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Crítica | Homecoming - A Film by Beyoncé

Se a mundialmente famosa artista e cantora pop fosse um filme de ficção, ela seria o longa Pantera Negra de Ryan Coogler, recente obra-símbolo sobre o empoderamento do afrodescendente que dominou à América no ano anterior com uma bilheteria monstruosa batendo recordes e quebrando paradigmas.

Ela faz e vêm fazendo o mesmo ao longo da carreira iniciada em 1997 junto do grupo girl-power Destiny’s Child.

Beyoncé, aos 37 anos, já conquistou um mundo de maravilhas, sendo ela uma das artistas mais populares no tempo presente com quase 180 milhões de álbuns vendidos, juntando seus trabalhos com o grupo Destiny’s Child e sua arrebatadora carreira solo que se iniciou em 2002. No ano seguinte ao lado de Jay-Z (que se tornaria seu marido, além de parceiro musical em músicas, projetos e turnês) lançou o hit de sucesso Crazy in Love como uma voadora com os dois pés na porta. A cantora nascida em Houston, estado do Texas derrubou a porta, e garantiu que esta nunca mais fosse fechada em sua cara.

Agora, 17 anos depois de se aventurar como uma artista solo, Queen Bey, como é chamada por seus ardorosos fãs fazendo referência à abelha-rainha, lança Homecoming, documentário dirigido e produzido pela própria com o selo da provedora mundial via streaming Netflix.

O filme de Beyoncé mostra algumas músicas, além dos bastidores do festival de música Coachella, realizado todo mês de abril no estado da Califórnia. Ano passado, sua performance como artista principal neste que é dos grandes festivais musicais do planeta ganhou muita atenção com um show de massiva produção e temática que visa o empoderamento feminino, e mais especificamente, da mulher negra na América.

Uma das características mais citadas por seu arsenal de fãs é de que a cantora sabe fazer ‘carão’, algo como uma forte expressão marcante de presença no palco, ou em vídeos e fotos. Parecem até caretas em alguns momentos, mas nunca deixam de expressar o tipo de presença intencionada. Mas, Beyoncé é bem mais do que isso, já que é uma ótima e vigorosa dançarina. Assim, muitas de suas coreografias na apresentação em Coachella ganham destaque, sempre acompanhada de outros dançarinos, homens e mulheres talentosos em sua arte corporal.

Aqui, talvez a maior surpresa positiva neste show-documentário da Netflix, revelar para as pessoas a paixão e esforço destes personagens que sempre ficam ao fundo, ou do lado da grande estrela no centro do palco. É possível sentir o ardor na apresentação desse exército que acompanha Beyoncé. Na grande maioria, muito jovens e gratos por tamanha oportunidade de se apresentar diante de milhares e milhares de pessoas.

Aí entra o mérito da cantora que almejava que sua apresentação em Coachella, como a primeira mulher negra a ser artista principal do festival, fosse mais do que uma performance monumental. Ela queria elevar a cultura de seus ancestrais e de sua própria história, que é similar a de tantos americanos afrodescendentes, e evidenciar com maior imponência a beleza e impulso resiliente de sua raça. Praticamente, um hino à negritude.

No palco, majoritariamente ocupado por membros de pele negra e parda, Beyoncé promove a vida de tantos americanos que foram ao longo de uma história de lutas empurrados às margens da sociedade dominante, dando a chance de mostrar seus valores para o mundo todo. Algo merecedor de aplausos, mesmo para uma artista que não esconde sua faceta narcisista, vide sua entrada no palco de Coachella vestida como Nefertiti, rainha da décima oitava dinastia do Antigo Egito, figura conhecida pela revolução religiosa na qual adoravam apenas um único deus, Áton. Que também se encontra no palco de Beyoncé, um disco solar de cor negra no topo da pirâmide metálica, iluminando com seus raios a rainha, no topo desta, e seus seguidores.

Na parte dos bastidores, Homecoming não consegue empolgar com a mesma vibração que a apresentação musical, muito pela trilha de fundo, sempre dando a sensação de estarmos diante de um acontecimento transformador e ecumênico do tipo cerimonial religioso mais do que congregacional.

Felizmente, Beyoncé e sua orquestra-fanfarra dançante e cantante não deixam esse espírito santificado dominar o palco. Lá, há uma tribo apaixonada expressando suas histórias e virtudes, e dando a oportunidade de estabelecer uma nova face a estes mesmos.

O documentário da Netflix talvez não tenha o poder e capacidade de convencer aqueles que não são convertidos à igreja de nossa senhora Beyoncé. Porém, aos já convertidos, nas palavras da própria – ‘okay senhoritas, agora vamos ficar em formação’.

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