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Mostra SP | Crítica: O Mau Exemplo de Cameron Post

Um dos filmes mais aguardados e concorridos na Mostra SP certamente é, O Mau Exemplo de Cameron Post, dirigido por Desiree Akhavan, baseado no livro homônimo da escritora Emily M. Danforth. Por dois motivos: o primeiro, por ter sido o grande vencedor do prêmio mais importante dentro do Festival de Sundance, o Grande Prêmio do Júri na categoria de dramas; mas, especialmente pelo segundo, que diz respeito ao tema do filme, a causa LGBT.

A obra adaptada de Desiree Akhavan narra a história de uma jovem adolescente lésbica, Cameron Post, que nem imaginava os problemas que enfrentaria, logo após ser vista aos beijos com sua melhor amiga. A partir disso, sua tia, que é a responsável por ela, toma uma atitude extrema e resolve enviar ela, a contragosto, para um tipo de centro de recuperação de jovens homossexuais supervisionados por membros religiosos.

Tentar relativizar, ou até diminuir a magnitude deste tema que afeta e faz parte da vida de todos, pois cada um de nós, ou conhece alguém que é gay, ou conhece alguém que conhece ou é próximo de pessoas homossexuais. Tendo dito isso, fica fácil evidenciar o porque deste assunto ser tão essencial todos os dias, dado que se são classificados como uma minoria, na realidade, representam uma multidão, que ainda é marginalizada, nos dois sentidos da palavra, em vários cantos do planeta, exemplo, a Rússia comandada pelo presidente Vladimir Putin.

Desta maneira, geralmente obras como esta terão a garantia de presença do público que se identifica com o tema, de maneira direta ou indireta, e podem gostar ou não de como são retratadas algumas destas situações que passam as pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo.

O ponto em O Mau Exemplo de Cameron Post é que, no objetivo de alcançar uma identidade, e definitivamente conseguir isto, o longa de Akhavan não conseguirá algo mais, ou seja, apenas prega para os já convertidos. Nada de errado aqui, simplesmente o conteúdo do roteiro, que é baseado do livro, não consegue transgredir por meio narrativos com força o suficiente para gerar maior reflexão aos que ainda não sabem, alguns dos problemas e circunstâncias pelas quais passam pessoas da classe LGBT.

Os melhores momentos do filme da cineasta acontecem quando existe a interação entre três personagens: a personagem-título interpretada por Chloe Grace Moretz; Jane Fonda, papel de Sasha Lane; e Adam, papel de Forrest Goodluck. Do trio, só uma se apresenta mais abaixo dos outros dois, e infelizmente, é a estrela e protagonista da trama.

O maior fator que impede O Mau Exemplo de Cameron Post da Mostra SP de alcançar níveis mais altos, ou até de quebrar algumas barreiras é Chloe Grace Moretz. Não, ela não entrega uma performance mal feita, ou irrealista, pelo contrário, da construção temos uma personagem que ainda se encontra cheia de dúvidas pelas coisas que sente, o que é natural pois estamos falando de jovens adolescentes. Todavia, essa confusão e estado de dormência perpetuam durante praticamente os 90 minutos de duração. Existe, dentro do roteiro, tratamento claro para a personagem principal deste longa, apenas a atuação de Grace Moretz, guiada por Desiree Akhavan que pena sair da temperatura morna.

Se isto, afasta O Mau Exemplo de Cameron Post de ser um filme maior, à altura da importância do tema. Seus outros dois parceiros de profissão mostram maior firmeza e personalidade marcante, principalmente o ator Forrest Goodluck. Adam, seu personagem, é de uma ironia e secura que fica difícil não rirmos com ele, mesmo com os apertos que passou devido sua orientação sexual.

Aqui, um dos bons méritos desta obra, em exibição na Mostra SP, saber fazer rir, na mesma medida, tanto com os estereótipos ligados a cultura LGBT quanto tirar barato das bobagens que cristãos fervorosos costumam dizer, apenas em prol de seus interesses.

Questiona-se muito no cinema, com ou sem influência do politicamente correto, o fato de querermos provocar sorrisos ou risadas, com assuntos considerados mais sérios, como é o caso deste filme. Mas, é preciso entender a força narrativa existente em se criar um impacto de exaltar risos, que representam um choque, uma quebra, ruptura do que é comum, mais regular. E, quando é alcançado tal patamar, dentro de um filme dramático, como é O Mau Exemplo de Cameron Post, é necessário um choque dramático tão descomunal quanto foram os risos até o momento do filme.

Só assim, o espectador sentirá o impacto de tudo o que aquelas pessoas passaram ou ainda passam na rotina diária de suas vidas. Para elevar reflexão profunda, é preciso mais do que didaticamente organizar receitas. É necessário saber transgredir com a consciência de que o outro em frente, é diferente de você.

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