Filmes

Crítica | O Ódio que Você Semeia

Sempre quando próximos à temporada de premiações, como o Globo de Ouro que anunciará seus indicados no dia 06, surgem as obras carregadas de temas atuais, e relevantes à sociedade que buscam exaltar representatividades, refletir sobre  oportunidades de criar empatia com causas sociais, ou até instruir com fatos históricos, fases e momentos da nossa biografia que marcaram uma geração, e possivelmente continuam vigentes em nossa realidade corrente.

Um assunto recorrente dentro da indústria do cinema é o racismo, principalmente racismo nos Estados Unidos, onde sempre se fez presente. Tanto que na cerimônia do Oscar que premiava os lançamentos de 2015, houve duras críticas pelo fato de não haver nos indicados daquele ano, ao menos um ator ou atriz afrodescendente. Isso, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas se “redimiu” logo no ano seguinte, até com prêmios para os talentosos Mahershala Ali e Viola Davis.

Agora, nesta atual temporada, tal temática está de volta, e dessa vez, com três filmes: As Viúvas de Steve McQueen; Infiltrado na Klan de Spike Lee e O Ódio que Você Semeia de George Tillman Jr. Todos longas dirigidos por cineastas negros. Se na obra de McQueen, o tema é abordado de maneira mais sutil, e cheio de ramificações sociais; nos filmes de Lee e Tillman Jr., tenta-se apertar mais a ferida, e conseguem.

O Ódio que Você Semeia, baseado no livro homônimo da escritora Angie Thomas, narra a vida de Starr Carter, uma adolescente negra de dezesseis anos que estava ao lado de Khalil, seu melhor amigo desde os tempos da infância, quando este foi assassinado por um policial branco. Como a única testemunha do acontecimento, é chamada a depor perante um tribunal, e explicar o que aconteceu naquela noite. Porém, Starr fica receosa de ter seu rosto exposto à mídia, e quais serão as reações de seus colegas na escola particular que estuda, na maioria brancos.

Definitivamente, houve uma melhora no trabalho de George Tillman Jr. se considerarmos obras como Homens de Honra com Robert De Niro e Cuba Gooding Jr., ou o extra-açucarado Uma Longa Jornada, estrelado por Scott Eastwood, filho do renomado autor de cinema. E, esta recuperação acontece, especialmente quando busca apresentar o mundo através dos olhos de Starr, interpretada com paixão e eletricidade por Amandla Stenberg.

A vida dentro dos muros da escola não se encontra à parte de todo o resto, mas possui suas singularidades e peculiaridades, que propõem muitos desafios aos mais jovens, especialmente àqueles que fazem parte de qualquer uma das chamadas minorias sociais. Nesse ponto, de tantos momentos e situações que o longa O Ódio que Você Semeia almeja cobrir, os que mais se destacam são aqueles onde Starr se encontra no colégio particular que frequenta, junto de suas duas melhores amigas e o namorado, todos de pele branca; além das partes onde está de volta ao seu bairro de origem mais pobre, e encontra seus amigos e pessoas dessa região, na grande maioria de pessoas negras.

Em sua essência, o filme de Tillman Jr. é na realidade uma obra do tipo coming-of-age, uma história sobre amadurecimento que enfatiza o crescimento da protagonista da juventude para a fase adulta. Starr é uma garota que vive entre dois mundos bem diferentes um do outro, e por meios de sobrevivência, se vê na situação de ter que agir de uma maneira de um lado para ser vista como algo que pertence àquele lugar, ao mesmo que sofre para conseguir o respeito de sua própria comunidade, e reafirmar sua identificação como uma jovem negra. Assim como Moonlight: Sob a Luz do Luar de Barry Jenkins, também um cineasta negro, tratamos sobre a procura pela identidade.

Afinal, quando Starr se recolhe por baixo do capuz de seu agasalho, esta quer privacidade, se proteger ou validar sua identidade e origens? Seja qual for a resposta do momento, Starr será observada por todos, e crescer entre mundos não irá ser uma tarefa fácil, mas assim como seu pai quis ao lhe dar este nome, a adolescente terá luz o suficiente para trazer claridade no meio de tanta escuridão e ódio.

No fim, O Ódio que Você Semeia e George Tillman Jr., acertam ao desenvolver com maturidade emocional e racional, o quão complexo são os dias atuais, e que tudo o que parece claro e certo, na realidade se encontra longe de ser.

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