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Crítica | Crônicas de Natal

Seja quem for que teve a ideia de escalar Kurt Russell como Papai Noel na produção original da Netflix, Crônicas de Natal, esta pessoa merece alguns tapinhas nas costas de parabéns, pois o bom velhinho nunca esteve tão distante de ser um bom velhinho sob a pele do astro de Hollywood, e isso é algo muito agradável de se testemunhar.

Consegue imaginar o velho Nicolau cantando blues ao lado de alguns membros da E Street Band, incluindo Steven Van Zandt e Patti Scialfa? Acelerando um Dodge vermelho fazendo manobras dignas de Dom Toretto da série de filmes Velozes e Furiosos? Sim! Então aproveite esta boa imaginação que possui, e apenas divirta-se. Não! Então, prepare-se para se surpreender com um filme natalino que têm tudo aquilo que se espera, além de algumas travessuras que proporcionarão risos e sorrisos, trazendo mais vida ao dia de Natal.

Crônicas de Natal da Netflix enfoca a véspera de Natal dos irmãos Kate e Teddy Pierce que se encontram sozinhos, já que sua mãe teve que trabalhar durante toda a noite. Ambos tem o plano de flagrar Papai Noel em câmera, mas este não sai como planejado, e acabam pondo em risco a celebração natalina de todas as crianças ao redor do mundo. Agora, os irmãos irão unir forças com São Nicolau para tentar salvar este dia especial.

Ao ler tal sinopse, é normal não se sentir encorajado a assistir o longa da Netflix, pois parece mais do mesmo. De acordo, mas há um diferencial aqui que muda o clima do enredo, e este é Kurt Russell. O ator sexagenário de longo currículo, que inclui pérolas como, Fuga de Nova York, O Enigma de Outro Mundo, Os Aventureiros do Bairro Proibido, todos sob a supervisão de John Carpenter, ou À Prova de Morte e Os Oito Odiados, ambos dirigidos por Quentin Tarantino, mostra-se extremamente à vontade no papel. É perceptível admirar o quanto ele se diverte, e também o espectador, enquanto conta uma história universal de maneira leve, e por vezes, tocante.

Inegável é o carisma de Kurt Russell, que aliado com um ótimo ‘timing’ cômico se tornam o coração do longa do diretor Clay Kaytis, também animador, e hoje, maior responsável do setor criativo de animação da Walt Disney Animation Studios. Houve uma evolução no trabalho de Kaytis que dirigiu Angry Birds: O Filme em 2016, sucesso de bilheteria, porém um fracasso de crítica. E, tal melhora se estende por outros aspectos técnicos e artísticos no filme original Netflix, fora sua maior estrela.

Esteticamente é de grande riqueza o trabalho da direção de arte em Crônicas de Natal, principalmente considerando que estamos falando de um filme de comédia familiar infantojuvenil, desta maneira, visando agradar tanto crianças quanto os adultos, algo muito provável de se imaginar. Esses acertos na parte artística acontecem até na questão de vestuário, exemplo a roupa do Papai Noel de Kurt Russell, em uma versão mais esbelta, que vale algumas piadas em relação ao peso do ser místico, bem como moderna, tanto que seu figurino parece uma mistura do clássico com um lance a la Tarantino.

Isso vale igualmente na parte dos efeitos visuais computadorizados, com os elfos ajudantes do “bom” velhinho, que são adoráveis e engraçadinhos, e lembram versões multicores de Gizmo, o monstrinho do tipo mogwai nos filmes da franquia Gremlins, longa de 1984 escrito por Chris Columbus, que é um dos produtores desta produção original Netflix. Coincidência? Tire suas próprias conclusões.

Sempre é louvável quando um cineasta, seja da velha guarda ou contemporâneo, ousa unir o tradicional com o alternativo, o incomum. Até porque exige muita maturidade emocional perceber que as duas correntes, são parte do mesmo oceano, e transmutáveis no tempo. No começo deste ano, a obra Lady Bird – A Hora de Voar de Greta Gerwig foi um belo e genuíno exemplo desta fusão de fluxos, assim como este projeto da Netflix.

Perto da resolução, Crônicas de Natal de Clay Kaytis vai ganhando tons mais emotivos, ligados ao drama pessoal vividos pelos irmãos Kate e Teddy, e nestes conflitos, uma acessível e belíssima mensagem, de que sejam bons meninos e meninas, ou pestinhas, sempre existe uma possibilidade de redenção, e de mudar as atitudes e a maneira de pensar.

Em tempos, que dizem que não adianta pedir desculpas, hoje ou muitos anos à frente, o longa de Kaytis avista e afirma a eventualidade de uma transformação, através da compreensão de quais são nossas reais dores e faltas. Definitivamente, um filme natalino capaz de fazer sorrir.

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