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Crítica | Tudo por um Pop Star

Com três livros seus adaptados para as telonas, a escritora Thalita Rebouças se tornou um expoente considerável do cinema infanto-juvenil brasileiro. Tendo apenas colaborado no roteiro de Fala Sério, Mãe!, o novo filme Tudo por um Pop Star, estrelado por Maísa Silva, marca a primeira vez de Rebouças como roteirista principal. A história, que já virou peça musical antes de chegar aos cinemas, mantém a mesma pegada das anteriores, portanto é direcionada quase que exclusivamente a garotas na adolescência. Se é bom? Essa já é outra questão, e o próprio filme parece reconhecer isso quando um de seus personagens afirma que “não se discute gosto de adolescente”.

Na trama, as três amigas Gabi (Maísa Silva), Manu (Klara Castanho) e Ritinha (Mel Maia) são fãs de carteirinha da boy band gringa Slavabody Disco Disco Boys. Quando descobrem que a banda virá ao Brasil para uma apresentação única, saem do chão e convencem seus pais a permitirem a ida ao show. Antes que isso aconteça, no entanto, os ingressos são esgotados e as três se veem sem opção além de participar de um concurso do youtuber Billy Bold (Felipe Neto), que dará três credenciais VIP do show a quem fizer o melhor vídeo declarando amor à banda. As amigas conseguem e vão ao Rio de Janeiro buscar seus prêmios, porém encontram uma nova série de imprevistos no caminho.

A princípio, Tudo por um Pop Star é bem decente no que propõe, uma comédia leve e feita por encomenda ao público jovem. Da fotografia eficiente de Dante Belluti, com lentes anamórficas, à paleta de cores quentes escolhida pelo diretor de arte Marcus Figueiroa, há uma harmonia visual bastante agradável. A direção de Bruno Garotti também faz um bom trabalho de dar movimentar as personagens em cena com alguma graça, e as três atrizes principais estão à vontade em seus papéis. Contudo, o roteiro de Rebouças se mostra, com o passar do tempo, limitado por uma série de problemas, o que acaba diluindo boa parte desse charme inicial do longa.

Durante sua primeira parte, o filme parece seguir em uma determinada direção. Acredita-se que a trama, impulsionada pelo objetivo em comum das três garotas, finalmente servirá para enaltecer a importância de uma amizade verdadeira acima de desejos materiais e sonhos impossíveis de tiete – acredita-se, apenas, já que não se trata mesmo disso. Na verdade, é uma historinha em que os sonhos de conhecer uma estrela se realizam, fim. Com medo de desagradar, Rebouças acaba optando por respostas muito fáceis, mesmo que brinque com as expectativas de suas personagens – e as nossas – no caminho até seu final feliz.

Quanto ao humor do filme, fica em cheque se funcionará com seu público-alvo. Aos olhos e ouvidos de um marmanjo de vinte e tantos anos, soou pouco criativo e demasiadamente bobo. Não há uma construção inteligente para a maioria das piadas, que acabam dependendo do carisma do elenco para surtir algum efeito. Há alguns (poucos) momentos capazes de botar um sorriso na boca, como aquele em que a prima de Manu, Babete (Giovanna Lancellotti), é chamada ao palco pelo vocalista do Slavabody, Slack (João Guilherme). Procurando a prima na plateia enquanto interage com a banda, o jeito perdidão de Lanceloti garante a melhor cena do filme.

Um aspecto que desagrada e agrada, simultaneamente, é a música. Desagrada não por se tratar daqueles hits melados de boy band, mas sim por causa da literal falta de originalidade – grande faixa dos Slavabody é nada menos que Sing, hit conhecido de Ed Sheeran, e portanto é um pouco difícil comprá-los como autores da música, soando mais como embusteiros. Agrada, no entanto, pelo bom trabalho do compositor Daniel Lopes, que não faz maravilhas mas cria uma atmosfera adequada para a maioria das cenas, alternando entre animada e fofinha sem perder a consistência. Já a canção homônima ao filme, que as garotas interpretam no vídeo, gruda de vez no cérebro – no meu caso, para minha infelicidade.

Francamente não sou a melhor pessoa para julgar Tudo por um Pop Star, já que está cada vez mais fácil estar alheio aos gostos e tendências de adolescentes – o ótimo Buscando… só reafirma isso. Entretanto, apesar dos pesares, devo admitir que a nova adaptação de Thalita Rebouças, por mais indecisa nas mensagens que quer transmitir às garotas, não é nem um pouco ruim. Ao lado de péssimas comédias feitas para adultos, como Crô em Família e O Candidato Honesto 2, o filme de Bruno Garotti se destaca por um cuidado técnico visível e não apostar em estereótipos ultrapassados para entreter seu público teen. Em meio a uma lenta diversificação do cinema comercial brasileiro, não é a melhor das alternativas, mas certamente está longe de ser a pior.

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