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Crítica | Caixa de Pássaros

Caixa de Pássaros é a nova aposta da Netflix para o final de 2018. Inspirado no livro de Josh Malerman, Caixa de Pássaros, o longa conta uma história de sobrevivência, trabalhando aspectos do drama, suspense e até mesmo terror. O filme não traz algo muito original para a indústria, mas é mais um ótimo trabalho dentro da gigante do streaming.

Caixa de Pássaros traz um mundo pós-apocalíptico que nos é apresentado pelos olhos de Malorie, personagem de Sandra Bullock. A adaptação do roteiro veio pelas mãos de Eric Heisserer, que resolveu trabalhar o longa em duas linhas temporais que se intercalam durante o longa. Enquanto uma delas apresenta a jornada de Malorie, Garoto e Garota na busca de um lugar seguro, a outra explica ao público o universo do filme e o caminho trilhado pela protagonista até chegar ali. Como é necessário para o caminhar da história alguns pequenos saltos temporais, além do grande salto que separa as duas linhas de tempo, a divisão é justificável. Apesar disso, pouco se aproveita do contexto para explorar essa edição. Com exceção de duas ou três surpresas em relação aos personagens infantis, sendo apenas uma, de fato, significativa o suficiente para gerar alguma reação mais forte no espectador.

Nesse conjuntura, a edição do filme poderia ter sido um tanto mais eficaz se a apresentação dos conceitos na linha do passado se refletisse imediatamente em uma necessidade de aplicação ou reflexão na linha do futuro, como é muito bem colocado quando vemos um objeto que acaba de ser discutido no passado aparecer no futuro na mão de uma das crianças. Se faz necessário dizer que a edição não é um ponto que atrapalhe o filme, mas ao trabalhar junto do roteiro, ela poderia ter evitado alguns pontos de confusão que, mesmo resolvidos em algum ponto, poderiam trazer uma força maior em sua apresentação, já que o mundo é ainda desconhecido para o público.

Com essa ressalva, a direção de Susanne Bier segue sem maiores erros e grandes acertos. Ao escolher não mostrar o suposto “monstro” que leva a civilização ao caos, Bier trabalha bem o suficiente a câmera para que a aparição dele não seja necessária. Ainda assim, a identidade visual trazida na forma de folhas ao vento, para mostrar sua proximidade, tira um pouco do suspense que é criado quando a sua proximidade é mostrada por sons, como vozes de entes queridos ou dos pássaros, que dão nome ao filme. Assim, há um mau uso dessa mitologia dentro da própria proposta do filme. Um bom exemplo comparativo pode ser Um Lugar Silencioso. O filme de John Krasinski abraça seus conceitos ao ponto de abrir mão do áudio e abraçar o silêncio, usando isso como uma maneira de colocar o espectador dentro de seu universo. Apesar de ser um tanto mais complicado fazer isso quando a questão é a visão, Caixa de Pássaros poderia ter aproveitado melhor o uso de seus conceitos sonoros para deixar o público mais próximo das personagens.

Mesmo assim, um ponto alto do filme é perceptível pela audição. A trilha sonora, assim como deve ser em um suspense, é muito bem trabalhada para os momentos de clímax, ao mesmo tempo que some nos momentos certos. Os créditos finais listam, literalmente, três canções. Assim, não temos uma quebra proporcionada por música como é comum ver nos cinemas. O áudio trabalha junto com o resto do filme e não só preenche a vida de quem está vendo, e sim das personagens do filme.

Se o longa tem um grande ponto alto de destaque, é seu elenco e o desempenho dele. Uma ótima Sarah Paulson infelizmente tem pouco tempo de tela, mas nem por isso deixa de mostrar sua marca no filme. A atriz participa do momento onde tudo explode para a gênese desse novo universo, e por isso não a vemos em seu total extremismo, mas sua participação não deixa de ser marcante. John Malkovich é outro nome de peso que aparece bem no filme. Sua personagem é a de mais destaque dentro das secundárias, ao menos no quesito dramático e sua relação com a personagem de Bullock é uma das mais interessantes. Lil Rel Howery é outra atuação destacável. Sua personagem é crucial para a apresentação de diversos conceitos de sobrevivência ao mesmo tempo que para descartar a necessidade de explicação do fenômeno ocorrente.

Todas as personagens apresentadas com a chegada do fenômeno funcionam bem para explanar as mais diferentes reações que se possam ter ao novo panorama criado pelo apocalipse, com exceção de duas delas. Cheryl, interpretada por Jacki Weaver, apesar de participar efetivamente da trama, não adiciona muito para o universo. Já Tom, vivido por Trevante Rhodes, apesar da boa atuação, pode ser mencionado da mesma forma que Cheryl, com ainda uma agravante. Sua relação com a personagem de Bullock acaba enfraquecendo o arco da protagonista. Malorie se mostra desde o início uma personagem fria, ainda que tenha consideração com e consciência do próximo. Com Tom, Malorie mostra uma abertura que deixa menos significativa a que a personagem mostra ao final de sua jornada.

O final de Caixa de Pássaros não traz muito de surpreendente, apesar de tentar mostrar que o faz. No geral, o filme funciona bem como entretenimento, mas não entrega em sua plenitude o quando tenta retratar dramas pessoais e o suspense. Sandra Bullock desempenha uma de suas melhores atuações, mas mesmo esta perde um pouco de força já que o filme não conversa consigo mesmo como se fosse um todo. Quando os elementos conseguem se completar, vemos o quanto o longa poderia ser melhor se se entendesse como uma construção única. Ao contrário disso, o público deve sentir o encaixe das coisas de uma forma não orgânica. Dessa forma, o filme pode não marcar como um dos melhores do ano, mas o espectador pode se entreter por mais tempo que sua duração, já que os conceitos apresentados pelo universo são interessantes.

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