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Crítica | Creed II

Creed II chega aos cinemas com a missão de continuar a história de Adonis. Se o primeiro longa se apoia na vida de Apollo, o segundo toma como base sua morte. A sequência traz para Adonis mais um fantasma de seu passado, e possivelmente o último herdado de seu pai. Se o primeiro longa mostra a ascensão de Adonis para assumir o nome Creed e, assim, o legado de seu pai, o segundo traz a consequência natural de herdar tudo o que vem com o nome.

Se Ryan Coogler trouxe um roteiro, na medida do possível, mais independente da trajetória da franquia, Cheo Hodari Coker e Sascha Penn trazem todo o peso de Rocky IV para o longa, sem perder a condução proposta por Coogler. Assistimos um Adonis já consagrado que se depara com os mesmos medos de seu pai. Dessa forma, o que vemos na tela é mais um longa nostálgico nos moldes de Star Wars: O Despertar da Força. Em meio a personagens antigas afetadas pelo passado, novas personagens assumem papéis análogos ao clássico filme de 1985. Se não há um contexto político como anteriormente para dar clima à luta, há todas as consequências e cicatrizes que foram se passando como se hereditárias aos contendedores.

Assim, a franquia Creed continua focada, também, nos primeiros filmes da franquia de Rocky Balboa, onde exploramos toda a vida, e não só carreira, do pugilista, de uma forma mais pé no chão e sem exageros ou alívios cômicos. Contudo, o filme consegue se aprofundar mais nesse aspecto, assim como seu antecessor e o primeiro longa de Rocky. Dessa maneira, vemos uma luta Creed vs. Drago onde Adonis se encontra na posição de Apollo não só no ringue. A sequência consegue respeitar tanto o trabalho feito pelo primeiro Creed quanto pela franquia Rocky.

A direção de Steven Caple Jr. não se faz notável em muitos momentos. Fora do ringue, Caple Jr. faz o básico e, quando não o faz, segue a fotografia impressa por Coogler no primeiro longa. Mesmo nas cenas de luta, não se percebe muito a mão do diretor, embora a qualidade seja inegável. Fugindo da lógica de muitos filmes de ação, Caple Jr. sabe usar bem seus cortes. Ou, melhor, a ausência deles. Assim, o público é contemplado com uma luta compreensível, dinâmica e emocionante. Em um ponto citável, mas quase que único, acompanhamos um lutador beijando a lona, e nesse momento a movimentação da câmera fara o espectador sentir que ele próprio foi ao chão.

As atuações do filme também são destaques. Michael B. Jordan consegue trazer à tona todas as emoções vivenciadas por Adonis de maneira exemplar, respondendo à altura sempre que é mais exigido. Tessa Thompson já se mostra uma excelente atriz somente por seu trabalho como Bianca. Entretanto, aqueles que conhecerem sua carreira como um todo saberão de fato o nível de alcance que a atriz tem. Sylvester Stallone está confortável dentro de sua personagem mais uma vez. Apesar de não se destacar pela atuação como ocorreu no passado, inclusive no longa anterior, a imagem do ator está tão ligada à Rocky Balboa que nada atrapalha a sua posição.

O retorno de Dolph Lundgren como Ivan Drago é preciso. Respeitando o trabalho feito nos anos 80, encontramos um Drago que mantém a sua essência calada, embora por motivos diferentes. Ao invés de sua frieza confiante, a personagem é cheia de mágoa e ressentimento. Assim, a vemos até um pouco mais enérgica. Florian Monteanu também atua muito bem como Viktor. Infelizmente, por mais explorada que a sua situação seja, e por mais formidável que seja seu trabalho quando exigido, sua personagem acaba por ser mais uma personificação do filho de Drago do que um oponente com personalidade própria. Viktor deve entrar para a história com o filho de Ivan ao invés de ser um nome forte como Apollo Creed, Clubber Lang ou o próprio Ivan Drago. Da mesma forma, o retorno de Brigitte Nielsen como Ludmilla é pouco explorado, embora bem colocado.

Todo o filme tem como base as cicatrizes que Rocky IV deixou, seja em Balboa, na família Creed ou na família Drago. Assim, o espectador pode sentir falta de uma visão mais profunda dos russos. Ainda assim, é interessante notar como uma nova vida e uma antiga morte são contrastadas e servem de motivação tanto para a coragem quanto para o medo do protagonista. Outra relação que é intrínseca, porém mal exposta, dando a impressão de que poderia ser melhor explorada.

Creed II é menos independente do que seu primeiro longa, mas acerta em cheio ao tentar cumprir sua proposta nostálgica. Os fãs da franquia devem gostar do filme bastante por causa de seu caráter nostálgico. Contudo, o longa não funciona somente pelo seu roteiro, mas também por suas questões técnicas. Toda a contextualização trazida pela iluminação, cenografia e figurino são detalhes que engrandecem a obra. Mas, de fato, o filme é uma ode ao trabalho passado, principalmente ao aclamado Rocky IV.

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