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Crítica | Operação Fronteira

Ao observar o poster do novo lançamento original da Netflix, o thriller de ação Operação Fronteira, dirigido por J. C. Chandor, um dos nomes de respeito na atual safra hollywoodiana de novos cineastas, não será nenhuma surpresa se passar pela sua cabeça a possibilidade de a provedora mundial via streaming ter feito um longa com a ideia de reunir alguns dos homens que certamente fizeram, ou fazem parte da lista da revista People de homens mais bonitos do mundo. Ironicamente, ao final, é esta a maior impressão deixada por este filme: um bando de rostinhos bonitos.

E não se enganem! O público alvo aqui não são as mulheres, pois ninguém faz mais questão de admirar a bravura, ou a peripécia masculina do que o próprio homem. O enorme sucesso da franquia Velozes e Furiosos está aí para não deixar mentir!

A obra mais recente de J. C. Chandor nos apresenta a vida de cinco ex-soldados das Forças Especiais americanas que não receberam os devidos méritos por seus serviços prestados à nação. Assim, resolvem fazer parte de um plano arriscado, elaborado por Santiago “Pope” Garcia: roubar um lorde do tráfico que vive entre as fronteiras de países da América do Sul. Mas, nem tudo sai como o planejado, e agora, os amigos e ex-soldados se encontram em uma situação onde terão que batalhar por suas vidas.

Operação Fronteira precisa de menos de dois minutos para dizer a que veio. No helicóptero vemos Santiago “Pope” ouvindo For Whom the Bell Tolls, um clássico da banda de heavy metal Metallica. Existem milhares de relatos e histórias de ex-combatentes que diziam ouvir músicas de bandas deste gênero antes de irem para a linha de frente, pois estas abasteciam seja o que for que precisassem em um lugar onde haveria violência, sangue e mortes. Pouco a frente no longa, veremos outra situação similar, onde Ben Miller antes de entrar em um ringue de lutas clandestinas, caminha ao som de Walk da banda de metal pesado Pantera.

Tais escolhas não são gratuitas, de modo que tal estilo de música costuma amparar alguns maneirismos masculinos sobre quebrar as regras, ou simplesmente como estímulo de enfrentamento para o que desejar.

Por mais que tente dar mais profundidade à obra retratando os rastros deixados pela violência, exemplo dois momentos onde a câmera captura rostos mais jovens, seja uma criança ou adolescente, acabam sendo apenas um simbolismo superficial. No fim, o que mais se destacará nesta produção original Netflix é a sensação de camaradagem entre aqueles que estiveram na linha de frente lutando juntos. E, o quanto as chamas desta Fogueira das Vaidades do século XXI queimará em suas vidas. Ideias já muito batidas e abordadas de melhor maneira, seja pelo entretenimento ou por uma narrativa mais audaciosa.

Apesar do bom trabalho do cinematógrafo Roman Vasyanov em aproveitar os cenários naturais, além de algumas boas cenas de ação com poucos cortes, deixando tudo mais claro e fácil de desfrutar. É o roteiro de Mark Boal que não faz sua parte da melhor maneira que poderia. Até hoje, dá para afirmar que Boal teve um grande acerto em seus trabalhos, no surpreendente Guerra ao Terror de Kathryn Bigelow, diretora com quem trabalharia ainda mais duas vezes.

Bigelow conseguiu salvar a pele de Boal em A Hora Mais Escura, de roteiro pouco dinâmico de assunto e temas muito complexos, mas não pôde fazer o mesmo no muito irregular Detroit em Rebelião. Em Operação Fronteira, tanto a estrutura quanto o conteúdo não facilitaram para incitar maior energia e empatia ou interesse, respectivamente.

Talvez isto seja o que mais assombra nesta produção Netflix, o fato de o renomado J. C. Chandor não ter conseguido entusiasmar com tal enredo, de algumas riquezas de material, mas frouxo na execução. Diferente das músicas das bandas citadas anteriormente. Chandor ficou distante de seus ótimos trabalhos nos longas Margin Call – O Dia Antes do Fim e o drama de sobrevivência Até o Fim, estrelado pelo icônico Robert Redford.

No elenco, destaca-se um pouquinho mais o trabalho de Ben Affleck. Curioso, pois o ator geralmente é questionado por suas performances; e Pedro Pascal é praticamente um enfeite na trama.

Ao final, Operação Fronteira usa de vários elementos de outras produções, mas sem a sensibilidade ou vibração destes. Não tem o mesmo senso do ridículo e entretenimento bombástico da franquia Os Mercenários; não tem o estilo marcante da série de filmes Onze Homens e um Segredo; e não é capaz de lacerar ou elevar questionamentos sociais como a obra Sicario: Terra de Ninguém de Denis Villeneuve. Um filme incapaz de atravessar fronteiras.

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