas faciais e traços nórdicos, conseguiu elaborar um personagem que apesar da grande contenção emocional apresentada nos primeiros episódios, soube como se liberar aos poucos, acrescentando nuances, cores e maior intensidade à sua performance.

A liberdade que vem com a identidade

De acordo com o psicanalista teórico Sigmund Freud, a sexualidade nos acompanha desde o nascimento até a morte. Consequentemente, está completamente interligada com a nossa identidade como seres humanos, interferindo em todos os aspectos de nossas vidas, não apenas naqueles ligados ao sexo e relações afetivas.

Se para o protagonista isso se revela de forma mais clara pelos sentimentos em relação à Simon, não quer dizer que os outros estudantes da escola Hillerska não sintam angústias parecidas que rodeiam a necessidade de uma identidade para si.

Peguemos August (Malte Gardinger), primo de segundo grau de Wilhelm, que se dedica de modo extremo nos estudos e atividades físicas para ser alguém mais bem sucedido que seu pai. O jovem almeja tanto isso, que pouco se importa com sua saúde física e mental, que ainda sofre com algumas típicas inseguranças masculinas.

Seja por Wilhelm, seu primo, ou quaisquer outros personagens encontrados em Young Royals da Netflix, o que fica desta produção sueca para o assinante é o requinte terno da narrativa em abordar as complexidades da juventude, pois mesmo os mais bem abastados passam e sentem as mesmas dúvidas em seus corações.

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