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Crítica | O Menino que Descobriu o Vento

Graciosamente não é algo raro quando nos deparamos com bons trabalhos de atores, homens e mulheres, em seus filmes de estreia na nova função. Agora mesmo recentemente, tivemos o astro Bradley Cooper conseguindo oito indicações ao Oscar, e levando uma estatueta, logo em seu debute nas grandes telas com a obra Nasce Uma Estrela. Exemplos não faltam: Ben Affleck com Medo da Verdade; Tom McCarthy com O Agente da Estação e Sofia Coppola em As Virgens Suicidas. É possível adicionar mais um nome agora neste específico grupo, que é o de Chiwetel Ejiofor, conhecido por sua indicação ao Oscar pelo filme vencedor daquele ano, o drama de período 12 Anos de Escravidão.

Seu primeiro trabalho como cineasta é o drama original da Netflix O Menino que Descobriu o Vento, baseado em fatos reais do livro homônimo escrito por William Kamkwamba e Bryan Mealer, que conta a vida de William quando garoto crescendo na República do Malawi, país da África Oriental, que vivia entre ajudar seu pai e a família com o plantio e a educação escolar, algo raro para um jovem daquela região. Quando as catástrofes naturais, como chuvas torrenciais, além de longos períodos de seca, somados ao abandono e descaso do governo assolam os moradores da região, o jovem e inteligente William irá provar que ainda pode haver esperança em uma desolada e trágica vida de miséria.

É muito clara a intenção de Chiwetel Ejiofor nesta produção original Netflix. E, apesar de alguns minúsculos excessos e alongamentos, é fato que o novo diretor cumpriu bem tal função ao nos apresentar uma história de superação realçando a importância da educação escolar na caminhada que busca bater as probabilidades para se sobressair diante as dificuldades. Para fazer isso, Ejiofor construiu O Menino que Descobriu o Vento sobre dois pilares fundamentais: a câmera de Dick Pope e as atuações naturalistas e pungentes de seu elenco, do qual também faz parte.

Muito sábia a escolha de Ejiofor ao trabalhar com o cinematógrafo Dick Pope, conhecido por ser um homem de confiança do renomado autor de cinema Mike Leigh. Ao lado do cineasta inglês, produziram onze trabalhos juntos, com destaques para O Segredo de Vera Drake e Sr. Turner.

A dobradinha Ejiofor/Pope foi muito bem, pois fez o simples, mas de uma maneira que contribui à narrativa, com texto também escrito pelo cineasta. São pouquíssimas cenas noturnas, dado que o importante aqui é capturar, com a claridade da luz do sol, cada traço de emoção genuína do elenco de O Menino que Descobriu o Vento. E, já é sabido pelos trabalhos do cinematógrafo ao lado de Leigh, além de outros de sua filmografia, que Pope possui enorme sensibilidade para filmar estes momentos, sejam estes de alegria incandescente ou desolação e destempero diante as contingências. Ejiofor e Pope não querem esconder nada do espectador, tudo deve ser revelado para ser melhor compreendido os feitos do garoto William.

Aí entram as performances do elenco capitaneadas por Chiwetel Ejiofor que geralmente apresenta trabalhos competentes, e aqui não será diferente. Porém, entre os atores, dois merecem maior notoriedade nesta produção Netflix, que são: o protagonista vivido pelo vibrante Maxwell Simba e a hipnotizante Aïssa Maïga.

Maxwell Simba é o fio condutor que nos prende à história, e durante quase duas horas de filme, acompanharemos a força de resiliência do garoto que só não é maior que sua inspiração e interesse em trazer equilíbrio e bem-estar à sua família. Mas, quem dá um show e revela predicados notáveis é a atriz francesa, nascida em Senegal Aïssa Maïga. No papel da matriarca da casa, Maïga consegue na mesma medida, encantar com sorriso e olhares inflamados, e assumir a cena com o mesmo olhar, só que agora, perfurando o emocional do espectador, partindo seu coração. Da mesma forma como foi com a bela Lupita Nyong’o, esta atriz de dupla nacionalidade é um diamante a ser lapidado, à vista que há talento natural ali.

Se Chiwetel Ejiofor, com o tempo, aprender a modular alguns elementos de uma maneira mais compacta sem deixar de envolver pela trama contada, é certo dizer que terá um percurso interessante. Definitivamente, O Menino que Descobriu o Vento não será rememorado por anos que virão, contudo, isso não exclui o fato de que esta produção original da Netflix foi um primeiro e seguro passo do ator, agora diretor, na função de domador da narrativa. Talvez, lá na frente, ao analisarmos a carreira de Ejiofor, o que está disponível hoje, seja exaltado no amanhã.

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