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Crítica | Annabelle 3: De Volta para Casa

Dirigido e escrito por Gary Dauberman, roteirista de diversos capítulos do universo Invocação do Mal e IT: Capítulos Um e Dois, Annabelle 3: De Volta para Casa surge como uma versão light de um típico filme da franquia, com menos sangue e mais humor em uma história de terror teen que se esbanja com uma seleção variada de fantasmas e monstros.

A história aqui é muito simples, talvez a mais simples de todas as vistas até agora. Após uma sequência introdutória que apresenta diversos elementos da trama com uma boa economia de detalhes e sustos, passando pela busca da boneca Annabelle pelos Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga), um acidente na estrada e a influência da boneca sobre os espíritos dos mortos, o restante do longa se desenrola como um longo e único ato dentro de uma casa mal-assombrada.

O mal de Annabelle é liberado por motivos que, se aparentemente estapafúrdios de início, são suficientemente justificados logo em seguida, subvertendo parte das expectativas por trazer alguma profundidade emocional à ocasião. Conforme a filha dos Warren, Judy (McKenna Grace), sua babá Mary Ellen (Madison Iseman) e a amiga Daniela (Katie Sarife) enfrentam os espíritos influenciados pela boneca, outros pequenos arcos são resgatados e incorporados, como o do crush Bob (Michael Cimino), alívio cômico da vez.

A primeira metade do longa talvez seja a mais bem-sucedida por desafiar as convenções do que se espera de um filme com esta marca. A introdução promete um susto que não vem, e nela as aparições repentinas não vem acompanhadas de sons acentuados. Já na casa dos Warren, cria-se tensão através do silêncio conforme a babá e sua amiga caminham pelos cômodos, e no fim destes silêncios há… mais silêncio. Quando há algum susto, este vem em um momento inesperado e conquistado.

Em sua estreia como diretor, Dauberman não exibe um desempenho extravagante, mas mostra talento em seu comedimento, sem querer sempre emular a câmera flutuante de James Wan e focando na composição cuidadosa dos quadros a fim de valorizar os pequenos espaços da casa. Há suficiente espaço negativo em cada quadro para manter o espectador analisando os arredores, esperando por alguma aparição ao fundo de um quarto ou um corredor, sem necessitar de truques mais rebuscados de câmera.

Com as tantas ameaças que por fim escapam do porão dos Warren, espera-se que Annabelle 3: De Volta para Casa torne-se uma espécie de Goosebumps ou Scooby-Doo 2: Monstros à Solta para um público mais crescido, e embora a escala dos acontecimentos aqui seja limitada a uma única casa, a sucessão de sustos segue uma lógica similar a desses filmes, priorizando o entretenimento acima de uma coerência interna entre as entidades malignas, que seguem conceitos próprios.

Se por um lado essa despretensão permite uma grande variedade de sustos e ideias criativas, colocando o espectador numa posição de incerteza quanto ao que virá em seguida, a natureza frenética do terror impede que cada uma das entidades seja melhor desenvolvida, o que não só as limita a monstros de parque de diversão como torna o desenrolar do longa um tanto aleatório demais para seu próprio bem – monstros aparecem e somem sem motivo aparente.

Como o roteiro também introduz diversas entidades, estas não poderiam deixar de ser inconsistentes entre si quanto à idealização e sua realização em tela. No quesito estético, as melhores delas são facilmente o Barqueiro, um ceifador com moedas sobre os olhos, e a própria Annabelle, cujo demônio interior se manifesta de maneira fascinante, em uma tensa cena com um abajur com filtros coloridos que, quando alternados, gradualmente revelam sua verdadeira forma.

Já o Cão Infernal, que não passa de um típico lobisomem, surge em efeitos de CGI cartunescos que o tornam muito menos ameaçador do que até mesmo aqueles vistos nos longas e série de Goosebumps, funcionando melhor quando oculto ou em ocasiões de humor – como na cena de Bob no galinheiro. O vestido de noiva amaldiçoado, por sua vez, é basicamente uma mistura da Freira com a Chorona, e surge na trama apenas para criar um inconveniente para as protagonistas em seu ato final.

Porém mesmo as melhores ameaças deixam a desejar em algo importantíssimo para qualquer filme de monstro: regras. O Barqueiro, por exemplo, some quando iluminado por uma lanterna, como a Diana de Quando as Luzes se Apagam, mas depois já não é afetado por outra fonte de luz. Para evitar que anulem umas às outras, as ameaças quase nunca contracenam. Isso reforça que, apesar de inegavelmente divertido, Annabelle 3 poderia se desenrolar da mesma forma com quaisquer outras criaturas incluídas na mistura pelo roteirista.

A falta de efeito das entidades sobre a narrativa que se conta aqui é realçada pela apressada conclusão, bem menos climática do que se esperaria desta premissa. Mas ao menos é refrescante ver que Annabelle 3: De Volta para Casa evita as maiores indulgências da franquia a esta altura de seu desenvolvimento, quando o sucesso nas bilheterias está praticamente garantido. Como um todo, o filme de Dauberman infelizmente não se solidifica, mas é uma boa coletânea de sustos que deve agradar o público casual de terror.

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