Netflix

Crítica | Loja de Unicórnios

A provedora mundial via streaming continua a promover a ideia de distribuir obras dirigidas por atores/atrizes em suas estreias na função. Pouco mais de um mês atrás, a Netflix disponibilizou o longa O Menino que Descobriu o Vento de Chiwetel Ejiofor, hoje, a mesma revela ao mundo o debute da atriz mundialmente famosa Brie Larson, que está tomando o globo com o sucesso do filme do universo cinematográfico da Marvel, o longa de ação da super-heroína Capitã Marvel. E, novamente se repete a dobradinha entre a atriz e o icônico Samuel L. Jackson, pela terceira vez.

Primeiro, Kong: A Ilha da Caveira em 2017, depois o longa de mais de um bilhão de dólares de bilheteria da Disney/Marvel Studios, e agora, esta produção original da Netflix, a comédia Loja de Unicórnios.

O filme narra a vida de Kit, jovem artista que fracassou ao mostrar seus trabalhos, e agora, se vê na condição de ter de voltar a viver na casa de seus pais. Trabalhando como temporária em um escritório como a ‘garota do xerox’, ela recebe uma carta misteriosa de um vendedor desconhecido convidando-a para comparecer em sua loja, que vende aquilo que você precisa. O Vendedor oferece à Kit, a chance de ter sua maior fantasia desde pequena: um unicórnio.

Desde O Quarto de Jack em 2015, obra que protagonizou e deu seu primeiro Oscar na carreira, percebe-se uma predisposição da atriz em trabalhar com projetos que exaltem o emocional (que inclui o recente Capitã Marvel), seja este da maneira que for. O belíssimo e emotivo longa de 2015 teve os méritos de ser mais do que apenas ‘um filme para chorar’, pois argumentava temas como a violência (física e sexual) contra a mulher, a inocência corrompida por um mundo abjeto, o vício emocional e mental da rotina, além do julgamento alheio ligado as questões da maternidade.

Tudo isso para dizer que Loja de Unicórnios também busca o foco pelo emocional, porém, ao contrário da obra que lhe deu um Oscar, a produção da Netflix é apenas, e exclusivamente, sobre amadurecimento. Nada mais! E, lamentavelmente, não é dos filmes que abordam tal temática que ganhará maiores destaques.

Aqui, como deveria ser, não é o caso de diminuir a obra dirigida por Larson, simplesmente pelo fato de ser uma história que visa deixar uma nota final do tipo ‘feel good’. É sempre louvável e encorajador que continuem a produzir obras que visem alcançar o espectador(a) de tal maneira. Pena que esta produção Netflix encontrou dificuldade em manifestar os tons de uma comédia vistosa e peculiar.

Vale lembrar que comédia, o gênero dramático, não necessariamente deve ser sempre engraçada, mas ela pode expressar-se em atos de graça. O gênero dramático, surgido no teatro, que sempre busca a ruptura pelo riso ou gargalhada é conhecido como farsa, que é diferente do longa de Brie Larson.

Apesar desta distinção, a atriz/diretora mistura ambas em seu projeto inicial como cineasta. Ora de caráter puramente caricatural, ora realista. Se bem realizado, pode gerar bom material, exemplo: Zumbilândia, ou Ted para citar alguns mais recentes, e até o clássico Os Caça-Fantasmas de Ivan Reitman. O problema é que Larson acima de tudo, mira fatores emocionais, afinal de contas estamos falando sobre amadurecer em Loja de Unicórnios. Todavia, se este é o alvo, é perceptível notar que ela falhou em balancear tais tonalidades.

O clima, em geral, gera estranheza. O que neste caso, pensando no contexto da protagonista da trama, interpretada por Larson, é algo positivo, porém acaba por sabotar o objetivo empático proposto pelo enredo. É possível até em certos momentos, sentir que aquilo parece artificial demais.

E, no único momento que a cineasta tenta fazer uma crítica social à padronização presente no mundo corporativista, o resultado se mostra frouxo e até abobalhado.

Já, os destaques positivos ficam por conta das performances: primeiro, do sempre competente (e ótimo caricaturista) Samuel L. Jackson; e segundo, pela legitimidade da atuação de Mamoudou Athie. A protagonista, apesar de uma cena final convincente, entrega um trabalho na maior parte desigual.

Contudo, considerando os contextos de Loja de Unicórnios com Brie Larson, marinheira de primeira viagem na nova função. Dá para se tirar alguns predicados aqui e acolá. Apenas, espera-se que na próxima aventura atrás das câmeras, a talentosa atriz consiga equilibrar melhor os elementos para que a mensagem chegue com mais impacto e calor.

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