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Crítica | Obsessão Secreta

O nome do filme é Obsessão Secreta.

Secreta? Mesmo? Mas, é secreta para quem cara pálida? Para o espectador? De verdade?

Não é surpresa que quando fala-se sobre obras de suspense, uma das primeiras coisas a ser exaltada é o fato do gênero cinematográfico elevar dúvidas e perguntas a quem assiste. Também é confortável afirmar que este texto até o momento conseguiu erguer mais hesitações que todo o longa dirigido por Peter Sullivan. Algo que nem é lá grande novidade, pois se antes de assistir ao filme de produção original Netflix, viu o trailer, já notou uma “raridade”: quando o trailer de menos de dois minutos, mais do que entregar alguns fatores, faz um resumo e diz tudo que você imagina do filme que têm 97 minutos de duração.

Melhor perder dois minutos ou quase uma hora e quarenta? É certo que tempo será perdido. Vai de cada um escolher o que prefere.

Enquanto escolhe, apresentemos o “trabalho” do roteirista e diretor Peter Sullivan que nos introduz Jennifer, que busca se recuperar de um trauma sofrido em um acidente. Desmemoriada, a jovem tem o auxílio de seu marido Russell na tentativa de retomada à vida e das lembranças que lhe escapam. Porém, Jennifer percebe o perigo em que se encontra ao retornar para uma vida que não se recorda de nada.

Bem na cara, não? Se o título do filme não era o suficiente para levantar a suspeita, a sinopse faz a função. Na dúvida ainda? Não se preocupe, no quinto minuto você vai sacar. Ainda hesitante? Relaxe! Com pouco mais de meia hora, você vai ter certeza absoluta. Viu? Mais fácil que tabuada da segunda série do primário.

Escolher quais são os problemas principais de Obsessão Secreta da Netflix é das tarefas mais hercúleas que pode haver. Assim, mais fácil enumerar tais embaraços um a um para compreender porque o trabalho de Peter Sullivan é tão inerte e esquecível.

O roteiro escrito por Sullivan com a “ajuda” de Kraig Wenman além de entregar tudo de bandeja ao assinante Netflix, não conseguiu imbuir qualquer nuance ou traço marcante para seus personagens. Qualquer um deles! Da mocinha ao marido, e até o detetive ainda em luto pelo desaparecimento de sua filha. Tudo muito clichê e superficial como aparenta ser. O tempo todo!

Para esclarecer melhor, fica mais prático estabelecer comparativos com outros dois filmes – um, de 1990 e outro, lançado nos cinemas brasileiros neste ano – que também compartilham de uma palavra do título Obsessão Secreta, são estes: Louca Obsessão de Rob Reiner, e Obsessão de Neil Jordan.

O longa de Peter Sullivan pisa no mesmo terreno destes dois, e é claro, falha por todas as tangentes, principalmente, se comparado ao muito competente filme de Reiner. Mas honestamente, seria até aceitável se dar por satisfeito se a produção original da Netflix tivesse conseguido chegar ao mesmo nível do irregular longa de Neil Jordan, que também não alcança voos mais altos, contudo, tem um grau degradê debochado que pinça algumas sensações – mesmo cômicas – do espectador. Algo inexistente na obra de Sullivan.

O diretor de currículo extenso – ainda mais para quem se encontra na casa dos quarenta anos de idade – é o típico exemplo daqueles funcionários de encomenda, ou seja, entrega o mínimo visando quantidade mais que qualidade. É possível definir o ofício de Sullivan em Obsessão Secreta como algo muito preguiçoso. Tudo bem protocolar, incluindo a cinematografia de Eitan Almagor, que apenas se deu o trabalho de tentar capturar as expressões dos atores do elenco.

Pena que estas expressões não possuem variação de tom algum, especialmente, Mike Vogel. O ator que já fez parte de alguns projetos relevantes, seja TV ou cinema, como Histórias Cruzadas, Cloverfield – Monstro e Bates Motel não foi capaz aqui de transmitir absolutamente nada através de seu personagem. Uma performance insossa e frouxa demais, anos-luz da assustadora e ameaçadora Kathy Bates, ou mesmo da zombaria de Isabelle Huppert dos filmes citados anteriormente.

Obsessão Secreta é mais um material de qualidade baixa produzido pela Netflix, que já conseguiu entregar coisas melhores, definitivamente. Talvez, o que falte para a provedora mundial via streaming seja fazer uma curadoria mais meticulosa do tipo de material que mira entregar ao assinante.

Lógico que nem todos podem ser como Alfonso Cuarón, mas precisamos de tantos como Peter Sullivan, assim?

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