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Crítica | A História de um Sonho - Todas as Casas do Timão

Futebol e política não se discute! Já se foi o tempo onde esta frase tinha alguma validade. Até porque o tempo vem mostrando que uma está cada dia mais intrincada a outra.

Não veremos nada a respeito de política no bom documentário sobre o maior time da capital paulista, o Sport Club Corinthians Paulista, vulgo Timão. Mas, pode ter certeza que está lá, mesmo que não esteja tão acentuado aos espectadores, quase que garantidos serão torcedores corintianos na busca de testemunhar algumas das glórias de seu time, que é neste século, definitivamente, o clube mais vencedor no país com títulos estaduais, nacionais e internacionais, como a Copa Libertadores da América e o Mundial de Clubes da FIFA.

Porém, como algumas destas recentes conquistas históricas se deram pouco tempo atrás, talvez, o que mais ganhe destaque neste documentário A História de um Sonho – Todas as Casas do Timão dirigido pelo duo Ricardo Aidar e Marcela Coelho sejam os momentos onde argumentam a força futebolística, mas principalmente, de massa da sua torcida em outros campos pelo Brasil, como o Morumbi, pertencente ao São Paulo Futebol Clube, que foi palco de muitas conquistas corintianas, sendo um time que foi campeão mais vezes no estádio da zona oeste da cidade do que o próprio dono da casa.

Mesmo o antigo Parque Antártica antes de ser comprado pelo time Palestra Itália, hoje Sociedade Esportiva Palmeiras, em 1920, viu o time do povo levantar sua primeira taça na história lá, ao vencer o Campeonato Paulista de 1914 de forma invicta, 10 vitórias em 10 partidas.

Contudo, o corintiano só realmente se sentiu em casa pela primeira vez ao mandar seus jogos no Parque São Jorge, a Fazendinha, que fica localizado no bairro do Tatuapé, zona leste da capital. Lá, a massa corintiana lotava a pouca capacidade do local (18 mil pessoas) transformando o estádio em um caldeirão para os adversários. Óbvio, que uma torcida numericamente grandiosa como é a do Timão, buscava uma casa maior, que fizesse jus ao seu tamanho.

Aí entra o que será a melhor e mais emocionante parte do documentário de Aidar/Coelho, a relação de amor (e as vezes, raiva) do Corinthians e seu torcedor com o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, apelidado pelo torcedor como a Saudosa Maloca, nome de música composta pelo pai do samba paulista, o compositor Adoniran Barbosa.

É interessante perceber os comentários de torcedores, especialistas e jornalistas sobre a vida do Corinthians no Pacaembu. Das derrotas que todo torcedor almeja esquecer a conquistas memoráveis como a Libertadores 2012. Esse misto de ganhos e perdas tornou a relação torcida do Timão e Pacaembu, a mais querida do coração do torcedor, e até hoje, é o time da capital que mais atuou no estádio municipal.

Igualmente emocionante é o retrato do jogo de despedida do corintiano para com sua Saudosa Maloca em uma vitória do time da casa contra o Flamengo, por 2 a 0. O momento que um destes torcedores de mais idade fala de suas lembranças no estádio demostra o ápice da paixão entre o futebol e o ser humano. Existe habilidade dos documentaristas em exaltar um sentimento de carinho e saudade que fica por tudo o que se passou lá.

Para finalizar, A História de um Sonho – Todas as Casas do Timão chega na atual casa da nação corintiana, a Arena Corinthians no bairro de Itaquera, localizado perto da extremidade leste da cidade de São Paulo. Estranho que após o momento mais pungente no documentário de Ricardo Aidar e Marcela Coelho, encontra-se o que acabou faltando um pouco mais de ênfase e louvor: a inauguração da maior casa corintiana em 2014, poucos dias antes da Copa do Mundo; e alguns jogos que vieram ao longo da existência da arena, que incluem jogos de título nacional.

Claramente (até na cor de pele) atingindo uma camada social diferente de sua torcida se compararmos ao público atendente no Pacaembu, o Corinthians fez de Itaquera onde foi o CT da base do clube (uma nova versão do Terrão da antiga Fazendinha) uma casa hospitaleira à sua nação, e inóspita aos rivais.

Com apenas cinco anos na nova casa, é certo imaginar que haverão mais conquistas lá ao longo do tempo, contudo, vale lembrar de algo que é obrigatório, e ainda se encontra em débito pela administração do segundo maior clube de futebol do país que é o acerto das dívidas de sua construção. O monumento da zona leste, o novo templo da loucura corintiana é suntuoso, sem dúvida alguma, e faz justiça para com a nação do Timão.

Mas lembremos, alguns dirigentes que comandam o futebol do clube aparecem no documentário, e recebem todos os méritos por uma obra que traz alegria ao futebol, e dado que nem tudo na vida é bônus, cabe a política que é inseparável do que acontece nas quatro linhas (vide o que acontece hoje com o Cruzeiro de Minas Gerais) cuidar de sua imagem e ética, e buscar ser adimplente com suas parcelas, já que uma hora a conta chega, … e ela entra em campo.

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