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Crítica | Mesmo com uma protagonista forte, Capitã Marvel é mais um filme episódico do MCU

Capitã Marvel chega aos cinema em um momento único no Universo Cinematográfico Marvel. Ao lado de Homem-Formiga e a Vespa, a película se vê estreando no momento em que o MCU está em “pausa”. Enquanto todos esperam para assistir Vingadores: Ultimato e finalmente fechar o arco iniciado pela Marvel em 2008 com Homem de Ferro, o mais recente filme do estúdio pode ser visto por algumas lentes diferentes.

Dentro do que é o MCU, talvez o longa não se destaque por si só. Ao decidir por apresentar a personagem a personagem nos anos 90, um paralelo pode ser traçado com Capitão América: O Primeiro Vingador. Antes da culminação que gerou o primeiro crossover Os Vingadores, o longa da história de Steve Rogers teve como pretensão apresentar uma personagem que seria essencial para o longa futuro. Decerto, Capitã Marvel vem de forma análoga, porém diferente. Se a personagem for peça essencial para próximo crossover da Marvel, isso não se traduz essencialmente no filme.

Os fãs que acompanham as notícias e divulgações do filme, bem como os que se animam ao ver as mais diversas falas dos atores envolvidos, dos irmãos Russo ou mesmo de Kevin Feige, podem sair decepcionados de suas salas de cinema. O filme mostra, de fato, que Carol Danvers é de toda poderosa. E sim, merece a posição como uma das mais fortes personagens do MCU. Mas não, não fica óbvio que ela derrotaria Hulk ou Thor em duelo. Nesse quesito, pelas diversas expectativas criadas pelos envolvidos na Marvel Studios, o longa não empolga. Aqueles que forem ao cinema para entender alguma coisa sobre o futuro filme, devem sair desapontados.

A criação do MCU permitiu que a Marvel trouxesse a experiência de ler quadrinhos para o cinema. Sendo assim, mesmo o público que está acostumado com os gibis, deve ter dificuldade de entender qual o papel de Capitã Marvel. Dentro do universo, o filme é tão desinteressante quanto Homem-Formiga. Dessa forma, o problema é de fato criado pelo alarde feito pelo próprio estúdio dentro de suas propagandas não-oficiais para o filme. Se foi dito por alguém que o longa seria uma obra de origem diferente das demais, esse alguém mentiu ou se enganou.

Fugindo um pouco do que contorna o filme, este por si só não é dos mais extraordinários, mesmo em comparação com o próprio MCU. A qualidade técnica é indiscutível. Embora, mesmo dentro dessa, o fato da Marvel não deixar um diretor impor sua marca continua nítido. Contudo, por mais que não se veja criatividade, por exemplo, no olhar da câmera, a edição do filme em nada o prejudica. Trilha sonora, fotografia, figurino ou efeitos especiais, todas coisas que poderiam se sobressair no filme de alguma forma, passam despercebidas ao lado do roteiro. Mas mesmo o enredo não anima de fato.

Voltando um pouco ao que contorna o filme, aqueles que acompanharam as diversas teorias de diversas fontes de como os Skrull entrariam no MCU, como o filme poderia iniciar uma possível próxima fase com a saga Invasão Secreta e tantas outras, devem sair surpreendidos. Entretanto, isoladamente, não é um grande plot twist. E contribui para ser apenas mais um filme de introdução dentro de tantos outros. O filme, como a maioria dos filmes, tem seus atos muito bem definidos. Mesmo que este esteja levemente embaralhado cronologicamente, como muitos já fizeram. Assim, segue a lógica episódica aplicada a diversos longas do MCU.

Mas Capitã Marvel tem os seus acertos, começando por sua protagonista. Não havia dúvidas, ao menos para a grande maioria, de que Brie Larson deveria fazer um bom trabalho. A excelente atriz mostra mais uma vez do que é capaz. Dessa vez, ao interpretar uma personagem forte e decidida. Nesse ponto, pode parecer que Danvers foge um pouco da saga do herói proposta por Joseph Campbell. Entretanto, é somente a mesma rotina, que vamos perceber que foi percorrida em seus pontos mais cruciais somente quando desvendamos, junto do filme, a verdade sobre seu passado.

A personalidade forte, sagaz e irônica de Danvers deve lembrar os fãs do MCU um pouco do Tony Stark de Robert Downey Jr. ou mesmo do Stephen Strange de Benedict Cumberbatch. Ao passo em que é previsto pelo público e pela mídia que Capitã Marvel deva assumir um papel de liderança no futuro dos filmes do estúdio, essa foi uma decisão acertada. Para o filme por si só, deixou a protagonista não só interessante mas como algo a se aspirar, vide que mesmo que ela lembre as personagens citadas mais acima, seu ego não entra no caminho de perceber o seu redor com empatia.

A relação de Danvers com Nick Fury foi outro acerto. A amizade que surge entre os dois, com momentos pontuados de referência aos clássicos filmes de parceiros policiais conduz muito bem o filme. Em uma visão mais voltada para o macro, a personagem de Nick Fury é mais bem construída, e podemos ver não só momentos um tanto quanto simbólicos, como a perda de um olho, mas análises mais diretas, como entender suas motivações, já explicitadas em Os Vingadores. No entanto, faltou um pouco a construção gradativa dessa personagem na atuação de Samuel L. Jackson, que trabalha muito bem para um filme solto, mas não contribui para a grande saga.

Seguindo os outros passos dados pelo MCU, Capitã Marvel é um bom entretenimento. Mas diferente de alguns poucos títulos do catálogo da Marvel Studios, não deve perdurar na memória dos fãs, apesar de não ser tão esquecível. Morno, o filme deve se vangloriar mais de suas vitórias industriais dentro do próprio MCU, como trazer sua primeira protagonista feminina. Ademais, o filme é divertido por si só, e não apostar no uso da nostalgia da época ou nos demais longas como muleta é um acerto.

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